O País – A verdade como notícia

Devemos desmantelar as instituições que oprimem as mulheres, diz Graça Machel

Foto: O País

Graça Machel diz que é preciso desmantelar as organizações que oprimem as mulheres, com o objectivo de limitar o seu desenvolvimento. Para a activista social, é preciso mudar a mentalidade das pessoas no que diz respeito à valorização da mulher.

Graça Machel e Milagre Nuvunga, duas mulheres de intervenção social, sentaram-se lado a lado, esta segunda-feira, em Maputo, para debater sobre as barreiras que a mulher enfrenta para o seu desenvolvimento, numa plateia maioritariamente composta por mulheres que bem conhecem os seus desafios.

Foi por isso que Maria, participante no evento, rematou, da plateia, que o sofrimento de muitas mulheres é visto por muitos, até por aqueles que deveriam defendê-las.

“E as outras que sofrem, que irão sofrer este mesmo assunto, este mesmo problema, como é que elas se vão sentir se viram uma mulher a não ser protegida pela lei? Viram uma mulher a ser tirada do sítio de trabalho onde ela recebia o salário para voltar a ser castigada por um lar onde foi mandada embora? A lei não a protegeu”, desabafou Maria.

Logo a seguir, interveio a engenheira ambiental Milagre Nuvunga, como oradora principal. Ela considera que a primeira acção, acima de todas, deve ser do Governo, na aplicação das tantas leis existentes, planos quinquenais ou até mesmo protocolos de que o país é signatário.

“Moçambique tem muitas e belas leis. Então, fica aqui o meu apelo. Façamos valer esta conquista, que é nossa. Passemos do desenho à implementação. As leis existem. Se elas fossem cumpridas, não estaríamos onde estamos. As mulheres não estariam onde estão.”

E apela para o envolvimento de todos na protecção da mulher.

“Podemos dizer que, em Moçambique, acções de desenvolvimento ocorrem em quase todo o país. Contudo, mesmo onde os investimentos acontecem, eles nunca abrangem todos por igual. Por isso, é importante que todos os agentes económicos do Governo, sector privado, sociedade civil, etc., garantam que os investimentos sejam realmente inclusivos. Não nos baseamos somente em números, mas na qualidade do engajamento na agência adquirida”, disse.

Mas para a activista social, Graça Machel, é preciso combater quem combate às mulheres e isso deve começar das organizações que lidam com estes temas.
“Eu quero dizer que, no nosso trabalho, nós devemos também colocar seriamente o desmantelamento das instituições que oprimem mulheres e também trabalhar as mentes dos homens para aceitarem andar lado a lado num espaço igual com as mulheres.”

Sobre a transformação de mentes, Graça Machel citou um caso em que um determinado homem tinha várias mulheres e nenhuma tinha direitos respeitados, sendo ele instruído, com nível de licenciatura, por isso esclareceu que as mentalidades não mudam apenas porque uma pessoa tem instrução de nível superior.

“Não. As mentalidades têm de mudar em todos nós, no campo, na cidade, em vários níveis onde nós estamos. É uma luta de longo prazo, mas a questão do patriarcado tem que estar sempre associada. Nós fazemos acções transformativas da vida das mulheres, porque é daí onde vem a evidência de que as mulheres não só têm a mesma dignidade humana, têm as mesmas capacidades de realização, têm as mesmas capacidades transformativas até.”

Mas, para isso, há barreiras que precisam de ser removidas, conhecidas, propositais ou não.

“Pode ser que as estruturas não sejam adequadas, pode ser que a mentalidade das pessoas ainda não permite valorizar o lugar da mulher na promoção e desenvolvimento dos diversos sectores. Podem ser também obstáculos de nível social, as normas sociais. Então, não estamos a querer necessariamente dizer que alguém está a oprimir outro. Queremos dizer que há obstáculos estruturais de sistemas, de mentalidades e até mesmo daquilo que se chamam as nossas normas e as nossas tradições.”

A segunda edição da conferência mulheres na economia visava reflectir sobre as acções necessárias para acelerar as transformações políticas, sociais e culturais para uma sociedade justa e igualitária.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos