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A Nwanyi, marca dedicada à promoção de experiências sensoriais através da literatura, vai realizar o evento “Poesia e Sensorialidade: Versos que Degustam a Vida”, esta sexta-feira, no Garden Grill (antiga estufa), em Maputo, no período das 10h até as 21 horas.

O evento propõe uma experiência única que une literatura, poesia e vinhos selecionados, criando um espaço de encontro cultural e sensorial que transcende os formatos tradicionais. 

“Mais do que um evento, trata-se de uma celebração da cultura em suas múltiplas formas, onde a palavra se encontra com o paladar, e a comunidade é convidada a partilhar momentos de arte, reflexão e prazer. De entre as actividades que vão acontecer, destacam-se a exposição e venda de livros da Alcance Editora, Gala-Gala Edições, Inter-Escola Editores, Catálogus e The Bookshelf livraria on-line; oficina de escrita criativa, rodas de conversa com o escritor Rudencio Morais, Lucílio Manjate e José Carimo” revela a nota de imprensa. 

Haverá também música ao vivo, com a performance do pojecto “Poemas cantados-Tributo a José Caveirinha”, do compositor e Director musical D’Manyissa. A interpretação será da cantora Helena Rosa. Teremos outro momento musical com o músico Eddy Dimande,

Segundo o coordenador do evento, “A nossa proposta pretende criar um ambiente que valorize o livro, mas também o vinho, oferecendo uma plataforma que maximiza o impacto cultural e comercial, ao mesmo tempo que aproxima pessoas em torno de experiências significativas.”

 

O Centro de Teatro do Oprimido de Maputo (CTO-Maputo), em parceria com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), através do o RRF Mozambique, realiza, de 1 a 5 de Setembro, uma oficina de formação de actores em técnicas de Teatro do Oprimido. A formação é destinada às comunidades deslocadas bem como as de acolhimento, vítimas de incursões de homens armados desconhecidos, provenientes de Mecula-Sede, Matondovela, Lugenda (Mussoma), Mbamba, Naulala e Macalange.

A oficina será dinamizada pelos coringas Alvim Cossa e Mevis Chongo, do CTO-Maputo, profissionais com vasta experiência no trabalho com comunidades deslocadas e de acolhimento, que utilizam as artes como ferramenta de harmonização social, criação de espaços seguros de diálogo e fortalecimento comunitário.

O Teatro do Oprimido, metodologia central da formação, é um instrumento participativo que promove a reflexão crítica e a construção colectiva de soluções para problemas sociais, possibilitando que comunidades afectadas por situações de vulnerabilidade encontrem caminhos de resiliência e superação. 

No contexto de Mecula, a iniciativa visa contribuir para a prevenção da violência baseada no género, do abuso e exploração infantil, bem como de outros males que afectam populações deslocadas.

Além da participação das comunidades, a oficina contará com o envolvimento da equipa multissectorial sobre género, composta por membros da Polícia da República de Moçambique, técnicos dos Serviços Distritais de Educação e Saúde, Mulher, Género e Criança, entre outros actores locais comprometidos com a promoção de direitos humanos e da convivência pacífica.

A formação representa um marco importante na promoção do apoio psicossocial e da cidadania activa em contextos de crise, reafirmando a importância das artes no fortalecimento das comunidades e na construção de um futuro com mais esperança e justiça social.

 

A Associação Kulemba irá realizar, de 3 a 5 de Setembro, na cidade da Beira, a quintra edição da Feira do Livro da Beira, FLIB 2025. 

Subordinado ao tema “Ecos do meio século e as narrativas contemporâneas”, o evento enquadra-se nas celebrações dos 50 anos de independência nacional.

A Feira do Livro da Beira 2025 contará com exposições, debates, lançamentos de livros, oficinas e mesas-redondas em diversos espaços da cidade, nomeadamente, Casa do Artista, Livraria Fundza, universidades Licungo, Zambeze, Adventista, UNIAC e os institutos de Formação de Professores da Manga e de Inhamízua.

No primeiro dia, 3 de Setembro, às 18h00, na Casa do Artista, será inaugurada a exposição de pintura “Tradição e modernidade: celebrando meio século (1975-2025)”, da autoria do consagrado artista plástico Silva Dunduro.

No dia seguinte, 4 de Setembro, a Universidade Licungo receberá, às 09h00, a exposição arquivística “Olhar Moçambique”, conduzida por Otília Aquino, António Sarmento e Titos Pelembe, seguida do lançamento do livro “Liderança feminina no Estado Mataaka”, da autoria de Manuel Vene. Em paralelo, a UNIAC acolherá, também às 09h00, uma sessão de conversa com Suzana Espada.

À tarde, às 14h00, a Universidade Adventista será palco de uma conversa com Mia Couto, e às 16h00, a Livraria Fundza acolherá a mesa-redonda “Memória pelas lentes das artes visuais”, com Otília Aquino, Maria Pinto de Sá, Anísio Páscoa e Belmiro Adamugy, seguida, às 17h00, da mesa-redonda “O lugar das histórias na preservação do ambiente”, com Júlio Pacheco, Pedro Muagura e Suzana Espada.

A última actividade do dia irá acontecer na Casa do Artista, às 18h00, na qual Filimone Meigos, Nunes Camões e Manuel Vene irão apresentar “Reflexões sobre a transformação do espaço urbano ao longo dos últimos 50 anos”.

No terceiro e último dia, 5 de Setembro, às 09h30, Nataniel Ngomane irá conversar com formandos do Instituto de Formação de Professores da Manga. Às 11h00, Mia Couto também irá conversar com futuros professores, mas do Instituto de Formação de Professores de Inhamízua. 

À tarde, às 15h30, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade Zambeze irá acolher a cerimónia do anúncio dos vencedores da 3ª edição do Prémio Literário Mia Couto. 

O encerramento da FLIB 2025 está previsto para às 18h00 do dia 5 de Setembro, na Casa do Artista, com uma palestra subordinada ao tema “A influência da cultura local nas narrativas contemporâneas”, a ser proferida pelo filósofo Severino Ngoenha.

 

O Prémio Oceanos anunciou, esta terça-feira, os 50 semi-finalistas da edição deste ano, dos quais 25 na categoria poesia e 25 em prosa (romance, conto, crônica e dramaturgia).

A diversidade de nacionalidades de escritores e membros de júri que o prémio vem conquistando e o resultado dessa primeira etapa enfatizam a proposta do Oceanos de valorização da língua portuguesa, e o carácter cada vez mais internacional e plurinacional da premiação.

A edição de 2025 registrou 3.142 inscrições – o maior número já recebido – vindas de sete países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Esses livros contaram com a avaliação de membros de júri de seis países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.

A lista de semi-finalistas (25 de poesia e 25 de prosa) evidencia uma abrangência geográfica ao totalizar livros de 5 países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal), sendo que o Brasil aparece representado por quase todo o seu território, com autores de 12 estados.

Outro recorde deste ano foi a participação das editoras: das 488 que inscreveram suas obras no Oceanos, 37 estão na lista de semi-finalistas, sediadas no Brasil, Moçambique e Portugal.

Verifica-se abrangência semelhante também na prosa. Ao lado de autores que já se tornaram ícones das literaturas em língua portuguesa, como Mia Couto, o angolano José Eduardo Agualusa, o brasileiro Chico Buarque e a portuguesa Teresa Veiga, encontram-se jovens ficcionistas que começam a despontar na cena literária actual.

Os livros semi-finalistas seguem para a segunda etapa, que selecionará os 10 finalistas entre os 50 selecionados. As obras foram encaminhadas para dois júris distintos, um de prosa e outro de poesia, que os avaliarão até o final de Outubro para eleger os cinco finalistas de cada gênero.

A lisya de prosa conta, entre outros, com A cegueira do rio, Mia Couto, Bambino a Roma, Chico Buarque (Brasil), Mestre dos Batuques, José Eduardo Agualusa, (Angola), O Livro que me escreveu, Mário Lúcio Sousa (Cabo Verde), Os dias do ruído, David Machado (Portugal), Toda a gente tem um plano, Bruno Vieira Amaral (Portugal), Vermelho delicado, Teresa Veiga (Portugal).

Quanto a lista de poesia, inclui, entre outros, As coisas do morto, de Guita Jr., Sonata de uma nação vagabunda, Mudungazi (Moçambique), Os sonhos nunca são velhos, João Melo (Angola), Asma, Adelaide Ivánova (Brasil), e Ninguém fica rica a trabalhar, Sofia Lemos Marques (Portugal).

 

 

Sérgio Raimundo lança, amanhã, o livro “O Colono Preto Saiu do Guarda-Fato”, no Centro Cultural Português, Camões, sob a chancela da Editora Oficina de Textos. A  apresentação da obra será feita pela escritora Deusa d´África.  

