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Sérgio Raimundo lança, amanhã, o livro “O Colono Preto Saiu do Guarda-Fato”, no Centro Cultural Português, Camões, sob a chancela da Editora Oficina de Textos. A  apresentação da obra será feita pela escritora Deusa d´África.  

“O Colono Preto Saiu do Guarda-Fato” é um livro de crónicas sobre  Moçambique, uma espécie de celebração, em jeito literário, dos 50 anos de  independência. A obra aborda diversas temáticas ligadas a Moçambique, com o  intuito de provocar e questionar o leitor, convidando-o a reflectir sobre os últimos  acontecimentos que tiveram lugar em Moçambique, e nos 50 anos de  independência. As crónicas do livro seguem, em parte, a linhagem de escrita  defendida por Jorge Amado – “a história não deve ser explicada, mas contada”. 

SOBRE O AUTOR 

Sérgio Raimundo nasceu em Maputo em 1992, no bairro de Chamanculo. É  licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique,  mestrado em Ciências de Educação pela Universidade de Algarve, Portugal.  Actualmente, frequenta o doutoramento em Ciências da Comunicação no ISCTE  – Instituto Universitário de Lisboa, Portugal. É escritor, professor, jornalista e  cronista, colaborando em diversos órgãos de comunicação em Moçambique e  Portugal.  

A Associação Cultural Converge+ e o Projecto Festival Raiz vão estrear a performance Wamini Wamini, dos bailarinos Enoque Simomole, Bobby Bakhar e Mutualibo, na sexta-feira, às 18h30, na Casa Velha, Cidade de Maputo.

Wamini Wamini é uma viagem coreográfica que entrelaça a força ancestral da dança tradicional com a liberdade expressiva da dança contemporânea. 

Inspirada pela ideia de que todos carregam raízes que nos ligam à origem, resgata movimentos, ritmos e símbolos herdados das práticas rituais e ancestrais, com o vigor do nhau, coroxo, xigubo e outras expressões corporais comunitárias, e os reconstrói num diálogo com o corpo contemporâneo.

Em cena, três bailarinos percorrem cinco momentos que reflectem o ciclo da vida: nascimento, ligação à terra, comunhão com a comunidade, confronta com o tempo e, por fim, o regresso simbólico às origens.

Cada gesto ecoa memórias colectivas, enquanto a música funde tambores e vozes tradicionais com texturas sonoras modernas, criando um espaço onde passado e presente se reconhecem.

A performance celebra a essência que atravessa gerações, lembrando que, independentemente do caminho trilhado, todos resultam da tradição e é nela que se encontra o verdadeiro movimento.

Wamini Wamini é a segunda apresentação pública dos resultados da Formação para a Profissionalização de Bailarinos Tradicionais em Contexto Contemporâneo, que decorreu de 2 a 27 de Junho, na Cidade de Maputo.

O programa é financiado pelo Fundo Création Africa – Moçambique, da Embaixada de França em Moçambique, e é implementado pela Associação Cultural Converge+ e o Projecto Festival Raiz, com o apoio do Centro Cultural Franco-Moçambicano.

 

Por: Paula Cristina

 

A literatura e a música moçambicana têm-se revelado cruciais para a reflexão sobre a identidade, não como ponto fixo, mas como um território em movimento, permeado por encontros, desencontros e reconstruções constantes.

O poema “Rio Inharrime”, de Otildo Guido, e a música “Xitchuketa Marrabenta”, de Stewart Sukuma, parecem, à primeira vista, propor gestos distintos. Uma obra mergulha na introspecção de um eu que hesita entre o que é e o que finge não ser. A outra explode em corpo, ritmo e pertença colectiva. É precisamente nesse contraste que ambas as obras se cruzam. Juntas oferecem interpretações complementares sobre o ser moçambicano, a partir de dois movimentos distintos: o rio que busca desaguar e a roda que gira para se afirmar.

Logo no início do poema de Otildo Guido, o sujeito poético confessa:

 

“Sou mistura

do que ainda não sou

e do que finjo não ser”

 

É uma declaração de identidade fragmentada, inacabada, por vezes negada. Este “ser” em constante desconstrução ecoa experiências reais de jovens moçambicanos que oscilam entre heranças culturais e imposições modernas. Fingir não ser pode significar silenciar raízes para sobreviver ou adaptar-se. O sujeito que se expressa nesse poema está em suspensão, como o rio que ainda não encontrou o seu mar.

A escolha do título “Rio Inharrime”, não é apenas geográfica, é simbólica. O distrito de Inharrime, na Província de Inhambane, é conhecido pela abundância de águas, lagos, riachos e uma ancestralidade ainda muito presente. É um lugar onde a terra se encontra com o mar, como se a geografia projectasse a identidade híbrida do eu poético. 

Quando o poema afirma: “Sou praia de água doce, sou rio de água salgada”, propõe uma contradição que é, afinal, profundamente moçambicana: a coexistência de elementos opostos, de culturas sobrepostas, de modos de vida em constante negociação.

Essa tensão também habita na música de Stewart Sukuma, embora por outras vias. Em “Xitchuketa Marrabenta”, não há hesitação. A identidade é proclamada com força e orgulho:

 

“Eu sou o pé que varre o chão

o pavor da solidão

afugento a escravidão

sou o pobre e sou o pão”.

 

Aqui, o sujeito canta-se a si mesmo como um corpo colectivo. A marrabenta não é apenas um ritmo, é símbolo da tradição reinventada da resistência cultural. A roda que gira, os pés descalços que levantam poeira, a voz que chama para dançar, tudo isso, na música, configura uma pertença que se vive em comunidade, sem medo do passado e sem vergonha do presente.

Ler o poema e cantar a música permite perceber dois modos de se ser moçambicano: o que procura o lugar e o que o habita com festa. 

 

No poema, há um sujeito que tomba:

 

“E tomba no chão

para ser realmente de novo

a semente que dá origem

ao recomeço do fruto”.

 

A queda aqui não é fracasso, mas recomeço. A imagem da semente que morre para germinar faz parte da cosmovisão africana, onde os ciclos são fontes de vida. No entanto, apesar dessa beleza simbólica, o poema falha em dar materialidade às suas imagens. As metáforas como o fruto, semente, chuva, são repetidas, mas não aprofundadas. Falta-lhe o chão, cheiro, gesto. O território de Inharrime poderia ter sido mais vivido no texto, com referências concretas à cultura local, aos rios, aos sons e à memória sensorial da terra.

Em contraste, a música de Stewart Sukuma pisa firme no concreto. A identidade aqui é corpo: “Sou a mão que batuca e que esfrega teu corpo no chão”. A música reinventa a tradição não apenas com palavras, mas com acção. “Vem pra roda, tira sapato, levanta a poeira, senta em baixo, reinventa a marrabenta”. Essa passagem funciona como um chamamento colectivo, um retorno às raízes através do gesto. Não se trata de olhar para trás com nostalgia, mas de transformar o passado em matéria viva.

Mesmo assim, nem tudo são certezas na música. A força celebrativa da letra quase não dá espaço para conflito ou dúvida. A identidade é apresentada como plenitude, como se não carregasse feridas ou ambiguidades. Essa ausência de tensão enfraquece um pouco a potência crítica da canção. 

O poema, por outro lado, carrega essa hesitação, e talvez seja por isso que o seu desfecho pareça menos afirmativo. “Enrolado no abraço dos machopes” é um verso bonito, mas algo vago. Após tanta inquietação identitária, o reencontro com o colectivo parece mais um consolo do que uma reconstrução. O poema esboça o gesto, mas não o desenvolve com a mesma força com que a música constrói a roda dançante.

Em última instância, o sujeito poético e o sujeito musical pertencem ao mesmo país. Um interroga, o outro responde. Um procura terra firme, o outro pisa e dança. Um tomba, o outro levanta a poeira. Ambos estão em travessia. Ambos nos oferecem espelhos: da dúvida e da celebração, da mistura e da afirmação. E talvez ser moçambicano seja isso, carregar o silêncio do rio e o som da marrabenta. Porque, no fim, o que queremos todos é isso, um lugar onde a semente possa germinar, o corpo dançar e a alma, enfim, pertencer…

Na próxima sexta-feira, a partir das 18 horas, o Centro Cultural Moçambique-China será palco de um dos momentos mais marcantes da música moçambicana: o concerto de celebração dos 50 anos de carreira da cantora Elvira Viegas.

Com uma trajectória ímpar na cultura nacional, Elvira Viegas junto da produtora Khuzula prepara um espetáculo especial que visa revisitar os principais capítulos da sua carreira artística, trazendo ao público músicas carregadas de memórias, emoção e crítica social. A celebração será também um espaço de homenagem aos artistas que, ao longo dos anos, partilharam o palco e a vida com a cantora, com destaque para a Ivone Viegas, e, a título póstumo, ao seu irmão Pacha Viegas, cujas composições permanecem como legado incontornável da música nacional.

O concerto contará com uma sequência de canções e performances que espelham a riqueza da obra da artista e suas parcerias estratégicas. Entre os momentos mais esperados estão a interpretação de orquestra Xiquitsi, Alvin Cossa, bem como composições que marcaram a carreira de Elvira, como “Coração de Pedra”, “Xihlovo xá u tomi”, “Nwamatibyana II”, “Kupepa”, “Tiva Tako”, “Lirere”, entre outras.

A noite também reserva tributos especiais: Ivone Viegas interpretará “A hitwananeni hi kweru” e “Loku hi nga londrovoti”, mensagens de apelo à solidariedade e educação. Já a memória de Pacha Viegas será celebrada com a canção “Psihono Psaku”, recordando a importância do julgamento justo e da empatia.

 Entre poesia e música, o espetáculo trará ainda momentos de reflexão através dos poemas “Mesmo de rasto eu quero que me escutem!” de José Craveirinha e “Ora chegou!”, de Jorge Rebelo (antigo combatente), fundindo literatura e música num mesmo palco.

Ao longo de 24 momentos, Elvira Viegas conduzirá o público por um percurso artístico que é também uma viagem pela história recente de Moçambique, abordando temas como paz, infância, solidariedade, luta social e esperança.

Mais do que um concerto, este será um marco histórico na música moçambicana, celebrando não apenas a carreira de uma das maiores vozes do país, mas também a memória coletiva de gerações que encontram na arte um reflexo da sua própria caminhada.

De realçar que as instalações da XHUB – Incubadora de Negócios Culturais e Criativos, sitos na Cidade de Maputo, no dia 27 de Agosto corrente, pelas 11 horas acolheram a conferência de imprensa do concerto de celebração de 50 anos de carreira de Elvira Viegas, onde a produção, junto da cantora e parceiros partilharão mais detalhes relacionados com o concerto. 

Na passada quinta-feira, arrancou, em Maputo, a residência artística que junta 16 jovens artistas emergentes de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. O resultado das próximas três semanas de criação e troca artística será apresentado ao público num espectáculo multidisciplinar, no palco do Centro Cultural Moçambique-China, no próximo dia 12 de Setembro.

A iniciativa integra o “Resistência e Afirmação Cultural”, projecto que visa investigar e recriar manifestações artísticas ocorridas durante o processo de libertação colonial dos PALOP e de Timor-Leste, assim como durante as lutas antifascistas em Portugal, promovendo uma releitura crítica da produção cultural.

Para esta residência, organizada numa parceria entre a Associação Cultural Scala e a Khuzula, foram recebidas mais de uma centena de candidaturas de artistas dos sete países. O espectáculo final, que cruza teatro, música, dança e poesia, reunirá em palco mais de 50 intervenientes, entre residentes e outros moçambicanos que integram a banda e asseguram toda a produção técnica. O produto final será filmado e documentado, para que, mais tarde, integre a plataforma digital CASA, uma biblioteca virtual das artes performativas dos países envolvidos no projecto.

Para Sol de Carvalho, da Associação Scala, Director-Geral da Residência, a iniciativa assume particular relevância no contexto das comemorações dos 50 anos das independências dos PALOP.

Citando um dos entrevistados do projecto, Sol aponta que a guerra acabou, mas as feridas ainda sangram no corpo da nossa história. “O palco é onde vamos expor essas cicatrizes e, quem sabe, iniciar a sua cura. Esta residência não dá respostas, mas lança pistas, provoca diálogos e, sobretudo, junta ideias”, disse, acrescentando que “no fim, a ideia é criar colectivamente em residência, assinando colectivamente a obra final”.

Júlia Novela, Produtora Artística da Residência (Khuzula), fala sobre a fusão artística. “O importante é ter a simbiose, a conexão, a união para criar algo novo.

Não importa se é o semba de Angola, a morna de Cabo Verde, o gumbé da Guiné-Bissau, a marrabenta de Moçambique, o puxa de São Tomé e Príncipe, o tebe-tebe de Timor-Leste ou a balada de Portugal. No fundo, é tudo conversa de irmão.”

O projecto Resistência e Afirmação Cultural é coordenado pela Associação Cultural Scala, de Moçambique, e reúne sete instituições dos países de língua portuguesa. A iniciativa conta com o apoio do PROCULTURA, uma acção do programa PALOP–TL e UE, financiada pela União Europeia, co-financiada e gerida pelo Camões, I.P., e co-financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que dispõe de um orçamento total de 19 milhões de euros e tem como objectivo contribuir para a criação de emprego nas actividades geradoras de rendimento na economia cultural e criativa nos PALOP e em Timor-Leste. O projecto conta ainda com o apoio estratégico do Governo de Moçambique e da Rede de Centros Culturais Portugueses nos PALOP.

No próximo dia 27, às 17h30, será lançada a antologia de prosa intitulada “Construir amanhã com barro de dentro – vozes do pós-independência”, organizada pelos escritores e jornalistas Eduardo Quive, de Moçambique, e Israel Campos, de Angola.

A obra reúne 19 contos de escritores dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), nomeadamente Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, países que têm em comum a celebração da efeméride dos 50 anos de independência. 

Trata-se de escritores nascidos no período pós-independência que, na sua maioria, já são referência na literatura contemporânea africana e outros promissores que têm vindo a destacar-se pelo seu talento. São eles Amadu Dafé, Ailton Moreira, Alice Pessoa, Edson Incopté, Eileen Barbosa, Happy Taimo, Ivanick Lopanza, Janine Oliveira, Jessemusse Cacinda, Luana Cardoso Pereira, Marinho Pina, Maya Ângela Macuácua, Mélio Tinga, Oliver Quiteculo, Pedro Sequeira de Carvalho, Rosa Soares e Sérgio Fernandes, incluindo os contos dos organizadores, Eduardo Quive e Israel Campos.

A antologia conta com o prefácio da consagrada escritora moçambicana Paulina Chiziane e de Inocência Mata, professora de Literatura e Estudos de Cultura na Universidade de Lisboa.

“Nestes textos, há mais choro do que dança. São textos de choro, denúncia e revolta.

Mas, fiquemos claros. Choro é dor ou saúde. Por vezes, birra, rebelião, revolução. Quem não chora não mama. É preciso gritar para desassossegar.” escreve Paulina Chiziane.

“Esta antologia convida o leitor a ler devagar, a cruzar vozes, a ouvir os silêncios. A cada página, uma pergunta se insinua: que Independência ainda falta conquistar? Ao longo destas páginas, encontraremos palavras que doem e inquietam, mas também que motivam, que dão esperança. Palavras que querem reinventar a gramática de uma história que se sonhou diferentes. Estes autores jovens escrevem a partir da experiência concreta, mas não deixam de encarar os precipícios do seu tempo. E a escolha do título di-lo: firmes na terra que pisam, esses jovens autores estão atentos às fracturas e silêncios que se abrem diante deles, narrando o presente com amarga lucidez. Não celebram, denunciam. Não proclamam verdades, sussurram dúvidas, expõem inquietações, revelam frustrações. E ainda assim, ou por isso mesmo, renovam o gesto inaugural dos poetas da Independência”, afirma no posfácio a professora Inocência Mata.

 

Os organizadores

Eduardo Quive é jornalista e escritor. Publicou, entre outros, A cor da tua sombra (Romance, 2025), Mutiladas (Contos, 2024), Para onde foram os vivos (Poesia, 2022) e O Abismo aos pés – 25 escritores lusófonos respondem sobre a iminência do fim do mundo em 2020 (co-autor, Entrevistas). Co-fundou a Catalogus e é colaborador da Fundação Fernando Leite Couto.

Israel Campos é jornalista e escritor angolano, vencedor da 2ª edição do Prémio Literário Imprensa Nacional/Casa da Moeda (2024) e do Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro (2025). Com quase uma década de experiência na imprensa, colabora como freelancer para a imprensa internacional em órgãos como a BBC, Voice of America, Al Jazeera e Wall Street Journal. Em 2023, publicou o seu romance de estreia E o Céu Mudou de Cor (Kacimbo, 2023). Actualmente é doutorando em Media e Comunicação na University of Leeds.

 

A Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane, na Cidade de Maputo, acolhe, a partir de hoje até segunda-feira, a segunda edição do Mozambique Music Hackathon, um evento pioneiro que une música, tecnologia, empreendedorismo e inovação.

