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Conselho Municipal curva-se à obra de Marcelo Panguana na Feira do Livro de Maputo

Paradoxalmente, com muita disciplina, os Indisciplinados coloriram a cerimónia de homenagem a Marcelo Panguana. Aos cinco instrumentistas em ascensão, na verdade, foi confiada a abertura e o encerramento do sarau concebido especialmente para louvar a vida e a obra de um homem que continua a dar muito de si no exercício literário. Sem trapaças, os meninos da banda Indisciplinados, formados na Escola de Comunicação e Arte (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane tocaram corações com recurso a clássicos da música moçambicana, como é o caso do tema “Kihiene”, de Zena Bacar. Marcelo estava ali sentado. E ouviu.

Além de música, o sarau em homenagem ao “peregrino da palavra” teve peça teatral e, como é habitual nestas circunstâncias, com intervenção do autor. Ao dirigir-se ao público, sexta-feira à tarde, momentos depois do vereador Simão Mucavele, em representação do Presidente do Município de Maputo, ter lido um longo discurso, Marcelo Panguana foi leal às suas convicções, dizendo que poderia ter preparado um texto escrito para aquela ocasião solene. Não o fez porque, para si, “os discursos escritos têm a tendência de desvirtuar a alma”. Então foi falando, eloquente, tentando mergulhar nas emoções dos seus.

Durante a sua comunicação ao público, Marcelo Panguana agradeceu ao gesto do Conselho Municipal, à presença dos leitores e dos que lhe acompanham há longos anos, casos de Juvenal Bucuane, Carlos Paradona e Suleiman Cassamo, todos presentes no Tunduru. Aí, o autor fez um parêntesis para lembrar que nunca tinha sido distinguido num jardim, e rematou: “Dizem que a beleza dos jardins traduz a dos seus governantes. Se pensarmos em função deste jardim agora reabilitado, então podemos concluir que os nossos governantes estão a começar a ser pessoas bonitas”. Logo de seguida, o escritor recuou ao passado para explicar o seu trajecto literário, primeiro na Beira e, mais tarde, em Maputo, com a Charrua. Tudo para expressar um eterno agradecimento às pessoas que o permitiram crescer até merecer a homenagem. Por isso Panguana sublinhou: “Não cresci sozinho, cresci em grupo”. E alguns dos que fazem parte desse restrito grupo viram quando o escritor recebeu do vereador Simão Mucavele uma certificação da homenagem feita pelo Conselho Municipal de Maputo.

Além do papel colocado em moldura, Marcelo Panguana vai receber, do Conselho Municipal, uma transferência bancária simbólica no valor de 50 mil meticais.

Marcelo Panguana nasceu a 30 de Março de 1951, na então cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo. Ao longo do seu percurso literário, colaborou com vários jornais e revistas nacionais, como Notícias da Beira, Notícias, Domingo, Tempo e Charrua. Panguana é escritor, cronista e tem produzido recensões críticas. A sua obra inclui livros de entrevista a autores moçambicanos e uma história de literatura infantil. Em 2011, foi Menção Honrosa no Prémio Sonangol de Literatura (Angola) e, quatro anos depois, 2015, recebeu o Prémio Rui de Noronha pelo FUNDAC. É autor de As vozes que falam de verdade, A balada dos deuses, Fazedores da alma (com co-autoria de Jorge de Oliveira), O chão das coisas, Os ossos de Ngungunhana, Como um louco ao fim da tarde, Conversas do fim do mundo e Os peregrinos da palavra.

 

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