O País – A verdade como notícia

Por: M.P.Bonde

Ao
Flávio Atanásio Chongola

Visitou-me por instantes, Jaime Sabines,
no quarto escuro, a janela desvenda o imaginário, as metáforas alugam por instinto o
diâmetro da letra O;
miro as inúmeras possibilidades desta vogal sob o fascínio do papel cândido:
opacidade,
óvulo,
ondas,
ordem,
orelhudo, olhares,
orfão,
onomatopeia,
orgulho,
obreiro,
orgasmo;

redijo cada letra com a perícia de uma coruja no cimo do galho seco; quieta, na
orfandade das manhãs, as folhas amarelecidas pelos tempo escondem o temor com
raios de luz espraiando no biombo.

Vem-me isto a propósito desta frase visceral:

“A poesia ocorre como um acidente, um golpe, uma paixão, um crime; ocorre
diariamente, sozinho, quando o coração do homem começa a pensar na vida”, Jaime
Sabines

Quem escreve desencanta tormentos, galopa sob a égide de um adeus inexistente na
atmosfera da paixão; Quando se inscreve nos píncaros do silêncio, a métrica flui
inquieta; advêm das entranhas o valor do acaso?

Dá-me gozo, como nestes últimos dias, percorrer o hemisfério condenado ao fracasso,
vigiar ainda que de permeio a metade do sono; há para lá das lamúrias e da podridão
estampada nos nossos olhos, a ingenuidade de um bebê que aprende com a língua o
sabor dos objectos;
este desabrochar sul-sul, este redescubrir de forças castradas ao longo do tempo, cria-
me câimbras na alvorada das esporas; é um mergulhar sobre as almas apedrejadas no
vale das lamentações;

manejar as palavras é um ofício, é encontrar a liberdade em meio aos caos, sangrar
pelos poros o brilho escondido da alma;

Como disse o poeta:

“Sempre que responder a uma experiência humana, será poesia. O poema tem apenas
uma medida, sua autenticidade. Estou chocado tanto com os poetas que escrevem
elegias para Che Guevara sentado à mesa de um café quanto com aqueles que falam
sobre divindade enquanto chutam um cachorro. Você não tem o direito de falar sobre o
que não experimentou; tudo o que for feito fora da experiência emocional será uma
construção verbal, um jogo divertido, mas não poesia”. Sabines

Pois é caro Sabines,

a experiência humana transmite-nos a realidade, ainda que de forma dolorosa, crava-
nos à carne os espinhos do medo, ódio e angústia e toda horda inquietante do
hemisfério;

a poesia é nada; este objecto circular, ingénuo, matreiro, fundamental na construção do
sonho;

E a metáfora?

Meta fora a hipotenusa da angústia! Abrande o entusiasmo na lonjura da loucura; um
ciclo é sempre um ciclo;
como se carrega um fardo?
quantas pétalas adornam o sabor da xícara?
a morte é sempre um emarranhado de acontecimentos inesperados, bate-nos a porta
com o bolor do silêncio na boca;

 

O poeta e escritor Nelson Lineu vai lançar, entre às 8h e às 11h desta segunda-feira, na Escola Portuguesa de Moçambique, na Cidade de Maputo, o seu primeiro livro infanto-juvenil. Intitulado Quem ensinou a avó a contar estórias, o conto é dedicado ao seu sobrinho

Um dia desses, Nelson Lineu teve a felicidade de se tornar tio de Dilan. Longe de imaginar o impacto  que o primogénito da irmã gémea teria na sua carreira literária, o escritor aceitou o desafio da mãe: escrever um poema dedicado ao sobrinho. 

Com graça, o poema ficou pronto. No entanto, sem demora, o autor perdeu-o. Ainda assim, como é de palavras que vive o escritor, Nelson Lineu mudou de rumo. Ao invés de um poema, decidiu, recomposto da perda, escrever um conto, sempre dedicado ao pequeno Dilan. Para o efeito, recuou para sua infância, em Quelimane, de modo a recuperar a fascinante relação da irmã gémea com as avós materna e paterna. 

