O País – A verdade como notícia

Democracia moçambicana está longe da realidade senegalesa

Moçambique está muito longe de ter a oposição a governar no país, dada a não separação de poderes e despreparação dos partidos da oposição. Quem o diz é o analista político Calton Cadeado, que falava sobre a democracia no Senegal, que permitiu que a oposição ascendesse ao poder.

Há cada vez mais países africanos a serem governados por partidos da oposição nos últimos anos, como são os casos de Malawi, Zâmbia, Cabo Verde e mais recentemente o Senegal.

O docente e analista político, Calton Cadeado, explica que todo o cenário eleitoral vivenciado no Senegal durante o processo eleitoral resulta de um nível avançado de consolidação da democracia, com instituições muito bem consolidadas e independentes em relação ao poder Governo.

De acordo com o analista, falta sentido de Estado por parte dos governantes africanos, inclusive em Moçambique, onde, vezes sem conta, os partidos da oposição contestam os resultados das eleições, através de processos judiciais, mas também a não interferência dos órgãos eleitorais no processo.

“Os estadistas, os líderes, os políticos ainda estão muito agarrados numa competição do poder a todos os meios, como que a dizer – os meios justificam os fins ou os fins justificam os meios – não importa, contanto que eu realize os meus anseios de ascender, manter ou controlar o poder, e, muitas vezes, isso é feito em prejuízo do Estado”, defendeu a fonte.

Falando numa entrevista concedida ao “O País”, Cadeado defendeu a opinião de que a democracia verificada no Senegal (durante as eleições) devia servir de lição para os partidos libertadores, em todo o continente.

No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, principalmente em Moçambique, onde, para além de não haver a democracia consolidada, as instituições de justiça, bem como os órgãos eleitorais estão a reboque do Estado.
Mas há um outro desafio para que o país atinja o nível de Senegal.

“Eu considero que, em Moçambique, o elo mais fraco é a oposição. Quando aparecem sinais isolados como o do senhor Venâncio Mondlane, que faz um exercício que eu considero saudável para a democracia, de recorrer às instituições de justiça para fazer o seu debate político, é muito bom. Os outros (partidos) devem ir para lá (seguir o caminho)”, apontou a fonte.

Bassirou Diomaye Faye, de 44 anos, entra para a história da democracia Africana como o mais jovem Presidente da Africano, em geral, e do Senegal, particularmente, representando a primeira vez que um candidato da oposição é eleito logo à primeira volta das eleições presidenciais.

Questionado sobre a possibilidade de Moçambique se usar da realidade senegalesa para os próximos pleitos, a nossa fonte diz ser um sonho bastante surreal.

“Fala-se da juventude, mas a juventude ainda não é a cara ou o motor visível destes movimentos. No Senegal ou noutros países, há exemplos de jovens activos na política desde muito cedo, mas aqui (em Moçambique) ainda não temos esses casos.”
No seu entender, que se assemelha à opinião do também analista de política internacional, Wilker Dias, estão todos dependentes da chancela ou apadrinhamento dos “mais velhos” no partido, mas nunca para posições superiores.

Dias fala de luta geracional, onde os partidos continuam presos na ideia de que só pode chefiar ou assumir posições de destaque aqueles que tiverem pegado nas armas (no caso da Frelimo e Renamo), daí que será difícil ver jovens governarem.

Wilker Dias, que esteve no Senegal como observador eleitoral, disse que a separação de poderes que se verificou naquele país deve servir de exemplo para Moçambique.

“Um exemplo disso é o facto de haver órgãos eleitorais ou de justiça que são nomeados pelo Presidente da República, mas acontece que conhecem o seu papel, sabem separar as águas, não agem como uma troca de favores”, disse Dias.

Diomaye Faye, que foi proclamado, pelo Conselho Constitucional, Presidente eleito do Senegal, com 54,28% dos votos, toma posse esta terça-feira.

Faye foi libertado da prisão 10 dias antes do escrutínio, juntamente com o mentor Ousmane Sonko. Com apenas 10 dias para a sua campanha Eleitoral, apresentou-se como “o candidato da ruptura”, referindo-se a 10 anos de Governação de Macky Sall, marcada por prisões arbitrárias, aumento do desemprego e crise social, mas defendeu a “reconciliação nacional” após três anos de instabilidade, crise política e detenção de centenas de pessoas, sobretudo políticos ou cidadãos envolvidos na política, tidas como inimigos do Estado.

A imprensa internacional escreve que Bassirou Diomaye Faye e Macky Sall se encontraram já na quinta-feira, no palácio presidencial, na presença, também, de Ousmane Sonko, líder da oposição e apoiante do novo Presidente.

Analistas dizem que o evento marca o fim de anos de virulento combate político entre ambas as partes.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos