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Tudo É uma Questão de Enquadramento

Por Clemente Clementina

Há relatos de que a língua portuguesa poderá ter nascido num lugar que hoje não faz parte do território físico de Portugal. Segundo uma publicação no site executivedigest.sapo.pt, às 17:08 do dia 23 de Agosto de 2024, o lugar fora de Portugal onde a língua portuguesa terá nascido foi o então Reino da Galiza; um lugar que hoje corresponde à Galiza, na Espanha. Mas apesar desta génese, a língua portuguesa não deixa de ser considerada língua de Camões – poeta português – e, consequentemente, língua de Portugal e dos portugueses.

Portanto, a origem de seja o que for não impede que tal coisa vá ganhando novas formas e novos “possuidores” no tempo e no espaço. E mais uma vez a língua camoniana comprovou a veracidade dessa conclusão na sua expansão ao longo do tempo e para os lugares fora de Portugal onde a língua chegou até ao nível de língua oficial, reconhecendo-se a sua importância nestes mesmos lugares. Entretanto, se esta expansão foi por imposição ou não, isto é outra discussão.

Olhemos para Moçambique e vejamos o cenário de uma criança que desde o seu nascimento não lhe foi incutida outra língua senão a portuguesa. Qual diria esta criança ser a sua língua, se é a portuguesa que tão-somente ou que mais domina?! Ademais, é verdade que, se a criança fala a língua originalmente local, é tida como rude ou vil; e isto parte de casa. Porém, em contrapartida, a criança de ontem hoje, sendo um adulto, é acometida pela sociedade, dizendo-se que se apegou ao que é dos outros; que se esqueceu das suas origens; entre outros ultrajes desta espécie. Mas a pergunta que coloco é: quais origens, se estas, outrora, lhe foram negadas?!

Tudo é uma questão de enquadramento. E a Globalização é um grande exemplo disso. Quando bem enquadrada, a Globalização não subjuga culturas locais, mas convive em harmonia com estas culturas e chega até a fazer parte das mesmas culturas. Isso é o que sucede com as línguas e, em particular, com a língua portuguesa em Moçambique, onde esta língua tem características próprias, exclusivas: refiro-me, a título de exemplo, a palavras típicas e pronúncias também típicas. Assim, e concluindo, penso que neste enquadramento deve residir o orgulho dos moçambicanos em ter como sua a língua portuguesa, a qual, não deixando de ser camoniana, é também moçambicana.

 

05/05/2025

Por: Luís Cezerilo

A história se passa em uma companhia militar em Tambara, um cenário que simboliza a tensão constante entre o domínio colonial e a resistência moçambicana.

A escolha desse espaço não é aleatória: Tambara, como diversas outras regiões de Moçambique, foi palco de confrontos directos e indirectos entre o exército português e os guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).

A obra, insere-se no género da narrativa histórica, abordando um dos períodos mais marcantes da História de Moçambique: a colonização portuguesa e a luta de libertação nacional.

O eu lírico, constrói uma narrativa que transcende o relato histórico convencional, oferecendo uma reflexão profunda sobre a guerra colonial em Moçambique e os seus impactos psicológicos e emocionais nos soldados que a vivenciaram.

Ao centrar a sua história no ambiente de Tambara, humaniza o conflito, afastando-se das grandes batalhas e discursos ideológicos para explorar a experiência subjectiva dos soldados – as suas angústias, os seus medos, as suas saudades e sobretudo o desejo contraditório de lutar e fugir ao mesmo tempo.

O livro mostra como a ocupação portuguesa não apenas impôs uma estrutura de dominação política e económica, mas também gerou divisões internas entre os próprios soldados, muitos dos quais questionam o real propósito da guerra que travam.

A obra destaca, assim, o esgotamento moral do colonialismo, expondo as suas contradições e o inevitável colapso desse sistema opressor.

Um dos pontos marcantes é a complexidade emocional dos personagens. O medo do desconhecido, a nostalgia da vida deixada para trás e a incerteza sobre o futuro formam um mosaico de sentimentos contraditórios.

Os soldados portugueses estão imersos em um ambiente onde a violência não é apenas física, mas também psicológica. O medo da morte, a paranóia da traição, a incerteza sobre o próprio futuro criam um labirinto mental do qual poucos conseguem escapar.

A guerra aqui não é heróica, nem gloriosa. Pelo contrário, é retractada como uma experiência de dissolução da identidade, onde os soldados oscilam entre a brutalidade necessária para sobreviver, a nostalgia da vida que deixaram para trás e o sonho de um futuro incerto.

É um olhar que dialoga com as reflexões de Paul Fussell na sua obra, The Great War and Modern Memory (1975), quando afirma que: a guerra, mais do que um confronto entre exércitos, é um estado de espírito que reconfigura a percepção do tempo, do espaço e da própria humanidade. Fussell (1975) Outrossim, a obra evidencia a fragilidade das relações humanas em tempos de guerra. A desconfiança mútua entre os soldados mostra que o inimigo nem sempre está apenas do outro lado do combate, mas também dentro do próprio grupo. Esse clima reflecte a instabilidade emocional dos combatentes, que vivem sob o espectro constante da violência e da morte.

Mesmo em meio à brutalidade da guerra, o livro resgata elementos essenciais da humanidade: o amor e a saudade.

A lembrança da mulher amada, os ecos de uma vida distante, funcionam como âncoras emocionais tornando-se um refúgio emocional para os soldados, funcionando como um elo com a vida antes do conflito e como um fio de esperança para o futuro.

Esse contraste entre o horror da guerra e a ternura do amor confere profundidade à narrativa, humanizando os personagens e tornando os seus dilemas ainda mais tocantes.

Essa dualidade entre o amor e a destruição reforça a tese de que, em cenários de violência extrema, os laços afectivos são não apenas refúgios, mas também formas de resistência e superação.

Socorro-me das ideias de Svetlana Alexievich, na sua obra A Guerra Não Tem Rosto de Mulher (1985), para sustentar a afirmação do paragrafo anterior, onde a autora argumenta que, nos relatos de guerra, as emoções e as memórias pessoais são tão cruciais quanto os acontecimentos militares.

Panguana, segue essa linha ao mostrar que, para muitos soldados, a verdadeira luta não era contra os “turras”, mas contra o esquecimento e a desumanização que a guerra lhes impunha.

Concomitantemente, a Hora Maconde, expõe as contradições morais da guerra colonial, onde alguns soldados não acreditam no conflito, veem-se como peões de um império decadente, lutando contra um inimigo que, em muitos aspectos, parece ter mais legitimidade do que eles próprios.

O desejo de fuga, tanto física quanto emocional, permeia a narrativa, mostrando que, para muitos, a sobrevivência significava mais do que escapar das balas – significava também preservar a sanidade e a humanidade.

Esse dilema lembra-me as reflexões de Erich Maria Remarque, na sua obra: Nada de Novo no Front (2023), onde os soldados, mesmo armados e treinados para matar, são apresentados como vítimas de um sistema que os engoliu sem que tivessem escolha.

Marcelo Panguana insere essa perspectiva no contexto colonial, expondo a fragilidade da narrativa heróica construída pelo regime português sobre a “guerra justa”.

Notemos, a Hora Maconde não é apenas um romance sobre a guerra em Moçambique – é um estudo sobre a condição humana diante da violência, da perda, da esperança e da incerteza.

Ao evitar maniqueísmos e discursos rígidos, o autor constrói uma obra que se insere na tradição das grandes narrativas de guerra, mas com um olhar profundamente nacional, entenda-se, moçambicano.

O seu texto é ao mesmo tempo lírico e brutal, reflexivo e implacável, uma obra que nos lembra que, na guerra, a maior batalha talvez seja contra o esquecimento e a transformação do homem em máquina.

Com uma narrativa densa e envolvente, Hora Maconde consegue capturar a complexidade da guerra de libertação moçambicana, indo além da simples oposição entre colonizadores e colonizados. O livro mergulha na psique dos personagens, explorando medos, esperanças e contradições que tornam a história ainda mais realista e impactante.

Ao mesclar o horror da guerra com a delicadeza do amor e da saudade, a obra não apenas documenta um período histórico crucial, mas também questiona os efeitos profundos da colonização e da guerra na vida daqueles que nela estiveram envolvidos.

 

Bem hajas Marcelo.

Moçambique vai acolher, de 06 a 10 de Junho, o segundo Congresso dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, dando ênfase à relação do poeta português com o oceano Índico e o território moçambicano.

O anúncio foi feito nesta quarta-feira em conferência de imprensa que inclui as universidades Eduardo Mondlane (UEM) e Politécnica, de Moçambique, e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, em coordenação com a Rede Camões em África e Ásia.

Os organizadores afirmaram que o congresso, dedicado à discussão da obra e legado de Camões, arranca no dia 06 de Junho com actividades em Maputo, num modelo híbrido com sessões virtuais e presenciais.

No dia 10, Dia de Camões, o evento vai decorrer no Centro de Arqueologia e Investigação e Recursos da UEM, na Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, província de Nampula, no norte do país.

Para além de debates e apresentações de estudos e comunicações sobre Luís de Camões, estão igualmente agendadas exposições artísticas e visitas a lugares históricos da Ilha de Moçambique, reunindo também “estudiosos, escritores, investigadores e entusiastas da literatura camoniana”, avançou a organização.

Estão ainda programadas apresentações musicais inspiradas na poesia de Camões, com a intenção de preservar o seu legado e encontrar nas suas obras marcas e referências de lugares onde viveu ou passou.

“Este evento é de grande importância para aqueles que lidam com a literatura, linguística, tanto para o ensino superior como para o ensino médio, porque esta é uma figura emblemática e que é de destaque na literatura, principalmente nos países lusófonos”, disse Serafim Adriano, professor da UEM.

A organização indicou que a escolha de Moçambique como palco do segundo congresso reforça a importância histórica e cultural do país no contexto da expansão marítima portuguesa e da interação entre diferentes culturas no período dos descobrimentos.

A Rede Camões em África e Ásia, que promove e incentiva estudos e publicações sobre Camões, realizou o primeiro congresso sobre os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões no ano passado, em Macau, sendo que para 2026 se pretende levar o mesmo evento para Goa, fazendo um périplo por lugares onde o poeta passou e viveu, explicou a organização.

Nascido há 501 anos, em 10 de Junho de 1524, em Lisboa, o poeta-soldado viveu e escreveu cerca de dois anos na Ilha de Moçambique, na antiga rua do Fogo, onde também terá sentido que o amor “é fogo que arde sem se ver”.

A artista plástica moçambicana, Fauziya Fliege, acaba de criar uma nova linha na sua produção visual. Trata-se da colecção “Atrás da Máscara: Emoções e Expressões”, uma linha em técnica acrílica que traça a trajectória da mulher durante a gravidez.

Fliege busca, pela primeira vez, destacar um aspecto pouco mencionado nas artes visuais, mas fundamental: a beleza e a complexidade da experiência gestacional. 

“Todos nós nascemos de uma mulher, e, por isso, esta colecção merece toda a minha atenção em cada pincelada. Cada detalhe de cada peça é uma história diferente, um fragmento da vivência que compartilho como mãe de três filhos. Posso afirmar que cada gravidez foi uma experiência singular, repleta de nuances”, destaca a artista, citada num comunicado de imprensa.

Fauziya Fliege espera que esta colecção seja um aprendizado colectivo. “Quero que todos apreciem a beleza de uma mulher grávida, uma fase tão única, verdadeira e especial. As máscaras representam essa jornada: as emoções, as dores e alegrias, as transformações do corpo e os desafios que podem surgir, como uma gravidez com complicações”

No mínimo, 13 obras de grande dimensão serão apresentadas, cada uma com mais de um metro de altura, reafirmando a força expressiva e o impacto visual da produção artística envolvida no projecto. Essas criações não só desafiam o espaço físico como também ampliam as possibilidades de diálogo, a força e a beleza inerentes à maternidade.

A colecção “Atrás da Máscara: Emoções e Expressões” vai tornar-se numa exposição durante o mês de Junho, no Gana, país onde a artista plástica se encontra radicada.

O trabalho foi lançado no Dia Internacional da Parteira, a 5 de Maio, uma data que reconhece a importância do trabalho das parteiras na saúde materna e infantil, especialmente em áreas com acesso limitado a cuidados especializados. Por isso, não deixa de ser uma homenagem a profissionais que têm como missão cuidar do bem-estar e integridade das mulheres antes, durante e depois do parto.

De salientar que embora estas obras tenham uma abordagem da maternidade, não é a primeira vez que Fauziya Fliege trata da mulher, destacando a sua força e determinação. A sua mais recente exposição “Mulher em Ascensão”, que aconteceu em Março deste ano, alusivo ao Dia Internacional da Mulher, faz um convite à celebração das realizações femininas, e, também, uma forma de inspirar e gerar discussões sobre igualdade de género e empoderamento.

Fauziya Fliege é uma artista moçambicana que tem conquistado reconhecimento internacional com as suas obras que, além de adornar museus, também fazem parte das colecções de governos de diversos países da América Latina. 

Fliege tem as suas obras patentes no Ministério de Relações Exteriores da Costa Rica, no Ministério de Relações Exteriores do Equador e no governo da Colômbia, para além dos melhores museus da América Latina, a destacar o Museu de Cartago (Costa Rica), o Museu de Afrodescendente de Nicarágua e o Museu de Paraguai.

 

carta a Spinoza

Por M.P.Bonde

 

Caro Spinoza, os pingos que, agora, aprecio pela janela onde lhe escrevo trazem alguma esperança nestes tempos de cólera! Todavia a fome esse monstro das horas mortas continua a arrastar o seu convênio diante da inoperância de quem deveria prover o básico. A fome! A fome, sempre ela, a ensinar os ilustres mundanos a serem mais afectivos.

Escrevo ainda com os miolos queimados! É tanta a maldade nesta geração de espectáculo, tudo é capturado sob o prisma de um self ou um post na fábrica de sonhos inalcançáveis como disse o poeta com umbigo ancorado nas terras de muhipiti.

O tempo, caro pensador das lentes, separa-nos por mais de 348 anos de volta ao sol! Verde é o semblante do gato pendurado na telha da manhã, franzinho, com as ossadas cambaleando sob a folga da cauda, ficamos pelos 45 anos que abraçam meus cabelos neste instante, os mesmos anos com que deixaste as asas da vida sob a âncora desta terra.

Há muitas inovações neste momento, como as que ouviste algures sob a batuta do grande Da Vinci. No entanto, para nós que vimos o virar do outro milénio, sempre à espera do Nazareno, adoptamos as redes sociais como mecanismo de manutenção da nossa existência face ao distanciamento entre os homens.

Assim sendo, as redes sociais da minha pequena aldeia não falam de outra coisa senão uma indemnização milionária, 4 milhões de meticais para ser preciso! Pois é, esse valor para ressarcir os danos morais por conduta indevida de um jovem que se fez artista com o beneplácito do silêncio. Será lícito criar critérios para a criatividade humana, seja ela para o bem ou para mal? Quem ditou a precisão da arte maior não estará excomungado nos dias de hoje, onde tudo que se diz, pode ser conotado com inveja?

Sei que não fazes ideia! Deixa-me contar. Há dias, deixou-nos o Mário de um país com nome de ave apreciada no Natal. Sim, esse último mago das terras andinas e registou dedico a você o meu silêncio como que a profetizar o seu fim. Quando já não temos nada a provar, o silêncio parece ser a única forma de mostrar a nossa resignação ou alheamento como fez o Bernardo Soares no epílogo do seu desassossego.

Onde encontro a ética, caro Spinoza? Onde habita a ética? Que pedra dança pulsação do ritmo cardíaco? Que Deus a noite desvenda quando não sonho?

Não lhe maço mais, o tempo urge e as manhãs continuam a espraiar a luz que esconde o cheiro da morte.

Até breve, do seu admirador.

