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Crédito mal-parado é alto em Moçambique 

O Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, disse que o rácio de crédito em incumprimento continua em níveis relativamente elevados, tendo-se situado em 9,1 por cento em Setembro de 2023, após 9,3 por cento em igual período do ano passado.

Zandamela falava, esta semana, na abertura do quadragésimo oitavo Conselho Consultivo do Banco de Moçambique, na cidade de Inhambane, província do mesmo nome. O Conselho Consultivo é um momento de balanço do regulador enquanto autoridade monetária e regulador do sistema financeiro nacional, reflecte-se sobre os desafios que o sistema financeiro e a economia em geral enfrentam e traçam-se perspectivas.

Mesmo com crédito mal-parado alto, a autoridade monetária fala de solidez do sistema financeiro, nos 10 meses do presente ano. O primeiro marco principal, disse Zandamela, é a resiliência da actividade económica perante choques e vulnerabilidades e num ambiente global e doméstico caracterizado por elevados riscos e incertezas.

“O sector bancário nacional continua sólido e bem capitalizado, tendo o rácio de solvabilidade se fixado em 24,0 por cento em Setembro do corrente ano, correspondente a 12,0 pontos percentuais acima do mínimo regulamentar”, garantiu o dirigente. 

O Banco de Moçambique avança que a actividade económica manteve uma tendência de recuperação iniciada em 2021, após o choque da COVID-19, tendo o Produto Interno Bruto real registado uma expansão anual de 4,4 por cento no primeiro semestre do presente ano, maioritariamente explicado pelo crescimento da indústria extractiva.   

Por seu turno, a inflação anual tem vindo a desacelerar, desde o início do presente ano, tendo-se fixado em 4,6 por cento em Setembro último, após ter atingido o pico de 12,9% em Agosto de 2022.

“Esta trajectória de desaceleração reflecte, essencialmente, o efeito combinado da estabilidade cambial e da postura restritiva da política monetária, bem como da queda dos preços dos alimentos e combustíveis no mercado internacional”, explicou. 

 

ANULAÇÃO DAS DÍVIDAS CONTRIBUI PARA MELHORAR A SUSTENTABILIDADE DOS INDICADORES MACRO-ECONÓMICOS

“Permitam-me enaltecer a importância e os ganhos para o país decorrentes do acordo extrajudicial alcançado entre o Governo de Moçambique e os credores no âmbito do dossier das dívidas não declaradas”, disse Rogério Zandamela.

O Governador do banco central avançou que a anulação das dívidas contribui para melhorar a sustentabilidade dos indicadores macro-económicos, com realce para o perfil da dívida comercial que, consequentemente, exercerá uma menor pressão sobre as reservas internacionais, para além de abrir espaço para a restauração da confiança dos investidores estrangeiros em relação ao país e o reforço da estabilidade do sector bancário nacional.   

 

RISCO FISCAL É ALTO DEVIDO À TSU 

A nível interno, o Banco de Moçambique avança que há uma forte pressão sobre a despesa pública, num contexto de fraca arrecadação de receitas e de limitadas fontes de financiamento externo, que está a contribuir para o aumento do risco fiscal e do endividamento interno.

“O aumento da despesa decorre, sobretudo, da implementação da reforma salarial e dos gastos relacionados ao ciclo eleitoral. A título de exemplo, o stock da dívida pública interna que, em 2022, se situou em 275 mil milhões de Meticais, aumentou em cerca de 19 por cento nos últimos 10 meses do ano para 327 mil milhões de Meticais”, revelou o Governador do Banco de Moçambique.

A nível externo, um factor de risco importante, segundo Zandamela, está associado à intensificação e potencial alastramento dos conflitos Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas, com impactos no agravamento dos preços dos combustíveis e dos bens alimentares no mercado internacional, que poderão ter implicações na evolução dos preços domésticos de bens e serviços.

“A postura de políticas de proteccionismo a nível global constitui um outro factor de risco, que tem contribuído para exacerbar a segmentação do comércio internacional e, consequentemente, o abrandamento da economia global. Adicionalmente, prevalecem elevadas incertezas quanto à magnitude dos impactos dos riscos arrolados, amplificadas pela volatilidade nos mercados financeiros, o que tem exigido uma actuação da política monetária cada vez mais prudente”, considerou o dirigente. 

 

INDÚSTRIA EXTRACTIVA VAI DOMINAR ECONOMIA EM 2024

Em relação à actividade económica, o Banco de Moçambique espera que, em 2024, o padrão actual, dominado pela indústria extractiva, em particular a execução dos projectos do Gás Natural Liquefeito na Bacia do Rovuma, continue a ser o maior impulsionador do crescimento do Produto Interno Bruto. 

“Estamos prestes a iniciar o ano de 2024 em meio a um conjunto de adversidades que ainda não temos clareza sobre a sua dissipação. Pelo contrário, as vulnerabilidades, os riscos e as incertezas à conjuntura global e doméstica tendem a agravar-se. Este panorama continuará a condicionar a actividade económica doméstica e as medidas de política que serão tomadas”, previu Rogério Zandamela.

O banco central alerta que o aumento do peso da indústria extractiva no Produto Interno Bruto, nos últimos anos, não deve distrair os moçambicanos de continuar a implementar reformas importantes, que permitam alavancar os restantes sectores da economia. “Assim, continua relevante, por exemplo, prosseguir com reformas visando combater a corrupção e melhorar o ambiente de negócios, tornando-o mais competitivo”, realçou.

Ademais, o Banco de Moçambique entende que a criação do Fundo Soberano, além de ajudar a suavizar a despesa pública, a estabilizar os preços e a acumular poupanças com vista a responder a choques futuros, é um mecanismo importante para acelerar a diversificação da economia, estimulando o crescimento de alguns sectores tradicionais.

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