Assim, a protagonista do conto infanto-juvenil é Olga, nome da irmã gémea do autor, que, no plano fictício construído em 2020, traduz a incompreensão de uma personagem que sofre pelo facto de a sua avó Madalena não saber contar histórias.

Ora, apesar do real interesse em dedicar o conto ao sobrinho, o processo de escrita não foi fácil.  Por isso mesmo, a última versão do texto só ficou pronta em 2023, pois, pelo meio, o autor abandonou o enredo para se dedicar a aprender a escrever com maior rigor possível para as crianças. Em parte, porque o desfecho da história não era convincente, segundo lhe disse a editora Teresa Noronha. 

Nesse processo de aprendizagem, Nelson Lineu, que tem o hábito de ler sobre guião/cinema, encontrou uma luz que o clarificou sobre os estatutos das personagens, o conflito da história e o desfecho. Paralelamente a isso, uma imagem da filha, publicada numa rede social a 7 de Abril de 2023, com lenço e uma enxada na cabeça, deu-lhe o que faltava para que o conto fosse editado em livro. É algo inefável. Mas o escritor “jura” que a imagem foi determinante para colorir a protagonista e o enredo. 

Para o escritor, Quem ensinou a avó a contar estórias é uma viagem para a infância, para vários lugares que não são apenas físicos. É uma viagem para a relação com os outros e para a compreensão da importância das histórias. Afinal, garante, “contar histórias é uma forma de existir”.

Com Quem ensinou a avó a contar estórias, Nelson Lineu não pretende (apenas) transmitir valores morais. Melhor, o escritor espera veicular as várias possibilidades de interpretação das narrativas. Aliás, a experiência, para o autor, foi tão agradável que promete publicar mais infanto-juvenis e produzir outros conteúdos para as crianças. Por exemplo, desenhos animados e séries. 

Quem ensinou a avó a contar estórias é um livro ilustrado por Ídasse. Nesta segunda-feira, na Escola Portuguesa de Moçambique, na Cidade de Maputo, será lançado no intervalo das 8h e às 12h, num evento que inclui  dramatização do texto pelo actor Fernando Macamo. Nas próximas semanas, o livro também será apresentado nas cidades da Beira, Chimoio, Quelimane e Nampula.

O escritor Mauro Brito vai apresentar o livro editado pela Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa.  

 

SOBRE O AUTOR 

Nelson Lineu é licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane. É professor de Filosofia e de História da Arte na Escola Nacional de Artes Visuais. É membro efectivo da Associação dos Escritores Moçambicanos e membro fundador do Movimento Literário Kuphaluxa, onde foi Director-Geral da Revista Literatas (Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona). 

Nelson Lineu foi co-roteirista na telenovela moçambicana “Maida” e na série moçambicana “A Infiltrada”. 

No cenário literário publicou o conjunto de crónicas “O Passo certo no caminho errado” (2021), “Asas da água” (2019) e “Cada um em mim” (2014). 

Na qualidade de copywriter, passou por Anima – Estúdio Criativo e Grow, Agência de Comunicação e Publicidade. 

Nelson Lineu também apresentou e produziu o programa radiofónico literário “Da Palavra ao Livro”.  

 

Produtores de eventos e músicos consideram que é preciso educar a sociedade sobre os conteúdos infantis no país, pois o problema não se limita apenas aos espectáculos. Consideram ainda que as leis devem ter em conta a diversidade cultural nacional e não apenas baseadas no que acontece nas cidades. 

A Procuradoria-Geral da República, na Cidade de Maputo, reacendeu o debate sobre a produção e realização dos eventos infantis no país. Numa nota dirigida ao Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas, INIC, a Procuradoria alerta para o perigo que os conteúdos inadequados podem representar para as crianças.

No mesmo documento adverte, por exemplo, que as músicas devem evitar expressões vulgares, ofensivas ou inapropriadas para os menores de idade e que as temáticas devem ter em conta os conteúdos positivos, como amizade, diversão, aventuras e aprendizado.  