 

A Temporada de Música Clássica Xiquitsi, deste ano, inicia neste mês de Maio, com a primeira série de concertos 2025. “Será uma sessão histórica que reflecte o seu impacto transformador na inserção social e formação de adolescentes e jovens. Neste contexto, de 8 a 11 de Maio, Maputo volta a ser palco da excelência artística da Orquestra, Coro e Percussão Xiquitsi, num alinhamento que une gerações e celebra a música tradicional moçambicana e a clássica do mundo”, lê-se no comunicado de imprensa.  

A série transporta para o palco a moçambicanidade pelos músicos envolvidos, com o calor de convidados internacionais. Por outro lado, reflecte a maturidade do projecto Xiquitsi e os frutos de 12 anos de investimento no ensino colectivo de música, com vários antigos alunos que, actualmente, actuam como músicos profissionais, professores ou estudantes de prestigiadas escolas no país e no estrangeiro.

Para abrir a temporada, será realizado um Concerto de Gala, no dia 08 de Maio, às 19h00, no Salão Nobre do Conselho Municipal de Maputo. 

O Concerto de Gala vai apresentar um rico repertório com obras de Vivaldi, Mozart, Halvorsen, Sibelius e arranjos de compositores moçambicanos como José Barata, Xixel Langa e ainda a estreia em Moçambique da obra do jovem compositor moçambicano, Estevão Chissano. 

O concerto contará ainda com interpretações a solo dos jovens xiquitsianos, Inérzio José Macome, formado com distinção (20v) na Escola Superior de Música de Lisboa e Alexandre Munguambe, ainda em formação no Xiquitsi.

No dia 10 de Maio, às 19h00, no Centro Cultural Moçambique – China, vai acontecer a “Noite Fora de Série”, que este ano ganha um carácter especial. É que, pela primeira vez, o projecto acolhe o mestre de valimba, Pai Leão, artista da Beira. O concerto será dividido em dois actos, o primeiro contempla a actuação da Orquestra, Coro e Percussão Xiquitsi e o segundo, o universo sonoro da valimba em diálogo com outros instrumentos e artistas moçambicanos. 

Além do concerto, Pai Leão vai orientar um workshop sobre a história, construção e técnica deste instrumento tradicional, numa iniciativa pioneira rumo à valorização da valimba em Moçambique.

O encerramento da série será com o acolhedor e tradicional concerto denominado “Tarde para Pais e Filhos”, a acontecer no dia 11 de Maio, às 15h, no Montebelo Indy Congress, onde se explora o ambiente familiar e didáctico. O momento vai para além de obras clássicas, destacar temas moçambicanos e homenagear Edilson da Conceição, antigo aluno do Xiquitsi falecido em 2018. A peça de homenagem terá o arranjo de Estêvão Chissano e representa um dos momentos mais emotivos do concerto, simbolizando a união entre o passado, o presente e o futuro do projecto.

O Xiquitsi, com direcção artística da fundadora do projecto, Kika Materula, reafirma com esta Temporada, o seu compromisso com a valorização da cultura nacional e a transformação social através da música.

 

No próximo sábado, às 20h, o Centro Cultural Franco-Moçambicano vai receber a cantora e compositora Lúcia de Carvalho para um concerto considerado “vibrante” e “emotivo”, inserido na sua  tournée ―Pwanga‖ — palavra que significa “luz” em kimbundu, de Angola.

A Maputo, a artista traz um espectáculo que funde canções dos seus dois álbuns, Kuzola e Pwanga, num percurso musical profundamente enraizado na busca de identidade, pertença e celebração das origens. Com ritmos que cruzam África, Brasil e Europa, a música de Lúcia é, ao mesmo tempo, íntima e universal, espiritual e dançante — uma ponte entre mundos.

O concerto integra uma digressão especial pelos países africanos de língua oficial portuguesa — Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe — no âmbito das celebrações dos 50 anos das independências destes países. 

A iniciativa conta com o apoio do Institut Français e pretende homenagear as histórias, culturas e memórias que unem estas nações e os seus povos.

Com raízes angolanas e uma vida entre Portugal e França, Lúcia de Carvalho mistura voz, percussão e dança numa entrega cheia de energia e autenticidade. 

Em palco, estará acompanhada por uma banda que integra o percussionista Tony Paco, e contará ainda com a participação especial da cantora Onésia Muholove — ambos moçambicanos — que enriquecem o espectáculo com talento local, promovendo, assim, o diálogo musical entre culturas.

