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CCMA apresenta “Pieces of Me”

O Centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA), inaugura, esta quarta-feira, a exposição fotográfica “Pieces of Me” , da artista afro-americana Nafeesah Allen. Esta é a primeira exposição

CCMA apresenta “Pieces of Me”

O Centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA), inaugura, esta quarta-feira, a exposição fotográfica “Pieces of Me” , da artista afro-americana Nafeesah Allen. Esta é a primeira exposição

Este ano, celebra-se o centenário de José Cardoso Pires. Para o efeito, o Camões – Centro Cultural Português em Maputo, no âmbito da iniciativa Escritor do Mês, dedica Fevereiro ao escritor português.

A obra de José Cardoso Pires constitui um marco relevante no panorama da literatura portuguesa, estando relacionada com tendências estéticas e com dominantes temáticas que marcaram a segunda metade do século XX.

O escritor nunca se identificou com grupos ou correntes literárias, no entanto, a obra de José Cardoso Pires foi influenciada pelos movimentos neo-realista e surrealista e ficou marcada por preocupações sociais constantes, sendo considerada como uma das mais ricas e significativas.

O Delfim (1968) é geralmente considerada a sua obra-prima, em que o narrador assume uma condição de forasteiro, aparentemente descomprometido com uma realidade anacrónica. Recebido até 1974 como romance neo-realista, o livro tem despertado um interesse crescente como narrativa pós-modernista e, em 2002, foi adaptado para o cinema pelo realizador Fernando Lopes.

Para esta terça-feira, foi agendada uma sessão de animação de leitura, dinamizada pelo escritor e ensaísta António Cabrita, com a participação da actriz Sufaida Moiane, com a leitura de excertos da obra Dinossauro Excelentíssimo (1972).

Para esta quarta-feira, a partir das 17h45, foi agendada uma exibição do filme O Delfim, realizado por Fernando Lopes, baseado na obra homónima de José Cardoso Pires, na Biblioteca do Camões-Centro Cultural Português em Maputo.

Nesta quinta-feira, na Galeria da Associação Kulungwana, na Estação Central dos CFM, Cidade de Maputo, Lizzie Ana Uamusse vai inaugurar a exposição individual Entre Mundos: Ecos do Cosmos e Fluxos Celestiais. A sessão de inauguração da artista considerada pela Kulungwana como uma das promissoras vozes da nova geração de artistas moçambicanos está marcada para as 17h30.

Numa nota de imprensa, a Associação Kulungwana adianta que, através das suas telas, Lizzie Ana convida os apreciadores de arte a mergulhar numa viagem sensorial, onde o visível e o invisível se encontram.

“Inspirada pelo cosmos, pela espiritualidade e pelos sonhos que se manifestam entre cidades flutuantes e paisagens etéreas, a artista constrói narrativas de transição, exploração e conexão. Entre pinceladas vibrantes e texturas em movimento, Entre Mundos: Ecos do Cosmos e Fluxos Celestiais projecta uma visão de futuro onde a criação e a reinvenção das relações sociais são possíveis”.

Referindo-se à exposição, o curador Jorge Dias destaca que Entre Mundos: Ecos do Cosmos e Fluxos Celestiais pode ser entendido como caminho que Lizzie projecta o futuramente para fazer do tempo que está por vir, um despertar pela vontade de conhecer novos universos, sonhar e encontrar razão para a simplicidade no mundo. “Cabe a nós encontrar nestes universos a liberdade de construir novos mundos”, disse.

Lizzie Ana nasceu e cresceu em Maputo, e, desde cedo, encontrou na arte um meio de expressão e descoberta. Autodidata, o seu percurso tem sido marcado por uma exploração contínua da pintura como uma ferramenta para atravessar fronteiras visuais e emocionais. O seu trabalho reflecte um profundo interesse pelo imaginário cósmico, pelo misticismo e pela relação entre paisagem e identidade.

Com um olhar sensível e uma abordagem inovadora, Lizzie Ana afirma-se como uma das artistas mais promissoras da nova geração, trazendo para o panorama artístico moçambicano uma nova linguagem de narrativas visuais e poéticas.