Acima de tudo, devem ser conteúdos que promovem a inclusão, diversidade e respeito pela dignidade da pessoa humana. 

Produtora de eventos infantis, há 14 anos, Lizha James não vê nenhum problema nas medidas anunciadas pela Procuradoria-Geral da República, até porque elas não constituem novidade.

“Nós temos a INIC a quem nós respondemos. É a nossa instituição, que nós como promotores e como fazedores da cultura respondemos. Tudo já foi acautelado tivemos as autorizações, várias reuniões, entretanto, esta situação nós recebemos pela internet. Nós sabemos muito bem, que a nossa procuradoria   é uma instituição muito séria e não estaria a intimar os promotores através da internet. Iria direcionar a intimação a cada um de nós”, disse a artista e produtora de eventos infantis. 

Lizha James alerta que é preciso haver mudanças na produção de conteúdos infantis para salvaguardar os direitos das crianças.

“Sobre a música é uma sinergia que nós temos que fazer com o Ministério da Cultura, com os promotores, os investidores, os empresários, para que possamos criar, no âmbito social, porque as crianças não podem trabalhar (…) Entretanto, é uma sinergia que tem que haver para que possamos criar músicos que se vão divertir no palco e não para receber cachês  (…) e é uma sinergia que tem que ser criada no âmbito social para que possamos criar novos músicos infantis”, afirmou Lizha James. 

  José Mucavel, por sua vez, é veemente ao afirmar que não existem eventos infantis no país. “Os eventos todos que estão a ser feitos são empurrados para a infância, mas não são. Se existem, são aqueles do colono, porque continuamos ainda colonizados nessas área”. 

Todos os patinhos sabem bem nadar, cabeça para baixo e rabinho para o ar”, cantou o músico, recordando algumas canções infantis deixadas pelos colonos, acrescentando que é um direito da criança continuar a cantar essas canções de há cinquenta anos, assim como aprender a falar a sua língua.  

Voz autorizada, o autor do “Baladas para as minhas filhas” entende que o problema dos conteúdos infantis no país só poderá ser resolvido com a criação de leis abrangentes.

“Eu até não desgosto da lei,  porque a criança não tem que andar aí a aprender coreografias adultas antes do tempo (…) Em termos de coreografia mesmo, se andarem por aí a ver, como é que ela aprende a dançar, porque, se calhar, alguém viu e não gostou, porque a criança fazia gestos obscenos, e toma com a lei. Eu estou a pedir à Procuradoria da República a descer por todas as etnias deste país   e ver como é que a classe africana educa uma criança”, recomendou Mucavele.  

Para o produtor e crítico musical, DJ Beatkeeper, o problema dos conteúdos infantis vai além do que as crianças consomem nos espectáculos, mas sim é estrutural.

“É um assunto que preocupa toda a sociedade realmente, não só na área do entretenimento que é o espetáculo, mas algumas televisões não têm pautado por este rigor em relação aos horários que passam certas programações. Notamos também nos conteúdos musicais e também nos livros escolares (…) Então, o problema de conteúdo para as crianças é transversal, não diz respeito só aos palcos”, explicou o produtor

Sobre o documento da PGR, Beatkeeper anota que o mesmo tem muitas lacunas e não é esclarecedor.

“Entendo que não é trabalho da Procuradoria legislar. Então, se ela cita um conjunto de regras para avaliar se conteúdo é para as crianças ou não e, no mesmo trecho, não indica qual é a lei que se usou, os promotores de eventos não têm recursos sobre aonde ir  consultar para procurar mais subsídio para saber se está em conformidade com a lei ou não. Não é a partir de uma intimação que a Procuradoria vai indicar quais são os procedimentos de organização de espetáculos, mas deve citar a lei  caso exista, do contrário não é numa intimação da Procuradoria que deve aparecer isso”, explicou.  

Para o  produtor musical, a Procuradoria-geral da República deve abrir-se a novas opiniões.

