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Crianças perderam 2 biliões de horas de aprendizagem presencial em todo o mundo devido à COVID-19 

Foto: O País

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o número de crianças que abandonam a escola está prestes a aumentar à medida que a pandemia da COVID-19 caminha para o seu terceiro ano consecutivo.

Prova disso é que 23 países ainda não abriram completamente as escolas, afectando quase 405 milhões de crianças em idade escolar, sendo que a maioria está em risco de desistir, segundo um novo relatório do UNICEF divulgado esta quarta-feira, intitulado “Are children really learning?”, ou seja, “As crianças estão realmente a aprender?”.

O documento aponta que quase 147 milhões de crianças faltaram a mais da metade da sua escolaridade presencial, nos últimos dois anos. Isto corresponde a 2 biliões de horas de aprendizagem presencial perdidas em todo o mundo.

“Quando as crianças não são capazes de interagir directamente com os seus professores e os seus pares, a sua aprendizagem sofre. Quando não são capazes de interagir com os seus professores e pares, a sua perda de aprendizagem pode tornar-se permanente”, disse Catherine Russell, directora executiva do UNICEF.

De acordo com Russell, esta desigualdade crescente no acesso à aprendizagem significa que a educação corre o risco de se tornar o maior divisor, e não o maior equalizador.

Além dos dados sobre a perda de aprendizagem, o relatório aponta para provas emergentes que mostram que muitas crianças não regressaram à escola quando as suas salas de aula reabriram.

Por exemplo, em Moçambique, o UNICEF avança que o encerramento das escolas afectou cerca de 80% do ano lectivo de 2020 para alunos das classes sem exames, bem como para jovens e adultos. No ano lectivo de 2021, escolas em áreas de alto risco foram fechadas de 19 de Julho a 27 de Agosto, ou 30 dias lectivos. Isso representa 18,7% do ano lectivo, afectando 18% do total de alunos do ensino primário e secundário.

Comparativamente a outros países africanos, na África do Sul, o número de crianças fora da escola triplicou de 250.000 para 750.000 entre Março de 2020 e Julho de 2021. No Uganda, cerca de 1 em cada 10 crianças em idade escolar não regressou à escola em Janeiro de 2022 depois de as escolas terem sido encerradas durante dois anos. No Malawi, a taxa de abandono escolar entre as raparigas no ensino secundário aumentou em 48%, de 6,4% para 9,5% entre 2020 e 2021. No Quénia, um inquérito a 4.000 adolescentes entre os 10 e 19 anos de idade revelou que 16% das raparigas e 8% dos rapazes não regressaram quando as escolas reabriram.

“As crianças fora da escola (que não frequentam escolas) são algumas das crianças mais vulneráveis e marginalizadas da sociedade. São as menos capazes de ler, escrever ou fazer contas básicas, e estão isoladas da rede de segurança que as escolas oferecem, o que as coloca num risco acrescido de exploração e numa vida inteira de pobreza e privação”, revela o UNICEF.

No caso de Moçambique, o UNICEF reconhece terem sido realizadas acções para reabrir as escolas. Entretanto, para esta instituição das Nações Unidas, as crianças precisam de apoio suplementar para recuperar os conteúdos académicos, sobretudo porque alguns alunos só podem ter as aulas presenciais alguns dias por semana, ou as crianças nas zonas afectadas por emergências tiveram interrupção de aprendizagem por causa dos ciclones ou crise do norte do país.

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