A exposição, que estará patente na Galeria Kulungwana, até 04 de Abril de 2025, adianta a nota de imprensa, é um convite à contemplação e à viagem, uma oportunidade para explorar a liberdade de construir novos mundos.

Na sexta-feira, às 20h, o Centro Cultural Franco-Moçambicano, na Cidade de Maputo, vai recebe a segunda edição do Lovers Rock, um evento que leva ao palco uma celebração do reggae romântico.
O espectáculo reúne músicos moçambicanos de diferentes gerações e estilos, que vão interpretar temas clássicos e inéditos do género.

No país, o Lovers Rock foi introduzido por Dub Rui, músico e DJ moçambicano, conhecido como “Padrinho” do dub no país. Depois da sua estreia em Fevereiro do ano passado, a iniciativa, de acordo com a nota de imprensa do Centro Cultural Franco-Moçambicano, tem vindo a ganhar popularidade, reunindo músicos e apreciadores para celebrar a conexão da música com a cultura local e o reggae romântico.

A segunda edição do evento contará com a participação de artistas moçambicanos de renome, como Dua Maciel, Mingas, Muzila, Onésia Muholove, Pedro da Silva Pinto, Ras Haitrm, Regina dos Santos, Rita Couto, Xixel Langa e Xavier Machiana, acompanhados pela EL B Band, que irão fazer a sua interpretação única para este subgénero do reggae, oferecendo ao público uma mistura de sons e experiências.

O Lovers Rock é um subgénero do reggae que surgiu no final dos anos 1960 e se consolidou na década de 1970, especialmente no Reino Unido, como uma expressão da comunidade negra, trazendo uma abordagem mais romântica ao reggae.

Embora tenha as suas raízes no rocksteady jamaicano, o Lovers Rock se distingue pela forma suave e sentimental com que aborda as questões do amor, das relações e das emoções.

Originalmente influenciado pela soul e pelo R&B, o Lovers Rock tornou-se uma das expressões culturais mais fortes durante uma época de grande tensão racial. A sua popularidade cresceu durante os anos 1980, quando passou a conquistar um público maior, tornando-se uma das vertentes mais conhecidas e apreciadas do reggae em todo o mundo.

Por Jorge de Oliveira

 

O desafio de escrita de um Policial é um enigma em si, por um lado, porque se quer saber até que ponto o escritor tem o tato, a habilidade e a sabedoria, para um Género tão exigente (sem se pretender dizer que os outros géneros não são exigentes, este encerra em

si o mistério), que vive do Suspense, e sobrepõe a incógnita à história, exalta-se mais pela curiosidade em saber «quem fez»; por outro lado, ao lado (passe a repetição) do estilo e do músculo, o leitor é chamado a participar como parte da obra, ao longo do texto, transforma-se em detetive, vai igualmente forjando os seus palpites, faz os seus prognósticos.

Neste livro, a curiosidade nasce logo com o título, «Zero sobre Zero – O Espião que veio de Kigali», pois no vocábulo «espião» assenta a justificação e vontade de ler a construção até ao fim, e ajuda sempre a atiçar o leitor, visto que qualquer pessoa se sente atraída onde se fala em «Segredo» ou «Mistério» ou «Espionagem»: é o reflexo natural, a ponta do iceberg que arrasta as multidões que querem destapar o véu, ver o grand finale.

Sobre isto, importa ouvir Agata Christie quando avisa que «a melhor receita para um romance policial é o detetive nunca saber mais que o leitor», ideia que se materializa ao longo desta narrativa, na qual, afinal, determinada personagem 

« – É testemunha-chave contra o Reverendo! – disse Bachiro a pousar carinhosamente a mão no ombro de Joseph – Encontrei-o semi-morto naquele anexo da casa. Mantenham-no vivo. Nós vamos sair e voltamos com reforço em dois tempos!

– Corremos o risco de ser emboscados à saída! – disse Morito.

Enquanto os polícias e os dois espiões conversavam, One Shot voltava a si, decidido a vingar-se da coronhada que o derrubara. O relampejado de fogo cuspido da pistola sacada da cintura pegou de surpresa os circunstantes.

Como um tronco de bananeira decepada pela base, Joseph tombou sobre o soalho. Um botão vermelho de sangue adornava-o a testa.»

 

E o que é que traz, então, este «Zero sobre Zero», uma operação aritmética que, no fim da estrada, tem como resultado a nulidade? O serviço da Polícia, os enigmas que o seu dia a dia procura desvendar (caso contrário, não seria empreitada policial), os espiões, os espiões dos espiões e a corrupção que sempre grassa na relação entre agentes e criminosos (haverá outra forma destes dois se relacionarem que não seja envenenada pela

improbidade?).

 

A nossa sociedade é corrupta, e, de tão podre que estamos, aceitamos que essa corrupção

– forma de ser e estar – faz parte da nossa cultura, hábitos e costumes, incluindo evidentemente dos detetives, neste caso, ao serviço do Estado. Como resultado, quando se

escreve um romance policial no nosso país a corrupção tem uma palavra a dizer, ajuda-nos

a entender uma ínfima fatia do sub-mundo com o qual vivemos (o crime), presente onde está presente o homem, mas que tentamos ignorar. Dói-nos saber que existe alguém que faz do crime a sua actividade normal, e lá vamos nós seguindo o enigma que é relacionado/provocado pelo espião junto com a descoberta de oficiais corruptos, o que resulta do tratamento das pistas que vão surgindo.

O Género Policial, a acção, a aventura, o crime, sempre cativam o leitor, o telespectador, o ouvinte, porque se quer os polícias a vencerem os ladrões, mesmo quando o malfeitor é simpático ou por qualquer razão ganha a indulgência do destinatário, como neste livro em que se tem um padre envolvido, e, só por isso, se supunha ser límpido nas palavras, nos actos e no coração. Pode-se, aqui, pedir emprestado o ditado, e, no lugar de chorar, relembrar o quanto de carne e osso se faz qualquer um, pois é, no melhor homem cai a nódoa, quer seja filho de Deus ou diabo, jante com um com outro.

Aonde quer chegar este texto? Será que transporta o leitor para a beleza da literatura? Cada um chegará às suas conclusões, mas pelo menos, não foi envenenado pela tentação do uso abusivo de terminologia/cientificidade do mundo da investigação criminal, tocou ao de leve nos formalismos da ciência policial e, quando o fez com maior profundidade, soube fugir ao texto didático/científico/académico – livrou-se dos «pedregulhos», por exemplo, lembrando o equipamento de espionagem, canetas que tiram fotos ou papéis que se auto-destroem, ou narrando factos ligados à investigação, apontando-se aqui a interceptação de um diário com informação de utilidade para a investigação ou a desmontagem de um Cubo de Rubik:

 

«No 2 o andar do prédio do DEOPE, através do intercomunicador, Lioste ditava um texto de e-mail a Marta. Vinheta calculava as horas que seguiam na asa do tempo desde que tomara conhecimento da presença, em Maputo, do espião de Kigali. Rememorou as convicções do reverendo Candanga sobre a necessidade de o continente africano abolir o visto de entrada. «Até os brancos que inventaram a Conferência de Berlim para dividir África já aboliram as fronteiras dos próprios países. Mas nós, os pretos, escolhemos continuar aqui, enjaulados na nossa própria terra»».

 

Zero sobre Zero é um espião, sim, procurado pela Polícia, dentro de uma trama que vai até

ao terrorismo em Cabo Delgado, passa pelos refugiados e emigrantes clandestinos, grupos

numerosos que, nas últimas décadas, chegam a Moçambique com cada vez mais frequência.

 

Dos enfeites da narrativa

É bela e cativante a colocação de provérbios na literatura moçambicana, «Não é preciso uma grande isca para um grande animal», «O rio segue sempre na mesma direção», «Não é o anzol que apanha o peixe», segue-se o Mestre Saramago e faz-se muito bem. Quando surgem no momento certo e lugar adequado mostram elegância, vitalidade e profundidade.