“O Colono Preto Saiu do Guarda-Fato” é um livro de crónicas sobre  Moçambique, uma espécie de celebração, em jeito literário, dos 50 anos de  independência. A obra aborda diversas temáticas ligadas a Moçambique, com o  intuito de provocar e questionar o leitor, convidando-o a reflectir sobre os últimos  acontecimentos que tiveram lugar em Moçambique, e nos 50 anos de  independência. As crónicas do livro seguem, em parte, a linhagem de escrita  defendida por Jorge Amado – “a história não deve ser explicada, mas contada”. 

SOBRE O AUTOR 

Sérgio Raimundo nasceu em Maputo em 1992, no bairro de Chamanculo. É  licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique,  mestrado em Ciências de Educação pela Universidade de Algarve, Portugal.  Actualmente, frequenta o doutoramento em Ciências da Comunicação no ISCTE  – Instituto Universitário de Lisboa, Portugal. É escritor, professor, jornalista e  cronista, colaborando em diversos órgãos de comunicação em Moçambique e  Portugal.  

A Associação Cultural Converge+ e o Projecto Festival Raiz vão estrear a performance Wamini Wamini, dos bailarinos Enoque Simomole, Bobby Bakhar e Mutualibo, na sexta-feira, às 18h30, na Casa Velha, Cidade de Maputo.

Wamini Wamini é uma viagem coreográfica que entrelaça a força ancestral da dança tradicional com a liberdade expressiva da dança contemporânea. 

Inspirada pela ideia de que todos carregam raízes que nos ligam à origem, resgata movimentos, ritmos e símbolos herdados das práticas rituais e ancestrais, com o vigor do nhau, coroxo, xigubo e outras expressões corporais comunitárias, e os reconstrói num diálogo com o corpo contemporâneo.

Em cena, três bailarinos percorrem cinco momentos que reflectem o ciclo da vida: nascimento, ligação à terra, comunhão com a comunidade, confronta com o tempo e, por fim, o regresso simbólico às origens.

Cada gesto ecoa memórias colectivas, enquanto a música funde tambores e vozes tradicionais com texturas sonoras modernas, criando um espaço onde passado e presente se reconhecem.

A performance celebra a essência que atravessa gerações, lembrando que, independentemente do caminho trilhado, todos resultam da tradição e é nela que se encontra o verdadeiro movimento.

Wamini Wamini é a segunda apresentação pública dos resultados da Formação para a Profissionalização de Bailarinos Tradicionais em Contexto Contemporâneo, que decorreu de 2 a 27 de Junho, na Cidade de Maputo.

O programa é financiado pelo Fundo Création Africa – Moçambique, da Embaixada de França em Moçambique, e é implementado pela Associação Cultural Converge+ e o Projecto Festival Raiz, com o apoio do Centro Cultural Franco-Moçambicano.

 

Por: Paula Cristina

 

A literatura e a música moçambicana têm-se revelado cruciais para a reflexão sobre a identidade, não como ponto fixo, mas como um território em movimento, permeado por encontros, desencontros e reconstruções constantes.

O poema “Rio Inharrime”, de Otildo Guido, e a música “Xitchuketa Marrabenta”, de Stewart Sukuma, parecem, à primeira vista, propor gestos distintos. Uma obra mergulha na introspecção de um eu que hesita entre o que é e o que finge não ser. A outra explode em corpo, ritmo e pertença colectiva. É precisamente nesse contraste que ambas as obras se cruzam. Juntas oferecem interpretações complementares sobre o ser moçambicano, a partir de dois movimentos distintos: o rio que busca desaguar e a roda que gira para se afirmar.

Logo no início do poema de Otildo Guido, o sujeito poético confessa:

 

“Sou mistura

do que ainda não sou

e do que finjo não ser”

 

É uma declaração de identidade fragmentada, inacabada, por vezes negada. Este “ser” em constante desconstrução ecoa experiências reais de jovens moçambicanos que oscilam entre heranças culturais e imposições modernas. Fingir não ser pode significar silenciar raízes para sobreviver ou adaptar-se. O sujeito que se expressa nesse poema está em suspensão, como o rio que ainda não encontrou o seu mar.

A escolha do título “Rio Inharrime”, não é apenas geográfica, é simbólica. O distrito de Inharrime, na Província de Inhambane, é conhecido pela abundância de águas, lagos, riachos e uma ancestralidade ainda muito presente. É um lugar onde a terra se encontra com o mar, como se a geografia projectasse a identidade híbrida do eu poético. 