O concerto integra também as celebrações dos 30 anos do Centro Cultural Franco-Moçambicano, reforçando o seu compromisso com a diversidade artística e os laços culturais entre África e Europa.

 

SOBRE A ARTISTA

Lúcia de Carvalho nasceu em Angola, cresceu em Portugal e vive em França. A sua arte é uma viagem sonora entre continentes e culturas, guiada pela força do tambor, da voz e do corpo em movimento.

Com Pwanga (luz) e Kuzola (amor), a artista planta canções que são sementes de conexão, cura e partilha. O seu nome diz muito sobre a sua missão: Lúcia é luz; de Carvalho, a força da árvore.

O Centro Cultural Português, a Faculdade de Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes da UP-Maputo e o Centro de Língua Portuguesa – Camões, instalado naquela universidade, comemoraram o Dia Mundial da Língua Portuguesa através da realização da Grande Final da 22.ª edição do Prémio Eloquência Camões.

De acordo com uma nota de imprensa, o júri, composto pela actriz Ana Magaia, pela professora universitária Paula Cruz e por José António Marques, Leitor do Camões, ICL, na UP-Maputo, avaliou as habilidades oratórias dos 10 concorrentes finalistas, tendo concedido o primeiro lugar a Antonieta Matsinhe, o segundo lugar a Leonel Maísse e o terceiro lugar a Dionísia Munguambe, estudantes do Curso de Licenciatura em Ensino de Português da UP-Maputo. Foi ainda agraciado com uma Menção Honrosa o estudante do Curso de Literatura Moçambicana na Universidade Eduardo Mondlane, Deus Taímo.

Os dez finalistas, além de terem beneficiado de um curso de formação na arte da expressão oral, ministrado pela actriz Ana Magaia, receberam também um pacote de livros oferecido pela Plural Editores. O Camões – Centro Cultural Português em Maputo atribuiu, ainda, prémios pecuniários aos três primeiros classificados.

Criado em 2002, o Prémio Eloquência Camões pretende motivar os estudantes para a importância da oralidade em português no mercado de trabalho, em áreas tão variadas como a comunicação social, a docência, a publicidade, o teatro, o cinema, entre outras.

 

Nesta quarta-feira, Albino Mahumana e Renaldo Siquisse vão inaugurar a exposição de pintura “Fora da Caixa”, às 18 horas, na Fundação Fernando Leite Couto. 

Para a organização da mostra, as obras de Albino Mahumana retratam o quotidiano e as vivências dos moçambicanos, essencialmente através de imagens de mulher e de crianças.

“Mulheres com fardos na cabeça, nos mercados locais, a regressarem das suas quintas ou da busca de água, a prepararem comida, a cuidarem dos filhos, etc., bem como crianças a brincar. A partir do trabalho de Mahumana pode se enxergar os laços e afectos, a luta e a resiliência das pessoas de vida simples e comum, dando-lhes, o artista, a visibilidade e a humanidade que por vezes as notícias do dia-a-dia não lhes atribuem”, avança o comunicado da Fundação Fernando Leite Couto.

Quanto à obra de Renaldo Siquisse, o poeta Álvaro Fausto Taruma, citado na nota de imprensa da Fundação Fernando Leite Couto, escreve: “A linguagem plástica de Siquisse é profundamente táctil: a matéria da tela é ferida, arranhada, quase arqueológica, como se revelasse um tempo subterrâneo, anterior à imagem. A paleta densa e terrosa contrasta com explosões de cor simbólica, o vermelho dos lábios ou da flor, o branco que cega ou ilumina. Nessa tensão entre contenção e excesso, o artista nos propõe uma travessia: olhar de dentro para fora, ou vice-versa”.

Para a Fundação Fernando Leite Couto, o encontro entre os dois artistas poderá conferir ao espectador uma experiência de vislumbre do belo, do imersivo, do grito e da ternura, para além de toda a diversidade humana e de sentimentos que tanto Mahumana como Siquisse, transformam em obras de arte.

Yolanda Couto é a curadoria da exposição colectiva. 

 

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