“Não havendo clareza, de ponto de vista da lei, como identificar se o conteúdo é infantil ou não, e não havendo mecanismo estabelecidos anteriormente de como os produtores de eventos podem obter um selo que diz para que faixa-etária é a sua produção artística, acho que é prematuro correr para sancionar as pessoas”, acrescentou Beatkeeper. 

Já o DJ Dilson, também produtor de eventos, diz que a comunicação da PGR peca por ser tardia e, sob seu ponto de vista, criou vários embaraços. “Mas podia ter sido lançada muito antes, como forma de proteger, não só a criança, como também os promotores, pois há quem já fez investimentos e já pagou os 50 ou 100% das estruturas, e tudo agora vai por água abaixo, por não se querer fazer frente a procuradoria”, disse 

Ainda assim entende que as medidas da PGR são oportunas e poderão proteger as crianças de conteúdos inadequados. “É uma iniciativa boa porque visa proteger as crianças  e dar oportunidade às crianças e aos projectos infantis e exaltar aquilo que é festa para criança”. 

Em exclusivo ao “O País”, a ministra da Educação e Cultura, também reagiu ao documento da PGR e considera que veio num momento oportuno.

“É um trabalho conjunto entre nós da cultura e a Procuradoria da República. É uma equipa conjunta e produziu-se aquele documento. O que nós vamos fazer agora é resumir os pontos-chave, para aqueles que efectivamente temos que observar em relação às nossas crianças, para trabalhar com todos os promotores da arte e cultura, para observarem [as normas previstas]. Estamos muito felizes, porque há actividades que envolviam as nossas crianças e nós até ficávamos envergonhados, mas agora que está legislado todos vão saber que temos que respeitar a idade das nossas crianças   e deixarmos que elas cresçam”, disse a Ministra.  

Os intervenientes entendem que a sociedade deve melhor educar-se, de modo a transmitir bons valores às crianças.

Foi lançado, para as províncias de Maputo, Inhambane, Sofala e Cabo Delgado o concurso denominado “Design de Futuro: Herança e Criação”. 

Com as inscrições abertas até 21 de Junho, a iniciativa convida jovens moçambicanos, entre os 18 e 35 anos de idade, a explorarem a interseção entre tradição e inovação, com base em saberes e materiais locais.

O concurso está aberto a estudantes, autodidatas, recém-formados e jovens profissionais nas áreas de design, arquitetura, carpintaria, arte, artesanato, serralharia e outras disciplinas criativas relacionadas.

Através da iniciativa, a Criamoz, em parceria com a Mobi, loja de mobiliário e design baseada em Maputo, pretende estimular a criação de soluções inovador e sustentável, enraizadas na herança cultural moçambicana, e promover a inclusão de jovens criadores nos circuitos produtivos e culturais do país. 

O concurso contará com sessões de mentoria em parceria com a marca e carpintaria Piratas do Pau e culminará com a exposição dos projectos seleccionados durante a primeira semana de design a decorrer em Outubro deste ano.

As inscrições da iniciativa, financiada pelo Fundo Création África-Moçambique, da Embaixada de França em Moçambique, com o apoio do Centro Cultural Franco-Moçambicano, estão disponíveis online. 

O filósofo Brazão Mazula vai lançar, às 16 horas desta quarta-feira, no Complexo Pedagógico 1501 da Universidade Eduardo Mondlane, na Cidade de Maputo, o livro “X n : Pensar e agir ético”.

O novo livro de Brazão Mazula é um conjunto de oito artigos que abordam a importância da ética nas áreas da ciência e política, educação, saúde e cultura, negócios, direito, leis e normas, ecologia e técnica, sociedade e género e na vida humana.

“No título ‘X n : Pensar e Agir Ético’, segundo Brazão Mazula, o ‘X’, que é a base da potência, ‘é o sujeito a quem se exige o pensar e o agir ético, sempre’, enquanto o ‘expoente ‘n’ refere-se ao grau de responsabilidade do agir, muito considerado pela justiça quando analisa elementos atenuantes ou agravantes”, avanca o comunicado da Editorial Fundza, que edita o livro.