Quando o poema afirma: “Sou praia de água doce, sou rio de água salgada”, propõe uma contradição que é, afinal, profundamente moçambicana: a coexistência de elementos opostos, de culturas sobrepostas, de modos de vida em constante negociação.

Essa tensão também habita na música de Stewart Sukuma, embora por outras vias. Em “Xitchuketa Marrabenta”, não há hesitação. A identidade é proclamada com força e orgulho:

 

“Eu sou o pé que varre o chão

o pavor da solidão

afugento a escravidão

sou o pobre e sou o pão”.

 

Aqui, o sujeito canta-se a si mesmo como um corpo colectivo. A marrabenta não é apenas um ritmo, é símbolo da tradição reinventada da resistência cultural. A roda que gira, os pés descalços que levantam poeira, a voz que chama para dançar, tudo isso, na música, configura uma pertença que se vive em comunidade, sem medo do passado e sem vergonha do presente.

Ler o poema e cantar a música permite perceber dois modos de se ser moçambicano: o que procura o lugar e o que o habita com festa. 

 

No poema, há um sujeito que tomba:

 

“E tomba no chão

para ser realmente de novo

a semente que dá origem

ao recomeço do fruto”.

 

A queda aqui não é fracasso, mas recomeço. A imagem da semente que morre para germinar faz parte da cosmovisão africana, onde os ciclos são fontes de vida. No entanto, apesar dessa beleza simbólica, o poema falha em dar materialidade às suas imagens. As metáforas como o fruto, semente, chuva, são repetidas, mas não aprofundadas. Falta-lhe o chão, cheiro, gesto. O território de Inharrime poderia ter sido mais vivido no texto, com referências concretas à cultura local, aos rios, aos sons e à memória sensorial da terra.

Em contraste, a música de Stewart Sukuma pisa firme no concreto. A identidade aqui é corpo: “Sou a mão que batuca e que esfrega teu corpo no chão”. A música reinventa a tradição não apenas com palavras, mas com acção. “Vem pra roda, tira sapato, levanta a poeira, senta em baixo, reinventa a marrabenta”. Essa passagem funciona como um chamamento colectivo, um retorno às raízes através do gesto. Não se trata de olhar para trás com nostalgia, mas de transformar o passado em matéria viva.

Mesmo assim, nem tudo são certezas na música. A força celebrativa da letra quase não dá espaço para conflito ou dúvida. A identidade é apresentada como plenitude, como se não carregasse feridas ou ambiguidades. Essa ausência de tensão enfraquece um pouco a potência crítica da canção. 

O poema, por outro lado, carrega essa hesitação, e talvez seja por isso que o seu desfecho pareça menos afirmativo. “Enrolado no abraço dos machopes” é um verso bonito, mas algo vago. Após tanta inquietação identitária, o reencontro com o colectivo parece mais um consolo do que uma reconstrução. O poema esboça o gesto, mas não o desenvolve com a mesma força com que a música constrói a roda dançante.

Em última instância, o sujeito poético e o sujeito musical pertencem ao mesmo país. Um interroga, o outro responde. Um procura terra firme, o outro pisa e dança. Um tomba, o outro levanta a poeira. Ambos estão em travessia. Ambos nos oferecem espelhos: da dúvida e da celebração, da mistura e da afirmação. E talvez ser moçambicano seja isso, carregar o silêncio do rio e o som da marrabenta. Porque, no fim, o que queremos todos é isso, um lugar onde a semente possa germinar, o corpo dançar e a alma, enfim, pertencer…

Na próxima sexta-feira, a partir das 18 horas, o Centro Cultural Moçambique-China será palco de um dos momentos mais marcantes da música moçambicana: o concerto de celebração dos 50 anos de carreira da cantora Elvira Viegas.

Com uma trajectória ímpar na cultura nacional, Elvira Viegas junto da produtora Khuzula prepara um espetáculo especial que visa revisitar os principais capítulos da sua carreira artística, trazendo ao público músicas carregadas de memórias, emoção e crítica social. A celebração será também um espaço de homenagem aos artistas que, ao longo dos anos, partilharam o palco e a vida com a cantora, com destaque para a Ivone Viegas, e, a título póstumo, ao seu irmão Pacha Viegas, cujas composições permanecem como legado incontornável da música nacional.

O concerto contará com uma sequência de canções e performances que espelham a riqueza da obra da artista e suas parcerias estratégicas. Entre os momentos mais esperados estão a interpretação de orquestra Xiquitsi, Alvin Cossa, bem como composições que marcaram a carreira de Elvira, como “Coração de Pedra”, “Xihlovo xá u tomi”, “Nwamatibyana II”, “Kupepa”, “Tiva Tako”, “Lirere”, entre outras.

A noite também reserva tributos especiais: Ivone Viegas interpretará “A hitwananeni hi kweru” e “Loku hi nga londrovoti”, mensagens de apelo à solidariedade e educação. Já a memória de Pacha Viegas será celebrada com a canção “Psihono Psaku”, recordando a importância do julgamento justo e da empatia.

 Entre poesia e música, o espetáculo trará ainda momentos de reflexão através dos poemas “Mesmo de rasto eu quero que me escutem!” de José Craveirinha e “Ora chegou!”, de Jorge Rebelo (antigo combatente), fundindo literatura e música num mesmo palco.

Ao longo de 24 momentos, Elvira Viegas conduzirá o público por um percurso artístico que é também uma viagem pela história recente de Moçambique, abordando temas como paz, infância, solidariedade, luta social e esperança.

Mais do que um concerto, este será um marco histórico na música moçambicana, celebrando não apenas a carreira de uma das maiores vozes do país, mas também a memória coletiva de gerações que encontram na arte um reflexo da sua própria caminhada.

De realçar que as instalações da XHUB – Incubadora de Negócios Culturais e Criativos, sitos na Cidade de Maputo, no dia 27 de Agosto corrente, pelas 11 horas acolheram a conferência de imprensa do concerto de celebração de 50 anos de carreira de Elvira Viegas, onde a produção, junto da cantora e parceiros partilharão mais detalhes relacionados com o concerto. 

Na passada quinta-feira, arrancou, em Maputo, a residência artística que junta 16 jovens artistas emergentes de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. O resultado das próximas três semanas de criação e troca artística será apresentado ao público num espectáculo multidisciplinar, no palco do Centro Cultural Moçambique-China, no próximo dia 12 de Setembro.

A iniciativa integra o “Resistência e Afirmação Cultural”, projecto que visa investigar e recriar manifestações artísticas ocorridas durante o processo de libertação colonial dos PALOP e de Timor-Leste, assim como durante as lutas antifascistas em Portugal, promovendo uma releitura crítica da produção cultural.

Para esta residência, organizada numa parceria entre a Associação Cultural Scala e a Khuzula, foram recebidas mais de uma centena de candidaturas de artistas dos sete países. O espectáculo final, que cruza teatro, música, dança e poesia, reunirá em palco mais de 50 intervenientes, entre residentes e outros moçambicanos que integram a banda e asseguram toda a produção técnica. O produto final será filmado e documentado, para que, mais tarde, integre a plataforma digital CASA, uma biblioteca virtual das artes performativas dos países envolvidos no projecto.

Para Sol de Carvalho, da Associação Scala, Director-Geral da Residência, a iniciativa assume particular relevância no contexto das comemorações dos 50 anos das independências dos PALOP.

Citando um dos entrevistados do projecto, Sol aponta que a guerra acabou, mas as feridas ainda sangram no corpo da nossa história. “O palco é onde vamos expor essas cicatrizes e, quem sabe, iniciar a sua cura. Esta residência não dá respostas, mas lança pistas, provoca diálogos e, sobretudo, junta ideias”, disse, acrescentando que “no fim, a ideia é criar colectivamente em residência, assinando colectivamente a obra final”.

Júlia Novela, Produtora Artística da Residência (Khuzula), fala sobre a fusão artística. “O importante é ter a simbiose, a conexão, a união para criar algo novo.

Não importa se é o semba de Angola, a morna de Cabo Verde, o gumbé da Guiné-Bissau, a marrabenta de Moçambique, o puxa de São Tomé e Príncipe, o tebe-tebe de Timor-Leste ou a balada de Portugal. No fundo, é tudo conversa de irmão.”

O projecto Resistência e Afirmação Cultural é coordenado pela Associação Cultural Scala, de Moçambique, e reúne sete instituições dos países de língua portuguesa. A iniciativa conta com o apoio do PROCULTURA, uma acção do programa PALOP–TL e UE, financiada pela União Europeia, co-financiada e gerida pelo Camões, I.P., e co-financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que dispõe de um orçamento total de 19 milhões de euros e tem como objectivo contribuir para a criação de emprego nas actividades geradoras de rendimento na economia cultural e criativa nos PALOP e em Timor-Leste. O projecto conta ainda com o apoio estratégico do Governo de Moçambique e da Rede de Centros Culturais Portugueses nos PALOP.

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