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Chang não será responsabilizado em Moçambique por crimes julgados nos EUA

O Procurador-Geral da República disse, hoje, que Manuel Chang não poderá ser julgado em Moçambique, pelos mesmos crimes já julgados nos EUA. Américo Letela explicou ainda que o julgamento do  antigo ministro das Finanças não trouxe nenhum benefício a Moçambique, tanto pela pena aplicada, como pelo ressarcimento ao Estado. “Como se pode constatar, a pena que lhe foi aplicada é

Os advogados de Jean Boustani apresentaram em Nova Iorque, no julgamento sobre as dívidas ocultas, provas de que o Banco de Moçambique tinha conhecimento do escândalo financeiro. Facto que contraria o antigo governador, Ernesto Gove, que dizia desconhecer.

O libanês Jean Boustani, antigo responsável de vendas da construtora naval Privinvest, suspeito de montar o esquema de corrupção de venda de navios a preços inflaccionados a MAM, ProIndicus, e EMATUM, é um dos arguidos do caso dívidas ocultas a ser ouvido em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. 

No julgamento que decorre no tribunal de Broklyn, os advogados de Boustani apresentaram documentos que demonstram o envolvimento do Banco de Moçambique. A defesa de Boustani usou as cartas de autorização de empréstimo do Banco Central, para defender o arguido, com alegacões de que foi tudo legal, uma vez que o Banco autorizou os empréstimos para as dívidas, conforme exigia o Credit Suisse, que concedeu o crédito.  

E conforme as duas cartas, tidas como confidenciais, uma é dirigida ao Director Executivo da Proindicus, Eugénio Matlaba, com o seguinte conteúdo:
“Serve a presente para acusar a recepção, da carta de V. Exas, solicitando a aprovação da contratação de empréstimo externo, junto do Credit Suisse, no valor de USD 372. 000, 000, 00 a qual mereceu a nossa atenção. 

Relativamente ao assunto versado, cumpre-nos informar a V.Exas, que o Banco de Moçambique autoriza a contratação do financiamento (…)” Lê-se no documento.

Igualmente, em outra carta separada, dirigida a Henrique Gamito, administrador delegado da EMATUM, nos mesmos moldes, o Banco de Moçambique autoriza a contratação da divida da EMATUM, no valor de 850 milhões de dólares.

As duas cartas foram assinadas por Silvina António de Abreu, empossada em Setembro último ao cargo de administradora do Banco de Moçambique, que na altura em que foram contraídas as dívidas ocupava o cargo de directora.

A confirmação do envolvimento do Banco Central nas dívidas ocultas, em sede do tribunal em Nova Iorque, contrariam os pronunciamentos do então Governador Ernesto Gove, que em 2016 teria dito ao “O País” não ter conhecimento do escândalo financeiro.

No julgamento que decorre em Nova Iorque, a defesa de Jean Boustani já usou também o facto de o Governo estar a reestruturar a dívida da EMATUM, como uma das alegacões para defender que não houve conspiração para defraudar os investidores que compraram os títulos de crédito da EMATUM.

 

Ano e meio depois da PGR ter pedido ao Tribunal Administrativo a responsabilização financeira dos gestores públicos e das empresas do Estado implicados nas dívidas ocultas, Machatine Munguambe garante que em breve já haverá novidades no processo.

Segundo o Presidente do órgão, Machatine Munguambe, já foram recolhidos dados suficientes para que os processos possam ser acusados.

Munguambe diz que a aparente lentidão que o processo teve no tribunal que dirige, foi por uma questão de prudência necessária.

Apesar de avanços que o processo registou ao nível da PGR e do Tribunal Supremo, Munguambe garante que estes factos não irão influenciar nas decisões do seu sector.

Refira-se que, segundo a PGR, que se baseou no relatório de Auditoria realizada pela Kroll foram detectados "vários factos susceptíveis de consubstanciar infracções financeiras" tendo por isso, solicitado a responsabilização por parte do Tribunal Administrativo.

O Presidente da República, Filipe Nyusi, chegou na manhã de hoje a Sóchi na Rússia para participar da cimeira Rússia-África que se realiza na quarta-ta e quinta-feira naquela cidade. À sua chegada reuniu-se com a sua delegação mas também com executivos de três empresas russas. Uma delas é o banco russo VTB um dos co-financiadores das chamadas dívidas ocultas.

