O nível geral de preços registou um aumento de 4,93% no mês de Setembro último, segundo dados mais recentes publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Trata-se da segunda subida consecutiva do custo de vida, depois do incremento de 4,79% em Agosto.
Os produtos alimentares, as bebidas não-alcoólicas e os preços de aquisição de veículos automóveis foram os que mais contribuíram para o aumento da inflação anual em Setembro, medida pela variação do Índice de Preços no Consumidor (IPC) calculada pelo INE.
Os dados foram recolhidos, em Setembro findo, nas cidades de Maputo, Beira, Nampula, Quelimane, Tete, Chimoio, Xai-Xai e na província de Inhambane.
Comparativamente a Setembro do ano passado, todos os locais onde o INE fez a recolha de preços, no país, tiveram aumentos do custo de vida. Em destaque está a cidade de Tete, que teve o maior aumento dos preços, que rondou os 9,74%, seguida de Quelimane (5,77%).
Nos restantes pontos, a subida generalizada de preços comportou-se da seguinte maneira: em Xai-Xai, os preços aumentaram 5,42%; Chimoio, 5,13%; na província de Inhambane, 4,96%; em Maputo, 3,85%; na Beira, 3,82%; e na cidade de Nampula aumentaram 3,80%.
“As divisões de Alimentação e bebidas não-alcoólicas e de Restaurantes, hotéis, cafés e similares foram as que tiveram maior aumento de preços, ao variar cerca de 11,85% e 9,01%, respectivamente”, segundo os dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística.
O “O País Económico” ouviu algumas donas de casa em Maputo, para ter a sua sensibilidade em relação à variação do nível geral de preços em Agosto e Outubro. Dona Mércia diz que os preços aumentaram pelo facto de grande parte dos produtos consumidos serem importados.
“Os produtos de primeira necessidade são importados da África do Sul, então notamos aquela diferença de cinco meticais aqui, 10 meticais ali, o que no final das contas faz muita diferença no bolso de qualquer dona de casa que vai às compras”, referiu Mércia.
Para Mércia, o único produto da sua cesta básica que teve o seu preço reduzido foi o açúcar. “Estava com uma tendência de subir, mas percebi que depois baixou uns cinco meticais o quilograma, mas, em relação ao óleo, o arroz e o feijão, não senti qualquer redução do preço”.
Em relação à recente época chuvosa e à quadra festiva que se avizinha, Mércia acredita que os preços vão “disparar”, à semelhança dos anos passados. Sugere, por isso, a quem tiver possibilidade, que compre agora produtos não perecíveis para usar até Fevereiro do ano 2026.
“Quem não pode acaba sofrendo, porque preços, nesta época, sufocam. Falta tomate porque chove, temos os legumes com tendência de subir, temos as verduras cujos preços sobem e escasseiam, e os produtos de primeira necessidade disparam pela elevada procura”, explicou.
Quem também sentiu a subida generalizada de preços na Província de Maputo é a Laura, nome fictício da dona de casa. “O valor que uso para fazer o rancho da casa não foi suficiente para adquirir os produtos que normalmente tenho adquirido. Tive de largar alguns produtos”.
Laura disse que notou aumentos no preço do óleo alimentar, no preço das carnes, no preço dos produtos higiênicos. Entretanto, referiu que o preço do frango se manteve. “Quase tudo aumentou”, afirmou a dona de casa que espera uma situação pior nos meses que se seguem.
“Receio que a situação fique grave, porque vimos nos anos anteriores: produtos como hortaliças ficaram escassos no tempo chuvoso. Não temos tomate, não temos verduras. Quando há, compramos os importados, que chegam a ser mais caros para nós”, disse Laura.
Segundo Laura, “quando chega o fim do ano, para as donas de casa, é um pesadelo. Têm de fazer um exercício económico terrível. As carnes, os ovos e frangos disparam no mercado. Na verdade, nos últimos anos, já não sabemos o que é ter festas como deve ser”, segundo Laura.
O aumento do custo de vida em Agosto e Setembro ocorre depois de os preços dos bens e serviços terem registado uma redução em Julho, quando a inflação atingiu 3,96%. Na altura, a desaceleração da inflação anual foi explicada pela redução de preços dos alimentos.
Contrariamente à Laura e à Mércia, a dona Nélia diz não ter sentido a pressão dos preços nos últimos dois meses pelo facto de não ter feito compras. “Eu não senti, porque faz tempo que não faço compras. Tenho produtos em casa, felizmente”, disse Nélia.
A dona de casa revela que, desde o início deste ano, com excepção de Agosto e Setembro, os preços de produtos como açúcar, vegetais e hortícolas reduziram. “Não sei se era pela época, mas a alface, a couve, por exemplo, a tendência foi de redução, e isso aliviou o meu bolso”.
No médio prazo, o Banco de Moçambique prevê que a inflação continue abaixo de 10%, uma estimativa que reflecte, essencialmente, “a postura da política monetária, a estabilidade do metical e a tendência de redução dos preços internacionais de mercadorias”, segundo o banco.