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“Desdolarização” já começou e pode ser arriscada para o mundo

Economistas dizem que o mundo vai deixar de depender do dólar para as transacções internacionais em breve, com a moeda chinesa a passar a ser opção para compras fora do país. É consenso que o processo vai levar tempo, mas o que divide opiniões é se isso é ou não bom para os países.

Já há muito que a força do dólar é contestada. A Rússia, por exemplo, passou a obrigar a que se usasse a sua moeda para compra do seu petróleo. E esta semana, a China fez a primeira transacção transfronteiriça em moeda chinesa com o Brasil. Será este o fim do dólar? “É um sinal”, responde o economista Mukhtara Abdulcarimo, que entende ser um bom momento para o mundo.

No centro desta mudança, estão o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, ou seja, BRICS. Curiosamente, os maiores parceiros económicos estão neste bloco, nomeadamente a África do Sul, a China e a Índia. É assim em vários países do mundo. A China é o maior parceiro comercial e a Índia, o maior fornecedor de medicamentos. Por isso, juntos, poderiam impor esta nova ordem.

O economista Egas Daniel diz que “uma vez que os BRICS lideram as relações comerciais do mundo, podem fazer esta pressão para que os países usem a sua moeda nessas operações”.

Os dois economistas concordam que isso é um processo que, em todo o caso, levaria muito tempo. O facto é que, como anota Muhktar Abdul Carimo, enquanto isso não se efectivasse, o comércio interncional teria duas moedas disponíveis e isso exigiria uma resposta, no sentido de escolher a moeda a ser usada para estas mesmas transacções.

“Eu acho que essa resposta teria de ser única: ou Moçambique alia-se a essa nova ordem ou fica de fora”, defende. Aqui importa recordar que, no mundo, mais de 140 países têm na China o principal parceiro comercial.

Em todo o caso, Egas Daniel chama a necessidade de cautela, porque a China não é uma economia tão confiável como os Estados Unidos, o que a torna mesmo confiável é o seu regime político, que é “autocático”, ou seja, uma pessoa só pode decidir o rumo do país inteiro.

Assim sendo, “os bancos centrais desses países não são tão independentes quanto é o FED, dos Estados Unidos, e fazer nossas reservas internacionais em moeda chinesa seria expor-nos às imprevisibilidades decorrentes da autocracia do país”, defende Egas Daniel.

Enquanto isso, Mukhtar Abdul Carimo não vê da mesma maneira, aliás, como o havíamos antes dito, ele considera bom “porque o mundo passa a ter mais opções e isso evita que o único país para o qual a balança pesa se sinta no direito de mandar nos outros”.

Para todos os efeitos, neste momento, o dólar ainda é utilizado em 84,3% das trocas comerciais a nível mundial. Porém, a participação do Yuan aumentou desde a invasão russa à Ucrânia, de menos de 2% para 4,5%.

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