Inserido no âmbito do procjeto “Construindo com a Música”, financiado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) e promovido pela AGAPE ETS, em parceria com o Ministério da Educação e Cultura, o encontro reúne cerca de 60 participantes organizados em 15 grupos que, durante quatro dias, irão desenvolver soluções criativas para os principais desafios da indústria musical em Moçambique.

Segundo a ECA, o programa do evento inclui conferências sobre direitos de autor na música, painéis de debate, sessões de hacking intensivo, workshops, momentos de networking e um showcase musical com artistas emergentes e convidados especiais.

Entre os temas em destaque, estão o empoderamento feminino, a internacionalização dos artistas, o turismo cultural e a criação de redes profissionais, considerados estratégicos para o crescimento do sector.

As equipas apresentarão os seus projectos no último dia, 25 de Agosto, perante um júri composto por especialistas nacionais e internacionais. 

Os vencedores terão a oportunidade de representar Moçambique em eventos globais de referência, como a Milano Music Week 2025 (Itália) e o Music Imbizo 2026 (África do Sul).

 

A Primeira-Ministra, Benvinda Levi, encoraja a mulher moçambicana a escrever obras literárias para partilhar o seu conhecimento e as suas utopias, escreve a AIM.

De acordo com a Primeira-Ministra, o acto da escrita permite que as mulheres encontrem outra forma de se expressar, que transcende a dimensão da oralidade, criando, assim, um campo para explorar as capacidades que muitas mulheres têm de ler e escrever.

“Eu acho que as mulheres devem escrever, porque elas têm muito conhecimento que é transmitido oralmente e hoje temos muitas mulheres com capacidade de ler e escrever e seria bom que elas pudessem transmitir não só os seus conhecimentos, mas também as suas utopias”, segundo a AIM, disse Benvida Levi, que falava durante a visita a uma feira de exposição, no Pavilhão Municipal de Tete, que expõe, entre outros artigos, obras literárias.

Ainda de acordo com a fonte, a Primeira-Ministra entende que com as mulheres a escrever pode-se propiciar que o mundo saiba dos sonhos, projectos e reflexos das mulheres. Por isso, a governante incentiva acções a favor das mulheres, citando como referências escritoras renomadas, como Paulina Chiziane, Noémia de Sousa e Lília Momplé. 

 

A 5 de Setembr, às 12h00, no Instituto Superior Maria Mãe de África (ISMMA), em Maputo, será apresentado o livro “A Deslocada Joaquina”, de John Kanumbo, uma obra que se ergue como denúncia, memória e resistência diante da tragédia vivida em Cabo Delgado.

“A Deslocada Joaquina” traz à tona os rostos invisíveis da guerra, os deslocamentos forçados, a vida interrompida de milhares de famílias, a dor de uma terra mutilada pelo terrorismo e pelo abandono.

Na figura de Joaquina, o autor constrói uma narrativa marcada pela resiliência feminina, pela força de quem resiste mesmo diante do horror inimaginável. Através do testemunho da personagem, gritam não apenas histórias individuais, mas também o retrato colectivo de uma população que foi obrigada a deixar tudo para trás — casas, tradições, sonhos — para salvar a vida.

O livro denuncia, sem medo, o abuso de poder, o silêncio cúmplice e as promessas não cumpridas. É um grito que questiona a própria soberania e segurança do Estado, chamando atenção para as responsabilidades esquecidas.

“A Deslocada Joaquina” não se limita à denúncia. É também uma ponte de solidariedade, um apelo à consciência colectiva e um convite a não virar o rosto diante do sofrimento humano. Nas palavras do autor, trata-se de uma tentativa de eternizar a memória dos deslocados, de modo que nem a indiferença nem a distância nos privem de sentir a dor e a esperança que os acompanham.

O lançamento será um momento reflexivo e cívico de grande significado, reunindo estudantes, professores, religiosos, escritores, jornalistas e todos aqueles que reconhecem na literatura um espaço de reflexão crítica e transformação social.

O livro, mais do que literatura, pretende ser um documento humano e histórico. 

Sobre o Autor

John Kanumbo é escritor, cronista e crítico social. Natural de Cabo Delgado, tem dedicado a sua obra à reflexão sobre política, sociedade, religião e as dores que atravessam Moçambique contemporâneo. Com “A Deslocada Joaquina”, o autor afirma-se como uma das vozes mais severas e comprometidas com a verdade.

 

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