A economia moçambicana voltou a dar sinais de fragilidade. Dados divulgados nesta semana pelo Standard Bank revelam que a actividade do sector privado registou uma nova contracção em Junho de 2025, acentuando a tendência de desaceleração iniciada no mês anterior. Segundo o relatório do Índice de Gestores de Compras (PMI), publicado pela S&P Global, o indicador desceu de 49,6 pontos em maio para 49,1 pontos em Junho, mantendo-se abaixo da marca dos 50 pontos, que separa o crescimento da contração económica.
O PMI é um dos principais barómetros da saúde do sector privado, medindo variáveis como produção, novas encomendas, emprego, prazos de entrega dos fornecedores e nível de compras. A leitura abaixo dos 50 pontos confirma que o volume de produção e as novas encomendas caíram pela primeira vez desde Janeiro, reflectindo uma redução da procura no mercado doméstico.
De acordo com o relatório, a contração foi “moderada, mas significativa”, num contexto caracterizado por limitações no acesso à moeda externa, dificuldades de financiamento e pressão fiscal, que têm travado a dinâmica das empresas moçambicanas. Os analistas da S&P Global sublinham que, embora a retração não seja drástica, representa um sinal de alerta para a economia, sobretudo num momento em que o país tenta consolidar a recuperação pós-pandemia e reforçar a confiança dos investidores.
As empresas inquiridas apontaram para uma redução do volume de encomendas e da actividade produtiva, levando muitas delas a conter investimentos e rever planos de expansão. O abrandamento da procura também resultou numa forte queda nas aquisições de insumos e matérias-primas, com muitas firmas a optarem por reduzir os seus níveis de inventário.
Apesar do ambiente adverso, o estudo aponta uma nota positiva: a confiança empresarial atingiu, em Junho, o ponto mais alto dos últimos 13 meses. As perspectivas optimistas são atribuídas à expectativa de novos contratos, melhoria nas condições operacionais e avanço dos grandes projectos de gás natural liquefeito (GNL), sobretudo no Norte do país. As empresas demonstraram intenção de recrutar mais pessoal e desenvolver novas linhas de negócio nos próximos meses, o que pode sinalizar uma inversão da tendência negativa, caso as condições macroeconómicas se estabilizem.
Para o Standard Bank, os dados mais recentes revelam uma economia ainda pressionada por factores internos e externos, com impacto direto sobre o desempenho das empresas.
“A contracção da actividade privada em Junho reflecte os desafios que persistem na economia moçambicana, nomeadamente a limitação de acesso ao financiamento e à moeda estrangeira, além do impacto da inflação e da instabilidade fiscal”, destaca o comentário económico do banco.
Entretanto, a instituição reviu em baixa a previsão da taxa de inflação para 2025, de 6,1% para 4,1%, sinalizando algum alívio nos preços. A projecção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi mantida em 3% para o presente ano, sustentada na esperança de retoma dos investimentos no sector energético.
Num cenário onde a produção e a procura interna estão em declínio, mas a confiança empresarial aponta para uma recuperação futura, a economia moçambicana encontra-se, mais uma vez, num ponto de inflexão. As decisões de política económica e o ritmo de execução dos grandes projetos serão cruciais para determinar se esta contração será passageira ou o início de um ciclo mais prolongado de estagnação.
A contracção no sector privado não afecta apenas o ambiente empresarial. Para muitas famílias moçambicanas, este cenário traduz-se em menos oportunidades de trabalho, rendimentos mais baixos e maior pressão sobre o custo de vida. Quando as empresas produzem menos e enfrentam incertezas na procura, tendem a travar contratações, congelar salários e reduzir benefícios, afectando diretamente o poder de compra das famílias.
O sector informal, que absorve uma grande parte da força de trabalho no país, também sofre os efeitos colaterais dessa retracção. Com menos circulação de dinheiro e menor dinamismo nos negócios formais, os pequenos vendedores, prestadores de serviços e trabalhadores por conta própria enfrentam maior instabilidade e redução das suas fontes de rendimento.
A geração de novos empregos, sobretudo para jovens recém-formados, torna-se mais difícil num contexto de fraca actividade económica.
Ainda que o relatório do PMI aponte para expectativas positivas a médio prazo, o cenário actual exige atenção redobrada por parte das autoridades, especialmente na criação de políticas públicas que incentivem o investimento produtivo, promovam o crédito acessível e fortaleçam a confiança do mercado.