A descrição dos espaços é minuciosa (escritório – rectangular, divisórias pintadas de branco, focos de Led que estrelavam o tecto do cubículo), com marcas profundas do texto dramático – escrita de detalhe e bastante pormenorizada, visto que é lavrado para ser encenado, escrito sem sequer pensar nos leitores – destino ao qual o autor não consegue fugir, por ser a veia de dramaturgo a que serve de fundação da sua prosa e aquela a que mais se afeiçoou e melhor aperfeiçoou como escritor. A narrativa decorre com tiques dramatúrgicos, conta-se de um modo tão detalhado quanto fílmico (de filme – para ser encenado ou feito Sétima Arte),

 

«Lioste passeou vagaroso o olhar pelo perímetro do escritório, um rectângulo que o fazia sentir-se de corpo confinado nas paredes e de espírito subjugado pela inacção. Para afastar a sensação de clausura, disparou o interruptor e as divisórias pintadas de um branco algo desmaiado ressuscitaram para uma tonalidade bastante viva ao foco da luz que jorrava de quatro focos de Led que estrelavam o tecto do cubículo. Em vista panorâmica, de quando em vez, detinha o olhar para fazer uma levíssima pincelada de pestanas na textura dos móveis, com delicadeza de borboleta que voltea pétalas de um arbusto encalhado no jardim».

 

Junte-se a sua marca como cronista, também escreveu crónicas, e ter-se-á um escritor de cento e oitenta graus, qualidade exigível a quem escreve um policial, pois segundo Sherlock

Holmes, «para uma mente ampla, nada é pequeno», o que aqui se encontra, por exemplo,

quando se conta que determinada personagem

 

«Não admitiria que Jofrice saísse sem pagar mais trinta mil do agenciamento. O sangue buliu-lhe na cabeça. O fel da raiva amargou-o na boca e ninguém viu de onde sairia a navalha que Jaguar empunhou para decepar o pénis de Jofrice. No dia da leitura da sentença, na qual o juiz condenou Jaguar a oito anos de cárcere, o castrado estremeceu na língua de rancor ao ameaçar: – Eu sou de Mambone, morrerás morto pelas tuas próprias mãos, Jaguar».

 

Escritor fundamental integrado num momento geracional da literatura moçambicana, a Geração Oásis, neste Zero sobre Zero, Aurélio Furdela conta a história de vários crimes (uma sucessão, incluindo remessas (retroativas) para momentos anteriores àquele em que  se desenrola), apresentando uma antologia de passos de criminosos, escondidos ao longo da narrativa, quando, junto com a explosão da botija de gás, se desfaz o novelo que envolvera polícias, refugiados, imigrantes e mensageiros de Deus, incluindo o mistério em volta da identidade do bandido. Que vilão mais inusitado! O reverendo molda-se num perfil psicológico marcadamente criminoso, com a crença de que o crime compensa ou de que é uma pessoa intocável, mentalidade normalmente presente nos bandidos que capturaram o Estado (que Estado mais frágil!!!).

 

Furdela demarca-se do campo magnético que o obrigaria a escrever lugares comuns, produz uma narrativa que empurra para a compreensão da dinâmica do emaranhado na prosa policial, aponta os pilares que a compõem, 1) Vítimas – o motorista da furgoneta, o jovem do ginásio e do jaguar, 2) Crime – extorsão e corrupção, 3) Investigação – Operação Lucas 12 e na tentativa de descobrir quem é e ao que veio o espião, podendo-se, se quisermos, incluir mais um 4) Culpado ou culpados, descobertos ao cair do pano. Vê-se, ao

longo do texto, o ambiente no qual os inspectores trabalham, «Pilhas de processos mantinham ocupados os agentes visíveis nas cadeiras, trajados de blazeres e gravatas coloridas. Ao passar pelos agentes, Bachiro mastigou um bom dia e, em cinco passos, entrou na sala de trabalho partilhada no dia a dia com Morrito. No edifício central, mesmo ao lado, funcionava o gabinete do Comandante Jane e o do Chefe das Operações, para além da secretaria e, ao fundo, duas celas para onde atiravam detentos.

– Ainda bem que chegas… Operação Lucas 12, sabes de alguma coisa disso?

– Não mais do que tu próprio sabes. – ripostou Bachiro de olhos postos na bíblia que Morrito folheava – Uma operação secreta para investigar e purificar fileiras!»

Habitada por um perfume tocado pela espionagem, com um criminoso internacional, uma máfia e até o envolvimento de detetives, esta narrativa leva-nos a seguir pistas, tentar descobrir o que está à vista mas os olhos não conseguem ver, assim se construindo o policial, uma obra de alegria trágica, tendo o suspense como ponto central, inclusive quando

há um espião que chegou misturado entre a gentalha, facto que não escapou aos “radares” da polícia. No lugar de se manter passiva, a Polícia preferiu a perseguição, afinal, os fora da

lei deixam sempre um rasto, ou se não o deixam o pessoal da secreta inventa, desde que, no fim da linha, pelo farejar qual cão pisteiro se chegue a esses camuflados que colocam o Estado em risco. O que é pôr o Estado em risco? É assunto para outro livro, até porque o nosso não está em risco, há muito que se eclipsou. E segue o livro, sucedem-se as surpresas e a escrita assustadora, quando «Bachiro desejava sair daquele esconderijo que o mantinha com a pele perfurada pelos espinhos. A passos de lã, e resguardado de olhares, caminhou em direcção às dependências da casa. Ao entrar numa delas, sentiu que reinava uma escuridão de breu. Um odor calcinante, quase de queimar as entranhas, cortou-lhe momentaneamente a respiração.»

 

Zero sobre Zero é uma cruzada cujos líderes são polícias/detetives que montam peças soltas até ao desvendar de um negócio de uma máfia igual a tantas e tantas por esse mundo fora. Calhou neste caso que essa criminalidade se tenha vindo instalar em Maputo, local chamado ao texto por algumas das suas avenidas e pelo Portugália, mítico bar incrustado no coração do bairro Central, referência da capital moçambicana.

 

Aurélio Furdela faz o texto singrar por múltiplas vias, com efeito, onde entra a Polícia, vive-se sempre uma situação desagradável, devido sobretudo àqueles que não estão em conformidade com as leis que os humanos seguem. O fluir do texto não desperdiça as técnicas narrativas e permite que mesmo quem não é profissional também possa aprofundar as linhas de investigação rumo ao ponto final.

É gratificante passear no interior deste romance policial, onde a escrita substitui a já batida e muitas vezes esbatida sétima arte, procurando respostas ao mesmo tempo que se tenta satisfazer a curiosidade que este género suscita. Pois. Se Agatha Christie defende que «a evolução é um processo lento», seguindo as coordenadas desta estória, encontra-se um escritor constante, que tem corrido ao longo das últimas duas décadas, e cujo livro conduz ao desdobramento da investigação, fio condutor que apresenta, nos últimos momentos da narrativa, um cair do pano feito à medida.

Não se pede nem exige que este seja o maior e o melhor livro policial escrito em Moçambique, não se pretende, aqui, transformá-lo no best-seller da literatura moçambicana

ou universal, assume-se, tão somente, o texto de um autor que, sendo inicial neste género,

mostra que sabe por que linhas se cose o romance policial, e que, se por esse caminho for,

certamente alcançará o que de melhor este tipo de texto nos pode oferecer.

De Edgar Allan Poe, pai do romance policial, a quem é atribuída a figura dos eyes like windows – mais ou menos, os olhos são o espelho da alma, lembramo-nos ao ler este romance policial, que não deixa de ser um jogo de espelhos, uma convivência com sombras, um vulto de mistérios, porque o um que não existe, por ser zero sobre zero, tem pelo menos duas dimensões:

– um número trinta (30) que é trinta e um (31), ou

– um número trinta e um (31) que é trinta (30).

Afinal, o que é a vida senão um mistério sobre o que será o amanhã?

Cansados que estamos de ver desfilar, em vermelhas passerelles, um marginal que, não se aguentando ele próprio, arma-se em carapau de corrida, qual promotor artístico, e coloca em si próprio uma coroa de nome importado e anglicizado, ainda somos obrigados a  admitir a utilização do nosso belo e profundo MOZ por um qualquer macaco de imitação, sem simbolismo, significado ou validade.

Apesar da coroação da mediocridade e do embrutecimento generalizado, Edgar Allan Poe pode ficar descansado, em Moçambique, a sua arte está bem entregue.