O encontro com o Presidente do Conselho de Administração daquele banco, Andrey Kostin, aconteceu no início da noite. No final do encontro, o banqueiro falou à imprensa moçambicana que acompanha a visita de Nyusi a Rússia e negou ter dado qualquer ultimato ao Governo de Moçambique sobre as dívidas ocultas cujo respectivo pagamento está suspenso. Essa informação foi posta a circular em Agosto por alguma imprensa nacional e estrangeira, mas Kostin diz ser falsa “nunca podemos dar um ultimato ao nosso amigo que é o Governo de Moçambique, não há como, não há como. De facto, tivemos uma boa discussão, não há nenhum ultimato de ambas partes, estamos disponíveis para cooperar e a ideia é trabalhar juntos e nunca dar ultimatos” esclareceu.

Em relação ao encontro disse que era sobre o futuro e não muito sobre o passado. O VTB quer entrar no mercado moçambicano e financiar alguns projectos estruturantes em parceria com outras empresas russas e por isso foi pedir apoio do Governo. “Pedi ao Presidente para nos ajudar e o Governo pode nos dar algumas sugestões de oportunidades, particularmente nas áreas da indústria de gás, indústria do carvão mineral, LNG, agricultura entre outras, que podemos investir conjuntamente com empresas russas. Combinamos que devemos visitar Moçambique antes do final do ano para continuarmos a discutir estas matérias com o Governo de Moçambique. Também falamos sobre a questão das dívidas e decidimos que vamos continuar a discutir esta matéria tentando buscar a melhor solução para isto” disse Kostin.

Filipe Nyusi reuniu-se ainda com o director geral da empresa Rosoboronexport e mais tarde com o PCA da Urakali. Todas empresas russas com interesse em investir em Moçambique. No final do encontro com a Urakali falou à impresa russa sobre a sua expectativa em relação à cimeira que amanhã inicia em Sóchi “esta é uma oportunidade para nós vendermos a imagem de Moçambique aqui na Rússia e aproveitarmos a plataforma para juntamente com outros países africanos encontrarmos mais oportunidades, agora por exemplo, acabamos de ter um encontro com a empresa de fertilizantes é extremamente importante isso porque significa que a nossa grande prioridade que é a agricultura pode ser alavancada. E durante a nossa presença aqui vamos nos encontrar com mais empresas com o objectivo de alavancar a nossa economia na base de mútuas vantagens entre Moçambique e a Rússia” disse o Governante.

Nesta missão, Filipe Nyusi faz-se acompanhar por 12 empresários liderados pelo Presidente da CTA, Agostinho Vuma. Os mesmos deverão participar no fórum de negócios Rússia-África que vai reunir empresários daquele país e africanos. Os empresários que integram a missão são os que já estão em contacto com a sua contraparte russo desde a visita de Estado de Filipe Nyusi realizada em Agosto, segundo deu a conhecer o presidente da CTA.

 

Dezoito dias depois de terminar a instrução contraditória, o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo decidiu pronunciar todos os réus do processo que investiga as dívidas ocultas desde 2015.

Com o despacho de pronúncia, a juíza da causa, Evandra Uamusse, entende que a acusação do Ministério Público tem matéria e fundamentos suficientes para submeter os 20 réus a julgamento.

Entretanto, a defesa dos réus pode contestar a decisão da juíza da causa, apresentando uma reclamação ao Tribunal Superior de Recurso.

No despacho de pronúncia, Evandra Uamusse aplicou a prisão preventiva aos nove réus que ainda estavam em liberdade e ordenou a sua captura.

