Dos vários artigos que se tem destacado sobre o descalabro dos Mambas, em vários órgãos de comunicação social e até nas redes sociais, há que destacar as declarações do seleccionador nacional da Guiné-Bissau, Baciro Candé, no final do encontro que ditou o afastamento dos Mambas da fase final do Campeonato Africano das Nações, CAN-2019. O seleccionador dos Djurtus diz que a sua equipa de tudo fez para que os Mambas se qualificassem, sem no entanto deixar claro que houve facilidades para que Moçambique vencesse o jogo. Aliás, nem foi preciso parecer que os guineenses facilitaram a vitória dos Mambas. Isso porque a avalanche ofensiva dos Mambas podia ter permitido que mais golos tivessem entrado, para além dos dois que foram marcados por Ratifo e Nelson. Os Mambas falharam que se fartaram nesse jogo e comparado com as oportunidades da Guiné-Bissau, que teve apenas três, sendo duas que deram em golo e aquela em que Leonel foi superior ao seu adversário ao desviar a bola, quando já se gritava golo, devia ter saído a golear.
Facto mesmo é que no jogo da Guiné-Bissau Deus não quis, realmente, que as duas selecções se qualificassem ao CAN-2019. Há que concordar com as declarações de Baciro Candé, na medida em que muito de estranho e extraordinário aconteceu no Estádio 24 de Setembro, em Bissau.
Recordando os últimos 20 minutos do jogo
Quando se jogava o minuto 75 do jogo, houve um grito de alegria no estádio, porque a Zâmbia já vencia por 3-0 a Namíbia, e acontecesse o que acontecesse no Guiné-Bissau vs Moçambique, os guineenses já estavam (completamente) no CAN-2019. Nessa altura um guineense foi ao banco técnico informar a Baciro Candé do resultado de Lusaka. Nessa altura, com o resultado ainda em 1-1, Candé deu ordens para abrandar o jogo dos anfitriões, facto que foi consentido pelos seus. Os Mambas tinham que puxar dos galões para reverter o cenário a seu favor. Bom grado que Nelson tenha entrado e depois de ameaçar tenha marcado mesmo (quanta facilidade na área da Guiné), colocando a selecção de Moçambique no CAN.
Adeptos das duas selecções, lado a lado, festejavam a qualificação dos dois. Na tribuna, o Primeiro-ministro da Guiné-Bissau e a Vice-Ministra da Juventude e Desportos de Moçambique, também festejavam a qualificação dos dois.
Chegou o minuto 90 e o quarto árbitro levantou quatro minutos de compensação. Ai sim, era o martírio dos moçambicanos!
Ao minuto 92 Witi comete falta (desnecessária) contra um adversário. Com a interrupção do jogo, Leonel cai e pede assistência. A razão do pedido de assistência naquele momento não foi clara, uma vez que não houve nenhum toque nos lances imediatamente anteriores a essa hora para que parasse o jogo.
E veja o aconteceu: a selecção da Guiné-Bissau se reorganizou na área moçambicana enquanto esperava a recuperação de Leonel e a autorização para a reposição da bola. Nessa altura, os moçambicanos estavam mais concentrados no apito final do árbitro e esqueceram-se dos posicionamentos na defesa. A bola é bombeada para a área, Jeitoso ajeita a bola para o poste, Leonel se estica e não chega a bola, esta sobra para um guineense, que sozinho nada podia fazer senão desviar para o golo. Aliás, se falhasse aquele lance, levantaria, de certeza, suspeitas de combinação de resultados. Era a “morte do artista” em campo. Deus permitiu o golo dos Djurtus. Se não fosse Mendy a marcar o golo do empate, certamente um moçambicano teria feito auto-golo, para desagrado de todos nós.
Logo a seguir, os Mambas beneficiam de um livre, à entrada do meio campo contrário. Todos jogadores vão a área de Jonas. Mas, como Deus não queria que as duas selecções fossem juntas ao Egipto, o livre foi muito mal cobrado. Ao invés de levantar a bola para a área e esperar por uma confusão qualquer e, quem sabe, um golo surpresa ou uma grande penalidade, a livre foi rasteiro e direitinho para um adversário que inicia um contra-ataque que dá no terceiro golo dos guineenses. Mas o assistente levantou a bandeirola e foi marcado o fora-de-jogo (ainda tenho dúvidas se houve ou não), que evita a derrota, ficando-se pelo empate.
O que devia ter acontecido?
Quando Witi comete falta contra seu adversário, era necessário deixar que a marcação fosse rápida. Isso faria com que o livre fosse cobrado de forma curta e aí não haveria possibilidade da bola ser bombeada para a área. Não permitiria que os jogadores se reposicionassem dentro da área. E num toque curto permitiria que a defesa subisse e deixasse os jogadores Djurtus em posição irregular. Para dizer: basta de queimar tempo quando se está em vantagem e já nos minutos finais. Não ajuda em nada à nossa selecção.
Aliás, este jogo foi cópia da primeira volta entre estas duas selecções, em Maputo. Quando há lançamento na direita do ataque dos Djurtus, Witi cai e pede assistência. Permitiu que os guineenses se reorganizassem na área dos Mambas e aquele lançamento foi fatal. Se não tivesse havido paragem, o lançamento seria, certamente, mais curto e com possibilidade de uma defesa a tempo. São erros de concentração que se pagam caro em momentos decisivos.
QUALIFICAÇÃO NÃO FOI PERDIDA EM BISSAU
Fazendo as contas da (des)qualificação dos Mambas ao CAN-2019, há que realçar que a mesma não foi perdida em Bissau, como muitos pensam que aconteceu.
Afinal, depois da vitória em Ndola, diante da Zâmbia, estava tudo encaminhado para uma qualificação (quase que) folgada, mesmo na fase de 16 selecções, uma vez que se contavam mais duas vitórias caseiras, diante da Guiné-Bissau (algo que até aconteceu), e contra a Namíbia, para depois esperar por um empate diante da Zâmbia, em casa, o que faria com que, pelo menos, tivéssemos 10 pontos. Suficientes para a qualificação.
Veio a segunda jornada e empatamos de forma escandalosa com a Guiné-Bissau num jogo em que ficou a ideia de “pacto de não agressão entre irmãos”. Até ai ainda estávamos a liderar e com possibilidade de continuarmos firmes no comando, desde que vencêssemos a Namíbia, o out side do grupo (tal como a Guiné-Bissau que vinha com alguma inexperiência de jogos do CAN, apesar de estar a vir do último). A derrota no Zimpeto foi a gota que transbordou o mar moçambicano. Difícil de engolir! Afinal o golo da vitória dos namibianos foi cópia do segundo dos Djurtus, em tempo de compensação. Mas havia ainda a possibilidade de nos redimirmos em Windhoek. Falso! Voltamos a perder. Não só o jogo, como a liderança, mandada para a Namíbia, às nossas custas. Foi, claramente, nesse jogo que perdemos a qualificação. Perdemos a nossa qualificação e oferecemos a Namíbia.
A vitória diante da Zâmbia, em Maputo, foi apenas um bónus para dar esperança a um povo que sempre acredita, mesmo sabendo que a estátua de Eduardo Mondlane não se vai deslocar de onde está.
Ana Flávia Azinheira, vice-ministra da Juventude e Desportos, disse, quando consolava os jogadores, que a qualificação não foi perdida em Bissau, mas nos jogos realizados em casa, onde se esperava que tivéssemos sete pontos, no mínimo, e só conseguimos quatro. No fim, fica a sensação de fracos que eliminaram a forte Zâmbia e foram eliminados pela frágil Namíbia.
Agora é só esperar pela próxima fase de qualificação ao CAN, a começar no segundo semestre deste ano para o CHAN-2020 e depois na segunda metade de 2020, para o CAN dos Camarões, em 2021.
Chiquinho Conde perdoou Mendy por ter marcado aos Mambas
O antigo capitão da selecção nacional de futebol, os Mambas, Chiquinho Conde, agora treinador da equipa sub-23 do Vitória de Setúbal, viveu uma desilusão enorme ao ver o “seu” Moçambique ser afastado do Campeonato Africano das Nações (CAN-2019) com um golo da Guiné-Bissau, ao minuto 90+4, marcado por Mendy, avançado guineense que actua na equipa principal da formação sadina. Uma pequena traição que Chiquinho Conde não valoriza tanto quanto isso.
Segundo escreve o jornal Notícias ao Minuto, Chiquinho Conde disse ter perdoado o jogador guineense e assume que este nada mais tinha a fazer senão marcar o golo, que lhe foi dado de bandeja.
O antigo internacional moçambicano disse ainda que “são coisas do futebol e o Mendy só fez o que tinha de fazer, ajudar o seu país a ter um melhor resultado. É normal…”, numa clara alusão ao facto do jogador não ter tido outra solução naquele lance, senão fazer o que mais sabe fazer, marcar. Aliás, Mendy foi o mesmo jogador que apontou o golo de empate no jogo do Estádio Nacional do Zimpeto, no jogo da primeira volta, ou seja, na segunda jornada, num jogo que terminou, também, com 2-2.
Entretanto, o agora treinador dos sub-23 do Vitória de Setúbal, equipa que enquanto futebolística representou durante muitas épocas, diz que estar no CAN do Egipto pode ser momento importantíssimo para Mendy, uma vez que “numa grande competição, um jogador pode valorizar-se muito e certamente que esse é um dos objectivos dele. A cotação dele pode subir”.
Chiquinho Conde fala com conhecimento de causa, uma vez que disputou três edições do Campeonato Africano das Nações.
Em toda carreira de futebolística, Chiquinho Conde realizou 575 jogos, tendo marcado 125 golos. Pela selecção nacional, fez 98 jogos e marcou por 4 ocasiões. Fez grande da sua carreira em Portugal, depois de ter saído do Maxaquene em 1987.