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Deslocados das cheias já querem regressar às casas em Boane

Foto: O País

Algumas vítimas das cheias, no distrito de Boane, já querem voltar para as suas casas, alegadamente porque a água já abrandou. As autoridades dizem que ainda aguardam uma avaliação da situação chuvosa e ciclónica para uma decisão segura.

Sete dias depois das inundações em alguns bairros do distrito de Boane, na Província de Maputo, que forçaram a criação de centros de reassentamento em alguns pontos, o nível das águas já começa a baixar.

Um exemplo desse facto é a retoma da transitabilidade rodoviária, na via que liga a cidade da Matola à vila de Boane, através da Estrada Nacional Número Dois (EN2), bem como a retoma gradual de algumas indústrias locais.

Na sequência, já há pessoas que querem regressar às suas residências, independentemente das condições inexistentes, como é o caso de Tamara Alfredo, mãe de três filhos, que perdeu muitos bens, mas tem a casa intacta e já sem água.

A entrevistada diz que, como muitas famílias, tem visitado a sua residência, para zelar pelos poucos e recuperáveis bens e pensa que já há condições para regressar.

“Nós não estamos bem. Aqui posso garantir que 60% das pessoas já têm as casas livres da água e querem regressar para tentarem refazer a vida, mas impedem-nos. Não sabemos porquê”, disse.

Um desejo partilhado até por aquele que ainda tem a casa parcialmente alagada.

“Aqui estamos bem, estamos seguros, mas casa é casa. Queremos voltar. No entanto, não sabemos por onde começar, isto porque tudo foi destruído”, desabafou Ana Maria.

Nelta José, também deslocada, junto dos seus quatro filhos e marido, até quer sair, mas diz não haver condições para tal.

“Vou voltar para casa fazer o quê, porque nem material escolar das crianças tenho, muito menos algo para comer? O que vou fazer lá? Prefiro continuar aqui, para ver o que podem fazer por nós”, disse.

Saubir Nasir, gestor do centro de acolhimento da Escola Secundária Joaquim Chissano, avançou que o centro continua a gerir 1380 deslocados, dos quais 720 crianças, 470 mulheres e 190 homens, mas reconhece que nem todos mantêm a vontade de continuar no local.

“Algumas pessoas já pretendem regressar às suas residências, mas achamos que ainda não existem condições necessárias para o efeito”, disse Nasir, que acrescenta que não é fácil gerir 1300 pessoas, mas pelo esforço continuam a garantir pelo menos três refeições por dia. As questões de saúde também vão sendo geridas e estudam-se formas de promover campanhas de recuperação de documentos perdidos.

Os roubos constantes também preocupam os moradores. Mas Armando Matsinhe, gestor do centro de acomodação da Escola Primária Boane-sede, diz que tem a situação controlada.

“Temos sabido da ocorrência de roubo de mantimentos aqui no nosso centro, mas nós, através da Polícia, já recuperamos mantas e alguns produtos alimentícios. Contudo, o triste é que são os próprios moradores que mandatam os seus familiares para levarem os produtos que recebem, para depois dizerem que foram roubados e voltarem a recebê-los. Mas já estamos atentos”, explicou Matsinhe.

Como solução, o gestor diz que cada sala tem um responsável, que é instruído a proibir a saída de quaisquer produtos que tenham sido recebidos no centro, sendo que “só poderão levá-los quando houver autorização para deixarem o centro”.

Sem gravar entrevista, o Instituto Nacional de Gestão de Risco e Desastres (INGD) diz que ainda é preciso monitorizar a evolução do ciclone Freddy e seus possíveis impactos, bem como as previsões para a época chuvosa, para se decidir pela desactivação ou não dos centros de acomodação.

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