Entretanto, e ao contrário do que “O País” avançou ontem, as autoridades ainda não conseguiram capturar dois réus, nomeadamente Mbanda Anabela Buque Henning (irmão da co-réu Ângela Leão) e Zulficar Ali Ismail Ahmad, que se encontram em parte incerta. Os sete réus detidos na segunda-feira (Renato Matusse, Cipriano Mutota, Crimildo Manjate, Khessaujee Pulchand, Simião Mahumane, Naimo Quimbine e Márcia de Caifaz Namburete) juntam-se aos outros 10 que se encontram em prisão preventiva desde o primeiro trimestre do ano. Trata-se de Armando Ndambi Guebuza (primogénito do antigo Estadista Armando Guebuza), Gregório Leão (antigo director-geral dos serviços secretos – SISE), Ângela Leão (esposa de Gregório Leão), António Carlos do Rosário (oficial do SISE), Inês Moiane (antiga secretária particular do então Presidente da República, Armando Guebuza), Sérgio Namburete (esposo da co-réu Márcia de Caifaz Namburete), Teófilo Nhangumele, Bruno Langa, Fabião Mabunda e Sidónio Sitoe.

Elias Moiane, sobrinho da Inês Moiane, é o único réu que aguarda o julgamento em liberdade, após ter sido solto em Fevereiro mediante pagamento de caução.

"O País" apurou que os 20 réus vão responder por crimes de chantagem, corrupção passiva para acto ilícito, peculato, associação para delinquir, abuso de cargo ou função, violação de regras de gestão, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e uso de documentos falsos.

Na acusação provisória de Março, o Ministério Público fez a distribuição dos crimes e dos valores que cada envolvido terá recebido da seguinte maneira:

TEÓFILO NHANGUMELE, 50 anos. Recebeu: USD 8.5 milhões. É acusado de Crime de Chantagem; (Quatro) Crimes de Falsificação de Outros Documentos; Crime de Uso de Documento Falso; Crime de Abuso de Confiança; Crime de Associação para Delinquir; Corrupção Passiva para Acto Ilícito e Crime de Branqueamento de Capitais.

BRUNO LANGA, 41 anos. Recebeu: USD 8.5 milhões. É acusado de Crime de Chantagem; (Quatro) Crimes de Falsificação de Outros Documentos; Crime de Uso de Documento Falso; Crime de Abuso de Confiança; Crime de Posse de Armas Proibidas; Crime de Associação para Delinquir; Corrupção Passiva para Acto Ilícito e Crime de Branqueamento de Capitais.

CIPRIANO MUTOTA, 61 anos, oficial do SISE.Recebeu: USD 980 mil. É acusado de Crime de Abuso de Confiança; Crime de Branqueamento de Capitais; Corrupção Passiva para Acto Ilícito e Crime de Associação para Delinquir.

ARMANDO NDAMBI GUEBUZA, 42 anos, filho do antigo Presidente da República, Armando Guebuza. Recebeu: USD 33 milhões. É acusado de Crime de Chantagem; (Quatro) Crimes de Falsificação de Outros Documentos; Crime de Uso de Documento Falso; Crime de Abuso de Confiança; Crime de Associação para Delinquir; Corrupção Passiva para Acto Ilícito e Crime de Branqueamento de Capitais.

GREGÓRIO LEÃO, 60 anos, antigo director-geral do SISE. Recebeu: USD 9 milhões. É acusado de Crime de Abuso de Cargo ou Função; Crime de Peculato; Crime de Associação para Delinquir; Corrupção Passiva para Acto Ilícito; Crime de Falsificação de Outros Documentos; Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

ANGÊLA LEÃO (esposa de Gregório Leão), 41 anos.
Gestora e beneficiária do suborno (USD 9 milhões) transferido para Gregório Leão. É acusada de Crime de Falsificação de Documentos; Crime de Abuso de Confiança; Crime de Associação para Delinquir e Crime de Branqueamento de Capitais.

ANTÓNIO CARLOS DO ROSÁRIO, 44 anos, oficial do SISE. Recebeu: USD 249.972. É acusado de Crime de Abuso de Cargo ou Função; Corrupção Activa para Acto Ilícito; Crime de Associação para Delinquir e Crime de Branqueamento de Capitais.

FABIÃO MABUNDA, 40 anos, técnico de construção civil.
Recebeu: 17.528.593 Meticais. É acusado de Crime de Falsificação de Documentos; Crime de Abuso de Confiança; Crime de Associação para Delinquir e Crime de Branqueamento de Capitais.

SIDÓNIO SITOE, 47 anos. Recebia dinheiro da família Leão e simulava compra de casas e mais tarde devolvia o dinheiro. É acusado de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

CRIMILDO MANJATE, 38 anos. Recebeu: 3.750.000 Meticais. É acusado de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

MBANDA HENNING (irmão da Ângela Leão), 43 anos. Recebeu: 12.865.000 Meticais. É acusado de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

KHESSAUJEE PULCHAND, 37 anos. Recebeu: 13.480.000 Meticais. É acusado de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

SIMIONE MAHUMANE, 46 anos. Recebeu: 872.500 Meticais. É acusado de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

NAIMO QUIMBINE, 39 anos. Recebeu: 5.682.907 Meticais. É acusado de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

SÉRGIO NAMBURETE, 58 anos. Recebeu: 87.500 Euros. É acusado de Crime de Falsificação de Outros Documentos; Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

MÁRCIA NAMBURETE (esposa de Sérgio Namburete), 47 anos.Recebeu: 50 mil Euros. É acusada de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

INÊS MOIANE, 50 anos, secretária particular do antigo Presidente da República, Armando Guebuza). Recebeu: 877.500 Euros É acusada de Crime de Corrupção Passiva para Acto Ilícito; Falsificação de Documentos; Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

ELIAS MOIANE (irmão de Inês Moiane), 41 anos. Representou a irmã Inês Moiane na compra de casas.
É acusado de Crime de Associação para Delinquir, Crime de Falsificação de Documentos e Crime de Branqueamento de Capitais.

RENATO MATUSSE, 61 anos. Recebeu USD 02 Milhões.
É acusado de Corrupção para Acto Ilícito; Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

ZULFICAR AHMAD, 46 anos. Recebeu USD 100 Mil.
É acusado de Crime de Abuso de Confiança e Crime De Branqueamento de Capitais.

 

Na segunda leva, ninguém escapou e foram todos às celas. Num único dia, foram detidos nove arguidos que tinham ficado de fora nas detenções do primeiro trimestre. Da lista, avulta o nome de Renato Matusse, ele que foi o assessor político do então Presidente da República, Armando Guebuza.

Além de Matusse, o tribunal judicial da cidade de Maputo ordenou a detenção de Zulficar Ali Ahmad, Cipriano Mutota, Crimildo Manjate, Mbanda Anabela Henning, Khessaujee Pulchand, Simião Mahumane, Naimo Quimbine e Márcia de Caifaz Namburete.

O grupo dos nove detidos esta segunda-feira junta-se aos outros 10 arguidos que estão em prisão preventiva desde o primeiro trimestre do ano.

As detenções ocorrem 10 dias depois de o Ministério Público ter submetido a acusação definitiva ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo. Neste momento, aguarda-se pelo despacho da juíza da causa, Evandra Uamusse, que vai anunciar quem vai a julgamento.

Na acusação provisória de Março, o Ministério Público imputava a cada arguido detido esta segunda-feira os seguintes crimes:

Renato Matusse, 61 anos. Recebeu USD 02 Milhões. É acusado de quatro crimes: Corrupção para Acto Ilícito; Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

Cipriano Mutota, 61 anos, oficial do SISE. Recebeu: USD 980 mil. É acusado de quatro crimes: Crime de Abuso de Confiança; Crime de Branqueamento de Capitais; Corrupção Passiva para Acto Ilícito e Crime de Associação para Delinquir.

Crimildo Manjate, 38 anos. Recebeu: 3.750.000 Meticais. É acusado de três crimes: Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

Mbanda Henning, 43 anos. Recebeu: 12.865.000 Meticais. É acusado de três crimes: Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

Zulficar Ahmad, 46 anos. Recebeu USD 100 Mil. É acusado de dois crimes: Crime de Abuso de Confiança e Crime De Branqueamento de Capitais.

Naimo Quimbine, 39 anos. Recebeu: 5.682.907 Meticais.
É acusado de três crimes: Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

Márcia Caifaz Namburete, 47 anos. Recebeu: 50 mil Euros
É acusada de três crimes: Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

Simione Mahumane, 46 anos. Recebeu: 872.500 Meticais.
É acusado de três crimes: Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

Khessaujee Pulchand, 37 anos. Recebeu: 13.480.000 Meticais.
É acusado de três crimes: Crime de Associação para Delinquir, Crime de Abuso de Confiança e Crime de Branqueamento de Capitais.