* Título original do texto: A CAMINHO DO DESCONHECIDO

 

A obra “Um Umbigo Arde na Boca”, de M. P. Bonde será lançada no dia 27 de Fevereiro, às 17h30, no Business Lounge by NedBank, Cidade de Maputo

 

No dia 27 do mês em curso, a Gala-Gala Edições vai lançar o livro “Um Umbigo Arde na Boca”, do poeta  M. P. Bonde.

Trata-se de uma obra literária constituída por 60 páginas, com os   cadernos “Margem” e “Porções do Tempo”.

Para Gala Gala, o que melhor define a obra em prosa poética e estrofes é a intensidade e a autenticidade.

O docente universitário Albino Macuácua, que assina o prefácio, escreve: “Este livro é a manifestação de um elevado grau de consciência sobre uma ‘poesia poética e prosaica’ […]”.

Para Macuácua, citado na nota de imprensa da Gala Gala, “Um Umbigo Arde na Boca” representa uma evocação mais do que simbólica do passado, em que o poeta critica uma tendência quase que mórbida e patogénica de se querer construir um presente e também um futuro sem se conhecerem as referências que perfazem e enformam o passado.

Um Umbigo Arde na Bocaintegra a colecção Biblioteca de Poesia Rui de Noronha da Gala-Gala Edições.

A apresentação do livro estará a cargo do Professor e Ensaista Francisco Noa. Sérgio Miambo e Salésio Massango abrilhantarão a tarde com música e poesia, respectivamente.

Sobre o autor

M. P. Bonde nasceu em Maputo. Foi membro do Projecto Jovens e Amigos da Cultura (JOAC) e do colectivo Arrabenta Xithokozelo. Lançou a sua primeira obra literária, Ensaios Poéticos, em 2017. No mesmo ano, foi vencedor da 1.ª edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto, com Descrição das Sombras. Publicou ainda Aroma Fóssil (2022) e o e-book pintando a mudez na pele da língua (2024). Tem textos publicados em jornais, revistas electrónicas e bloguesnacionais e estrangeiros. Em 2018, obteve o 2.º lugar no 14.º Prémio Escriba de Poesia (São Paulo). É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO).

Para mais informações, por favor, não hesite em contactar-nosatravés dos seguintes meios:

Nesta quinta-feira, às 18 horas, Vasco Manhiça vai inaugurar a sua nova exposição de pintura. A oitava individual do artista plástico tem como título “As paredes também falam”

 

Na nova mostra, Vasco Manhiça propõe um exercício visual sobre a cidade, a memória e a estética urbana, explorando a cor como um arquivo de vivências e histórias colectivas. 

Com a naturalidade de Nampula, no entanto criado no Bairro do Aeroporto, nos subúrbios de Maputo, Vasco Manhiça toma a cidade como personagem central da sua obra, capturando superfícies marcadas pelo tempo e pelo desgaste da vida urbana. Entre centro e periferia, entre paredes e becos e atalhos, artérias e avenidas, ruas e ruelas, o artista ressignifica texturas e camadas de tinta descascada, num diálogo mudo que agora ganha voz através da arte.

A inauguração de “As paredes também falam” contará com uma performance musical inédita de Hilário Manhiça & Humberto Tandane Jr., proporcionando uma experiência sensorial que une artes visuais e sonoridade.

A individual é uma produção do Museu Mafalala, com curadoria de Ivan Laranjeira, e conta

com o patrocínio da Dulux Mozambique – JM Trading, cuja contribuição foi essencial para

que o projecto se concretizasse. 

O evento também recebe o apoio do CIEDIMA – Central Impressora e Editora, além da parceria institucional do Ministério da Cultura e Turismo, do Município de Maputo e do ICOM Mozambique.

A exposição estará patente no Museus Mafalala, na Cidade de Maputo, entre 20 de Fevereiro e 16 de Março.

 

“Grito, o mundo gagueja” é o título do livro de estreia de Alcione Thulani Amós, que será lançado às 17 horas do dia 28 deste mês, na Cidade de Inhambane

 

Alcione Thulani Amós nasceu no Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor, na Cidade de Inhambane. A menina que frequenta a 8ª classe tem crescido com livros graças ao pai, que, não sendo um grande leitor, procura preencher a adolescência da filha com obras literárias. 