Além dos artigos de Brazão Mazula, na obra “X n : Pensar e agir ético”, chancelada pela Editorial Fundza, estão coligidos artigos de Celestino Mussomar, Dércio Tsandzana, Emília Nhalevilo e Francisco Fumo.

Brazão Mazula nasceu a 18 de Outubro de 1944, em Messumba, Província do Niassa. Possui Doutoramento em História e Filosofia da Educação. Lecciona na Faculdade Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane. É autor dos livros: “Educação, Cultura e Ideologia em Moçambique”, “Eleições, Democracia e Desenvolvimento”, “A utopia de pensar a educação”, entre vários outros.

O livro será apresentado pelo académico José Blaunde

Nas comemorações dos cinquenta anos da Independência Nacional de  Moçambique, de São Tomé e Príncipe e de Angola, o escritor Carlos  Paradona Rufino Roque apresenta, em São Tomé, na próxima sexta-feira, e em Luanda, dia 04 de Junho, os seus romances Pita Kufa, o Leito da Morte e Mueda, Nos Labirintos dos Ritos de Iniciação

“Os livros, em circulação restrita naqueles países, têm despertado um interesse inusitado entre as comunidades literária e académica locais, o que motivou a intenção do autor. É o seu tributo e homenagem à luta dos Povos desses  países e dos restantes de Língua Oficial Portuguesa em África”, adianta um comunicado de imprensa. .  

Em São Tomé, a cerimónia de apresentação vai ter lugar na Biblioteca Nacional e, em Luanda, na Sede  da União dos Escritores Angolanos

Moçambique, São Tomé e Príncipe  e Angola conquistaram as suas independências em 1975 e partilham fortes laços de história comum na sua luta pela emancipação e autodetermicação

Na qualidade de Secretáriogeral, Carlos Paradona Rufino Roque vai aproveitar o ensejo para estreitar os laços de cooperação existentes entre a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), a União Nacional de Escritores e Artistas de São Tomé (UNEAS) e a União dos Escritores Angolanos (UEA)

Por Lídia Mathe 

Directora de campanha, do Luís Cezerilo 

 

Luís Cezerilo é o candidato dos jovens escritores  para secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos

 

Há silêncios que doem mais do que as palavras mal ditas. O silêncio dos livros não publicados. O silêncio dos escritores que desistem. O silêncio das bibliotecas que viraram arquivos mortos. E é contra esses silêncios que levantamos a voz – não como heróis, mas como um do nosso povo. Um dos que ainda acredita que escrever é um acto de fé.

Candidatamos ao cargo de Secretário-Geral da AEMO o confrade Luís Cezerilo, porque não podemos mais aceitar que a literatura seja tratada como um detalhe. Num país que enfrenta desafios tão profundos, a palavra pode ser ferramenta de reconstrução. Pode curar feridas, resgatar memórias, inspirar futuros. Mas para isso, ela precisa ser ouvida, lida, sentida – não apenas nos salões de prémios, mas nas salas de aula, nas feiras de bairro, nas vozes de quem nunca publicou nada, mas carrega o dom.

A nova dinâmica que defendemos é um projecto, ou seja, um convite indispensável para a mudança de postura.

Literatura como prática quotidiana

A AEMO precisa sair do pedestal e descer à rua. Levar a literatura às escolas, aos mercados, às estações, às aldeias. Criar pequenas e grandes bibliotecas populares, rodas de leitura informais, encontros literários ao ar livre. A palavra tem que circular.

Tem que entrar na vida real.

Salientar que que em lugares como Gaza, como Zambézia , Cabo-Delgado e tantos outros pontos, em tempo remoto, também jovens e velhos se reuniam em volta da Fogueira/lareira…

Mais escuta, menos burocracia

Precisamos parar de tratar os escritores como números ou cargos. Cada autor é um universo. Queremos que AEMO se transforme num espaço onde se escuta mais do que se manda. Onde se serve mais do que se exige. A escuta e o conselho serão o centro da nossa atuação.

Nós os jovens escritores da AEMO, candidatamos o Confrade LUÍS CEZERILO, para SG da AEMO, pelo facto deste ter mostrado desde sempre a sua abertura, para apoiar, trabalhar com a Juventude…!

Literatura moçambicana é património

É preciso exigir do Estado o reconhecimento formal da produção literária como bem cultural essencial. Que haja linhas de financiamento permanentes, políticas de incentivo à leitura e subsídios reais para publicar. Nenhum país cresce de costas viradas para a sua própria palavra.

Devemos lutar pela Internacionalização contínua dos Escritores, sobretudo a camada jovem que é quem busca mais oportunidades.

Tecnologia a serviço da criação

Vamos criar uma plataforma digital acessível, onde qualquer escritor, de qualquer província, possa publicar, divulgar e encontrar apoio técnico. A descentralização passa também pelo digital

Desconstruir os muros, abrir as janelas

A AEMO precisa abrir-se ao novo. Trazer vozes jovens, autores, escritores em línguas nacionais, narrativas femininas. Não podemos continuar a reproduzir um modelo elitista e fechado. A literatura moçambicana é múltipla – e deve ser representada como tal.

Mais do que administrar, queremos criar oportunidades. Mais do que dirigir, queremos deixar legado. Mais do que planejar, queremos sentir o que pulsa, o que falta, o que já não se diz.

Queremos uma AEMO que não tenha medo de mudar. Que não tema incomodar. Que não se limite a organizar eventos, que se envolva na formação de leitores, na luta

contra o analfabetismo cultural, na defesa de uma literatura viva, crítica, transformadora.

Porque escrever, no nosso contexto, é um acto político. Um gesto revolucionário e de resistência. E a associação que nos representa precisa estar à altura desse gesto.

Buscamos apresentar a classe e não só, um Secretário Geral que caminha com os pés na terra e o ouvido voltado para o país real, um militante da palavra.

Com coragem, afecto e responsabilidade.

 

A cantora Lenna Bahule lança o novo álbum intitulado “Kumlango”, uma experiência sensorial que a liga às raízes, memórias e recorda a rica herança cultural africana.

O novo disco, que estará disponível a partir do dia 30, nas principais plataformas digitais, significa “portal”, em jaua, língua de um dos principais grupos étnicos e linguísticos da província moçambicana do Niassa, também língua materna da mãe de Lenna Bahule.

“Kumlango” é uma trilogia intercultural, marcada por sons tradicionais de Moçambique e de outras culturas afro, cantados em diferentes línguas como jaua, xitswa, chope, tswa-hlengwe e crioulo da Ilha da Reunião. Mas há também interpretações na língua nómada, autêntica, fruto da criatividade de Lenna para inventar palavras musicais. Baseando-se na música e cultura tradicionais.

O disco ainda explora diferentes texturas sonoras orgânicas e electrónicas para criar uma paisagem de ritmos enraizada no passado, mas olhando para o futuro.

Na sua nova proposta, Lenna Bahule inspira-se na experiência humana universal dos ciclos da vida que repetidamente convidam a passar do mundano e material ao místico, seguindo a vocação. “Portanto, o álbum é uma ode à procura de respostas, ao trabalho árduo e às sincronicidades necessárias para processar e, eventualmente, ao momento de atravessar o portal para um estado de êxtase, euforia e realização”, adianta uma nota de imprensa.

Dividido em três EPs, o disco celebra uma jornada da alma, da ignorância à iluminação, do mundano ao místico. Uma viagem que liga o passado ao presente reconhecendo a herança ancestral, lidando com as questões levantadas e o trabalho envolvido na busca pela realização e, finalmente, atravessando o portal para a alegria da transcendência.

A primeira parte do projecto intitulado Kwisa, saiu em Junho 2024 e representa, claro, o início de uma jornada, a inocência no começo de um ciclo de vida, de uma busca por significado e a reunião para a invocação dos ancestrais, encontrando conexão e orientação através do processo de introspecção e devoção, fortalecendo a alma para a jornada ao desconhecido.

