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COVID-19: “se for para viver a respirar desta maneira asfixiante, vale a pena morrer”

Chama-se Noé Massango, director do Departamento de Medicina no Hospital Central de Quelimane, na Zambézia. De 48 anos de idade, é o único médico internista moçambicano, que trabalha na Zambézia, desde 2014. Sentiu os primeiros sintomas da COVID-19 no dia 22 de Janeiro quando dava formação sobre o manejo de caso da pandemia do novo coronavírus, no distrito de Mocuba aos médicos e técnicos da província.

Noé Massango ficou 26 dias internado na enfermaria para pacientes com COVID-19 no Hospital Geral de Quelimane. Abriu a porta da sua casa e contou ao “O País” o drama por que passou naqueles dias.

Massango explicou que chegou a ficar acamado sem poder se movimentar e fazia necessidades biológicas no mesmo local. Além de perder os movimentos, tossia bastante, era dado banho no mesmo leito onde se encontrava. “Passei por situação complicada e foi para mim muito difícil atravessar aquele momento”.

Além de médico internista afecto ao Departamento de Medicina no Hospital Central de Quelimane, Massango trabalha na enfermaria para doentes com Coronavírus, onde assiste outros pacientes com a mesma doença.

“Houveram dois dias em que eu disse, se for para viver a respirar desta maneira asfixiante”, por causa da COVID-19, “vale a pena morrer. Perdi a fé e toda a esperança que tinha de continuar a lutar. Lembro-me até que cheguei a mandar mensagens de texto para minha família dando indicações” sobre “onde poderia achar todos os meus pertences” se partisse para o além-mundo, narrou o médico, para quem “não foi fácil” o que viveu.

Hoje, Massango está livre da COVID-19, mas ainda queixa-se de cansaço e fraqueza para se locomover. Enfrenta igualmente ligeiras dificuldades na respiração.

“Se faço mais esforço sinto alguma tontura ligeira. Ainda não me sinto estável. Há três dias cheguei a cair quando procurava andar. Feri-me no joelho direito mas pessoas de boa vontade ajudaram-me a levantar e continuei a fazer a minha caminhada”, contou o profissional de saúde.

Massango agradece os seus colegas que não mediram esforços para apoiá-lo a livrar-se da doença.

“Quero apelar a todos os meus compatriotas que teimam em afirmar que a doença não existe. Por experiência digo-vos que como médico vivi dias difíceis” e não gostaria que mais pessoas passassem pela mesma situação. “Usem a máscara e obedeçam todos os apelos das autoridades para se prevenirem desta pandemia porque, de facto, ela mata”, apelou.

A secretária de Estado Judith Mussácula visitou o médico esta segunda-feira para se inteirar da sua saúde. Enalteceu todos os profissionais de saúde que tudo fazem para salvar vidas. Referiu, porém, que mais de 200 técnicos na linha da frente de combate à COVID-19 já foram infectados pelo vírus na Zambézia. A maior parte deles já se recuperou.

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