Mesmo em frente a um dos maiores hotéis do país, o Polana Serena, um grupo de seis homens, sentados em forma de círculo jogam cartas, bem ao lado, estão estacionados seis carros amarelos com partes verdes, são os táxis que antes da pandemia era raro vê-los estacionados e com os seus condutores a usarem as cartas como aliadas, para tentarem esquecer a dor de ter meios para trabalhar, mas não o poderem fazer.
Os taxis têm poucos ou quase nenhuns clientes, tudo por conta da COVID-19, esta é uma das consequências das medidas impostas para a contenção da pandemia, uma vez que as praias, teatros, museus, galerias, discotecas e outros locais de diversão estão fechados para o público, que são os principais clientes deste serviço.
Luís Mavie, taxista há 16 anos, faz parte do grupo que passa o tempo a jogar cartas, conta ao “O País” que nunca imaginou viver dias como estes.
“Agora são 16 horas, e desde que cheguei aqui as nove ainda não fiz nenhuma corrida, não temos clientes e passamos os dias aqui sentados, mas há vezes que conseguimos uma viagem e com muita sorte fazemos duas”, contou o taxista.
Segundo Mavie, para aliviar os impactos da doença na praça (local onde os táxis ficam a espera de clientes) onde trabalha, houve necessidade de adoptar algumas estratégias.
“Neste momento somos 12 taxistas, então decidimos dividir em grupos de quatro, para ver se conseguimos fazer alguma coisa, pelo menos uma viagem, cada grupo vem quatro dias e vai para casa, pensávamos que assim íamos conseguir alguma coisa, mas a situação não está nada boa. Há vezes em que a nossa escala termina sem conseguirmos nenhuma corrida”, lamentou o profissional.
O negócio dos táxis não está a andar não só para Luís Mavie. Desde a eclosão da pandemia e com a redução da entrada de turistas no país, um grupo que muito solicitava o serviço da classe, Armindo Lopes só soma as desgraças trazidas pela pandemia na sua vida.
“No mês passado o Presidente aliviou algumas medidas, aumentou por exemplo o tempo de funcionamento dos restaurantes, pensávamos que a situação fosse melhorar, mas nada mudou, com as praias os turistas que vinham muito para cá, por exemplo, já não chegam aqui porque já não terão nenhuma forma de diversão, por isso a situação vai de mal a pior”, apontou.
Lopes confessou o facto de na sua casa a situação ser ainda mais grave “as coisas não estão mesmo boas, e dói como pai, ver as crianças nessa situação, com fome, as vezes prefiro mesmo estar aqui na rua, mesmo sem estar a trabalhar, para não ver o que se passa em casa”.
No Aeroporto Internacional de Mavalane, um dois locais onde os taxistas eram “felizes”, por dia conseguiam fazer até cinco corridas, mas agora, os passageiros arranjaram outras formas de se deslocar, segundo os taxistas, que têm os seus carros perfilados no aeroporto, a espera de uma oportunidade para conseguir cliente.
“Agora é muito raro termos trabalho…as pessoas até viajam, mas já não solicitam o serviço dos táxis, preferem chamar os seus familiares, ou pedem mesmo os carros dos seus serviços, pode ser o medo de serem contaminados ou mesmo por falta de dinheiro, sem contar que já não temos turistas”, contou Armando Caetano.
O profissional da área disse ao “O País” que devido a falta de trabalho, a opção é deixar o carro no aeroporto e voltar para casa de transporte público, assim pode poupar o “pouco” combustível que consegue abastecer na sua viatura.
Caetano foi das pessoas que pensou que a pandemia fosse durar apenas “dois” meses e, por essa razão, no princípio, decidiu ficar em casa, mas por ver que o tempo passava e a situação continuava voltou ao trabalho, e o que ganha não chega para muito.
A situação é extremamente difícil, pois para além de não estarem a ganhar dinheiro, ainda assim, os impostos e as taxas devem ser pagos, como revelou Albino Mabelane.
“O município não quer saber se estamos a ganhar dinheiro ou não, basta chegar a data para o pagamento temos de ir, não temos como, as vezes fazemos empréstimos para pagar essas taxas, porque senão pagarmos, seremos punidos, e teremos outros problemas”.
Face a esse cenário, os taxistas solicitam apoio para reanimar a sua actividade.
Albino Mabelane faz parte da ATAXIMA (Associação dos Taxistas da Cidade de Maputo) e revelou que a sua associação está em conversações, para ver se o Governo e a CTA podem subsidiar a actividade desta classe.