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Crianças festejam seu dia fazendo o que mais gostam: brincar!

“A criança tem direito de brincar, estudar e ser feliz, todos nós temos esses direitos e ninguém deve roubar-nos”, disse Yunick Milton, menino de 11 anos, aluno da 6ª classe e residente no bairro Chamanculo.

11 horas do dia 1 Junho, Yunick Milton pedala uma bicicleta já estragada, a corrente sai a todo instante, o que obriga a si e seu irmão mais novo que vai à sua boleia pararem sempre para consertar. A bicicleta não é sua,  é do seu amigo, que, por sinal, é o único na zona com uma bicicleta. Por isso, 11 meninos, incluindo Yunick e seu irmão, fazem fila à espera da sua vez para pedalar.

Ali estão todos irreconhecíveis, pálidos, com os pés sujos e com uma roupa de “deixar qualquer mãe irritada”, mas Yunick não se preocupa: “minha mãe sabe que eu estou a brincar e que não tenho como brincar sem sujar, ela zanga, zanga, mas depois passa”, alegrou-se.

Disse que, para uma criança ser feliz, é necessário ter amor, paz, carinho, estar rodeado de pessoas que a amam e, acima de tudo, ter amigos para brincar e partilhar os momentos felizes, por isso lamentou o facto de nem todas as crianças, no país, terem a mesma oportunidade.

“Algumas crianças não podem brincar, não podem ser felizes, porque devem estar na rua a trabalhar para ajudar os seus pais, por isso eu gostaria de pedir ao Papá Nyusi para ajudar essas crianças, dar brinquedos, dar comida, mantas para eles também serem como nós.”

Num outro quarteirão, ainda em Chamanculo, “O País” encontrou Marcelo António  que fintava com a bola os seus amigos. Marcelo é também chamado “Tchequero”, que, conforme explicou, esse nome se deve ao facto ser magro e de estatura baixa.

De tanto jogar, a sua sapatilha até se estragou, ainda assim, ele não parou, isso porque, segundo justificou, precisa de treinar muito para ser como o seu ídolo, o jogador Cristiano Ronaldo. “Eu quero que todos conheçam o meu nome, quero marcar o meu nome a nível mundial, todos vão ver-me como aquele jogador de Moçambique que está no Atlético de Madrid”, afirmou categoricamente.

Tchequero confessa que, para além de ter o sonho de ser jogador de futebol,  tem o “dom” de fazer carrinhos, por isso a sua ideia é aperfeiçoar a técnica para, nos tempos livres, quando for jogador de futebol, montar carrinhos e distribuir para as crianças desfavorecidas.

Nas brincadeiras de Chamanculo, há um pouco de tudo, há quem brinca com o pião, também chamado “xindiri”. Outros jogam Robocop, um jogo em que quem toca o berlinde de outro ganha.

As meninas não ficam de fora, em grupo também fazem as suas brincadeiras. Jogam neca, zotho, esconde-esconde, matacuzana e salto à corda.

Paula Chilaúle saltou à corda, perdia várias vezes, mas não aceitava parar o jogo, o que gerou grande confusão, as suas amigas reclamavam, contudo Paula ignorava, jurando que as suas amigas é que a estavam a sabotar. Por conta da confusão gerada pela “batota” de Paula, o jogo parou.

Segundo Paula, é assim que brincam e ela não é a única a proceder daquela forma. Fez batota ontem, mas, noutro dia, pretende salvar vidas, trabalhando num hospital como médica.

“Eu gosto de ajudar as pessoas, quando alguém está doente em casa, eu ajudo a cuidar, entrego os comprimidos e xaropes, e sou boa a ciências naturais, então, quando eu crescer, quero ajudar as crianças, se forem pobres, elas não vão pagar nada no hospital”, prometeu.

É a brincar que muitas delas ensaiam o que serão no futuro. Umas dançam, para serem grandes bailarinos, outras brincam de Polícia com o sonho de ser agentes no futuro, há quem canta e sonha em ser uma artista de renome. Por isso, quase todos os entrevistados pelo “O País” fizeram um apelo para que todos os adultos dessem a chance de as crianças brincarem, para serem felizes e, acima de tudo, deixaram que elas “sejam crianças”.

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