Entretanto, a acusação definitiva do Ministério Público pode ter sofrido alterações na sequência das diligências no âmbito da instrução contraditória.
 
    

 

A Privinvest desvaloriza a confissão feita pelo antigo director-geral do Crédit Suísse, Andrew Pearse, nos Estados Unidos, segundo a qual recebeu milhões de dólares para facilitar empréstimos a empresas moçambicanos envolvidas nas dívidas ocultas. A construtora naval diz que as declarações são infundadas e resultam de vários meses de pressão.

O diretor executivo da companhia naval Privinvest, Iskander Safa, acusou o antigo diretor do banco Credit Suisse envolvido na negociação dos empréstimos a empresas públicas moçambicanas de mentir ao tribunal no caso das dívidas ocultas.

"Andrew Pearse sugeriu no seu depoimento que teve um papel muito além do seu verdadeiro nível de influência no Credit Suisse", disse um porta-voz do construtor naval libanês, em declarações à agência de informação financeira Bloomberg.

"As alegações de Pearse contra a Privinvest e contra Safa são completamente infundadas" e foram obtidas depois de vários meses de pressão, o que diminui o seu valor enquanto prova credível”, acrescentou o porta-voz do antigo banqueiro.

Na declaração ao tribunal em Julho, Andrew Pearse, um dos três banqueiros do Credit Suisse detidos no âmbito das investigações norte-americanas ao escândalo das dívidas ocultas contraídas por empresas moçambicanas no valor de 2,2 mil milhões de dólares, disse que o diretor executivo da Privinvest estava ao corrente dos milhões de dólares pagos em subornos a vários moçambicanos, entre os quais o antigo ministro das Finanças Manuel Chang.
Em julho, lembre-se, a Procuradoria-Geral da República de Moçambique interpôs um processo num tribunal de Londres contra a Privinvest e contra o seu diretor executivo, Iskander Safa no seguimento das declarações de Pearse, que saiu do banco suíço em 2013 e foi trabalhar para uma unidade da Privinvest.

As declarações do responsável da Privinvest são um dos mais recentes capítulos do processo das dívidas ocultas, que já levou à detenção do antigo ministro das Finanças Manuel Chang e de um dos filhos do antigo Presidente Armando Guebuza, para além de três banqueiros do Credit Suisse e vários responsáveis governamentais moçambicanos.

Na investigação, a Justiça norte-americana acusa membros do Governo de Armando Guebuza, a Privinvest e três ex-banqueiros do Credit Suisse de terem criado um falso projeto de defesa marítima para receberem mais de 200 milhões de dólares em subornos para si próprios em acordos assinados em 2013 e 2014.

Dívidas ocultas, Privinvest, Confissão, Crédit Suísse

 

O Ministério Público (MP) submeteu hoje ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo a acusação definitiva contra os 20 arguidos envolvidos no polémico caso das dívidas contraídas com garantias do Estado pelas empresas ProIndicus, MAM e EMATUM.

A acusação definitiva segue para o tribunal judicial da capital seis dias (incluindo sábado e domingo) depois do término da instrução contraditória dirigida pela juíza da causa, Evandra Uamusse. A instrução contraditória fora requerida pela defesa e pelo próprio Ministério Público, depois de ter remetido a acusação provisória ao tribunal, no dia 22 de Março deste ano.

Depois de ter sido notificada pela sexta secção criminal tribunal judicial da capital do término da instrução contraditória, o Ministério Público deduziu a acusação definitiva com as modificações decorrentes da prova reunida no processo durante os últimos quatro meses.

E uma delas tem que ver com o crime de violação das regras de gestão que não constava da acusação provisória deduzida em Março. Assim, os arguidos das chamadas dívidas ocultas são acusados de crimes de associação para delinquir, de chantagem, de corrupção passiva, de peculato, de abuso de cargo ou função, de violação de regras de gestão, de falsificação de documentos, de uso de documentos falsos, de posse de armas proibidas e de branqueamento de capitais.