Em Outubro de 2024, a artista lançou o segundo capítulo desta trilogia musical, Nadawi, no qual se encontra meio ao processo de lidar com as questões e respostas que foram levantadas anteriormente. “É uma fase confusa e catártica dos ciclos da vida, quando você sente que não consegue ver o fim do túnel. Até que o façamos. Este é o tempo necessário para processar, rezar, curar e realizar o trabalho interno e externo que nos permite estabelecer uma conexão profunda com nós mesmos e com a nossa ancestralidade. É um momento precioso para nos recolhermos à introspecção, buscando compreender nossas próprias jornadas. É através deste processo de autorreflexão e cura que fortalecemos os nossos laços com a nossa essência mais profunda e com a sabedoria transmitida de geração em geração. É uma jornada de autodescoberta e reconexão, essencial para nutrir nosso crescimento pessoal e espiritual”, adianta ainda a nota de imprensa.

O último EP, Mate, que chegou às plataformas em Março 2025, resume a euforia de finalmente descobrir a felicidade plena, onde as respostas se alinham sem esforço. “É uma sensação semelhante a voar alto, onde as preocupações se dissipam e reina uma paz suprema. Imagine rituais de colheita, onde a abundância da terra é celebrada com reverência e as bênçãos da chuva são recebidas com gratidão. Neste estado de euforia, cada respiração soa como uma sinfonia e cada batimento cardíaco ressoa com o ritmo do universo. É um momento de alegria pura e desenfreada, onde as fronteiras entre o mundano e o extraordinário se confundem, deixando apenas um profundo sentimento de admiração e encantamento”.

Neste momento, Lenna Bahule prepara um concerto para 14 de Junho, em Maputo.

Com 75 anos de idade, uma bibliotecária reformada empurra, todas as semanas, um carrinho-de-mão cheio de livros, que leva para as crianças do bairro Mafalala, na Cidade de Maputo, lerem. Enquanto faz isso, Cecília Mate, sonha com uma biblioteca comunitária com seu nome  e livros para todas as crianças do bairro.

Maputo ainda era Lourenço Marques, quando a paixão pelos livros tomou Cecília Mate, ou melhor a vovó Cecília, como todos a chamam em Mafalala.

Havia poucos livros de leitura lúdica e quase nenhuma biblioteca.

Em 1978, fez parte de um curso que formou os primeiros bibliotecários de Moçambique pós-independente, o que aumentou a sua conexão com os livros.

Em 2014, a avó Cecília tomou uma decisão que terminaria com a sua foto na capa do jornal “O País”. Aos 65 anos, a bibliotecária teve uma ideia: com um carrinho de mão, de beco em beco, a tornar o acesso aos livros possível e fácil para quem não tem condições de os comprar.

Os livros ficam num depósito, antigo quarto dos seus pais, na casa da família. Ali, a avó Cecília estima ter mais de 500 livros.

Com 65 anos, José Mate, irmão da avó Cecília, fala mais de três idiomas e escreve poemas. Diz que tudo tem a ver com o gosto pela leitura que tem desde a infância, por isso aplaude a iniciativa da sua irmã.

Casada, com 4 filhos, 12 netos e 4 bisnetos, a avó Cecília sempre teve apoio da sua família sobre a biblioteca móvel. No entanto, fora de casa, a ideia não foi bem recebida no princípio.

Há 10 anos que a avó Cecília leva livros para os seus netos adotados na Mafalala. Estima que, em média, 70 crianças leiam na sua biblioteca móvel.

Estima-se que existam, em Moçambique, pouco mais de 40 bibliotecas públicas para cerca de seis milhões de estudantes, um número que não satisfaz as necessidades de leitura.

A avó Cecília começou a biblioteca com livros próprios. Agora recebe doações, como a que resulta de uma campanha de um mês feita pela Fundação Fernando Leite Couto.

Cecília Mate nasceu, cresceu e ainda vive em Mafalala.  A bibliotecária reformada sonha com “A Biblioteca Comunitária Avó Cecília”, sem notar que ela é uma biblioteca viva do histórico bairro de Mafalala.

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