No próximo dia 23 de Abril, com efeito, Alcione Thulani Amós vai completar 14 anos de idade. No entanto, antes de mais um aniversário, a menina com altura média, olhar enigmático, serena e que mal disfarça a timidez diante de “estranhos”, tem um compromisso bem registado na sua agenda: lançar o seu livro de estreia, “Grito, o mundo gagueja”.

A cerimónia de apresentação pública da obra literária vai realizar-se no dia 28 de deste mês, às 17 horas, no Hotel Escola, na Cidade de Inhambane. Trata-se de um livro de poesia, constituído por 48 textos que perfazem 59 páginas. 

Para Jeconias Mocumbe, coordenador editorial da Massinhane Edições, que chancela a publicação, a escrita de Alcione Thulani Amós “reflecte uma profunda introspecção sobre emoções universais, como solidão, saudade, angústia e identidade”. E o coordenador editorial acrescenta: “É um mergulho profundo na alma humana, expressando angústias, dúvidas e esperanças através de versos que ecoam como sussurros e gritos ao mesmo tempo. A poesia de Alcione Thulani Amós percorre os recantos da existência, explorando o peso do silêncio, a fragilidade dos sentimentos e a luta incessante pela identidade. Seus versos desenham cenários emocionais intensos, provocando reflexões e transportando o leitor para um universo de palavras que gaguejam, mas que também gritam a verdade de quem as lê”. 

Um dos 48 poemas que constitui o livro de Alcione Thulani Amós é “Eu konfiei em ti”, no qual se lê: “Eu confiei em ti…/ E sim, escrevi com “k”/ Porque tal como esta palavra/ Eu cometi um erro.” (p. 39). 

A apresentação do livro de Alcione Thulani Amós foi confiada a Florentino Maria Lourenço.

Sobre a Autora 

Alcione Thulani Amós nasceu a 23 de Abril de 2011, na cidade de Inhambane, onde vive no Bairro Muele-2. Além da poesia, é apaixonada pela leitura, pelo desenho e pela ilustração. 

Aos 13 anos de idade, a poetisa frequenta a 8ª classe, na Escola Secundária 3 de Fevereiro de Inhambane,. Segundo os seus, “destaca-se por sua curiosidade intelectual e pelo amor em explorar novas formas de expressão, especialmente no mundo das histórias em quadrinhos”.

 

O livro “Dzimbadas”, de Sérgio Zimba, já tem data de lançamento. Os cartoons serão apresentados ao público esta terça-feira, às 17h30, numa cerimónia a ter lugar no Instituto Guimarães Rosa (antigo Centro Cultural Brasil-Moçambique), na Cidade de Maputo.

O livro será apresentado pelo humorista e cartoonista Bruno Belchior, num evento que terá como um dos convidados o poeta Tchaka Waka Bantu.

No seu prefácio, o escritor Marcelo Panguana refere que “Dzimbadas” transporta consigo personagens pescados na realidade circundante, com todos os tiques que a caracterizam: a violência, o amor, a esquizofrenia, a corrupção, o machismo, as politiquices, a estupidez, a mesquinhez e outras coisas que tais, e Zimba, prolonga-se Panguana ri-se deles, e para que o seu riso não seja solitário convoca-nos, para que sejamos capazes de rirmo-nos, todos, de nós próprios, página à página, nesse humor provocante, acutilante, elegante e por isso saudável.

“É exactamente este seu sentido de humor, que nos conforta, renova e nos redime de todos os nossos pecados. O resto não tem nenhuma importância”, escreve o escritor rendido ao cartoonista.

De acordo com Marcelo Panguana, Sérgio Zimba não precisa de recorrer a fervorosos discursos no alto de qualquer palanque para que a sua voz se oiça; não necessita de inventar metáforas como aquelas que decoram os livros dos escritores mais venerados do seu país; não tem necessidade de exibir panfletos pelas ruas para expressar o seu descontentamento; apenas lhe basta o papel, a caneta, a tinta-da-china, para dar evasão a esse sentido crítico que se manifesta através do seu sentido de humor.