No processo 18/2019-C são acusados 20 arguidos, dos quais 10 estão em prisão preventiva, nove estão em liberdade e um em liberdade provisória mediante caução.

Entre os arguidos detidos, consta Armando Ndambi e Inês Moiane, respectivamente filho e secretária executiva do antigo Estadista Armando Guebuza, Gregório Leão, antigo director-geral do Serviço de Informação e Segurança de Estado (SISE), António Carlos do Rosário, oficial dos serviços secretos e antigo PCA da ProIndicus, MAM e EMATUM.

Em Março, o Ministério Público informou que tinha apreendido bens adquiridos com dinheiro que acredita ser proveniente das dívidas ocultas, nomeadamente 15 imóveis, seis viaturas, uma máquina pesada de construção civil e mandou congelar 31 contas bancárias.

O comunicado da PGR desta quinta-feira não actualiza a lista de apreensões que terão sido feitas durante as diligências ecfetuadas no âmbito da instrução contraditória.

Com a remessa da acusação definitiva, o tribunal tem aproximadamente três semanas para proferir um despacho de pronúncia ou de não pronúncia, que equivale a acusar ou não acusar os arguidos para os levar ao julgamento.

Assim, os arguidos aguardam pelo despacho da juíza da causa para saber da sua “sorte” neste processo.

 

Moçambique está a processar o franco-libanês Iskandar Safa, proprietário da Privinvest, o grupo empresarial envolvido nas dívidas ocultas.

A acção de responsabilidade civil foi apresentada na quinta-feira no tribunal comercial da Suprema Corte de Justiça de Londres pelo Peters & Peters Solicitors LLP, o escritório contratado pelo governo para o caso.

Moçambique está a processar Iskandar Safa por fraude, uma infracção que terá cometido no negócio fraudulento em que a Privinvest aparece como fornecedora de bens e serviços às empresas moçambicanas ProIndicus, EMATUM e MAM.

Bilionário de origem franco libanês, Iskandar Safa é director executivo e fundador da Privinvest, um grupo empresarial que inclui uma construtora naval baseada nos Emirados Árabes Unidos.

A acção contra Iskandar Safa segue-se a uma outra aberta em Fevereiro deste na capital do Reino Unido, na qual o Estado moçambicano pede indeminização a oito entidades empresariais ligadas ao Privinvest e ao Credit Suisse, o banco credor das chamadas dívidas ocultas.

Além de empresas, a acção movida pela Procuradoria-geral da República visa também os antigos dirigentes do grupo Credit Suisse envolvidos nas dívidas ocultas, nomeadamente Surjan Singh, Detelina Subeva e Andrew Pearse. Estes dois últimos já confessaram perante a justiça dos Estados Unidos da América terem recebido subornos para aprovar os empréstimos das empresas moçambicanas.

 

O antigo Presidente da República, Armando Guebuza diz haver muito boato e muita poeira com objectivos obscuros em torno do processo das chamadas dívidas ocultas. Armando Guebuza espera que a justiça seja feita sem interferências.

“Eu penso que os tribunais são melhor local para haver um pronunciamento sobre isso. Há muito boato, há muita poeira nisto tudo, mas muita poeira. Há alguma poeira que surge espontaneamente e outra que é mesmo provocada com objectivos escusos mas eu acredito que a justiça é aquela que deve ser feita e vamos deixar a justiça ser feita, sem interferências de nós que temos consciência da importância de uma solução correcta deste assunto”, disse Guebuza.

Sobre o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), dos homens residuais da Renamo Guebuza diz que não devem ser desvalorizados os pronunciamentos da chamada junta militar da Renamo. O ex-chefe de estado acredita igualmente que haverá entendimento entre o Governo e a Renamo.

 “Eu tenho confiança de que as negociações em curso que tem o nosso governo como protagonista e a Renamo vão ser bem sucedidas. Não é por acaso que nascem esses espinhos e estes conflitos. Receia-se um bom resultado que certamente vai ser aclamado. Não digo isto para ser ignorado mas faz parte e um processo negocial e há momentos de perturbação mas esta perturbação não pode impedir que o povo moçambicano alcance definitivamente a paz que tanto merece”, frisou o ex-chefe do Estado.

 

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