“Trata-se duma espécie de militância que Sérgio Zimba persegue ao longo dos últimos anos e que o transformaram num dos humoristas mais credenciados desta pátria”, aponta Marcelo Panguana, citado num comunicado de imprensa sobre a sessão de lançamento do livro.

Os cartoons de Sérgio Zimba contam, de forma satírica, aquilo que acontece nos nossos conturbados dias, demostrando que um artista deve ser também um homem atento ao que ocorre em todas esferas sociais, um homem do seu tempo, um humorista que “não faz graça de graça”.
O livro “Dzimbadas” é uma edição da Editora TPC e conta com a maquetização de Bruno Belchior, de Madeira Zimba, revisão de Pedro Muzonda e coordenação editorial de Cremildo Bié.

Conforme disse ao jornal O País, no seu novo projecto, Sérgio Zimba reúne em livro um conjunto de cartoons diversificados. Partindo de um contexto afectado pela pandemia da COVID-19, Zimba retrata, vivamente, a vida social dos moçambicanos. Por isso mesmo, garante, os leitores “Vão encontrar no meu livro coisas sérias retratadas de forma hilariante, do nosso dia-dia”.

A ideia do livro “Dzimbadas” tem motivação “documental” e “memorialista”. Ao produzi-lo, o autor quis prender parte das situações que, em 2020, alteraram as rotinas dos moçambicanos e de vários cidadãos do mundo, numa crise sanitária com efeitos económicos muito graves.

Assim, em “Dzimbadas” há peripécias que lembram o poder dos mahindras (viaturas usadas pela polícia em Moçambique) na fiscalização dos que, nas barracas, teimaram em gozar o proibido prazer da convivência, num contexto em que as palavras de ordem eram “ficar em casa”.

Com o seu livro, Sérgio Zimba espera, portanto, manter a memória colectiva activa, de modo que os leitores saibam sempre como lidar com as pandemias ou com as crises que, ciclicamente, afectam os países. “Apesar de a COVID ter passado, as narrativas do livro continuam actuais.

Porque há mensagens intemporais. Até porque a COVID não é a primeira pandemia do mundo e pode ser que apareçam mais coisas. Esse aspecto da prevenção, por exemplo, é uma lição a manter”, sublinhou ao jornal O País.

SOBRE O AUTOR

Sérgio Salvador Domingos Zimba, do seu nome completo, nasceu no Hospital Distrital da Moamba, no dia 31 de Julho de 1963. É filho de Domingos Mundau Zimba (já falecido) e de Felismina Baloi Zimba. Toda a sua infância foi passada em Ressano Garcia, sua terra de coração.
Depois de concluir o ensino primário na localidade de em Ressano Garcia, seguiu para Namaacha, onde prosseguiu com os estudos secundários e posteriormente para a Escola Secundária Francisco Manyanga, na cidade de Maputo.

Começou a publicar os seus cartoons no Jornal Domingo, no ano de 1990. Tinha neste semanário uma rubrica denominada “Coisas de Maputo”. Colabora com várias instituições públicas e privadas.
No seu acervo bibliográfico conta com 12 livros publicados.

Na próxima sexta-feira, o músico Cheny wa Gune vai apresentar o concerto M’Saho, a partir das 20 horas, na Sala Grande do Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), na Cidade de Maputo.

O espectáculo musical, de acordo com o comunicado de imprensa do Centro Cultural Franco-Moçambicano, vai oferecer uma viagem imersiva pelas tradições do povo chope, em que a timbila, em fusão com instrumentos modernos, cria uma experiência única de celebração da cultura moçambicana.

Membro fundador da banda Timbila Muzimba e líder do Cheny Wa Gune Quarteto, Cheny é conhecido pela sua abordagem inovadora da música tradicional.

O concerto musical promete ser uma performance poética e dançante, com o público convidado a participar de forma espontânea, criando um ambiente único e imersivo.

Para tornar a noite ainda mais especial, o concerto contará com convidados surpresa, prometendo momentos emocionantes e inesperados, adianta a organização.

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