O País – A verdade como notícia

Comentários de Tomás Vieira Mário na STV em formato de livro

Foto: O País

O jornalista e comentador residente da STV, Tomás Vieira Mário, lançou, hoje, um livro intitulado “Comentários na STV”. A obra contém 60 crónicas e é dividida em seis capítulos que compõem grandes temáticas da actualidade, como ética, política, sociedade, comunicação social, Estado de Direito e Democrático.

O livro de Tomás Vieira Mário, lançado terça-feira, na Cidade de Maputo, é fruto dos cerca de 10 anos em que o jornalista é comentador residente da SOICO Televisão (STV).

Entretanto, para a compilação da obra, Tomás Vieira Mário recorreu, também, a alguns marcos dos seus 45 anos de carreira no jornalismo, que se iniciou em 1977, na Rádio Moçambique, um percurso inspirado por Albino Muianga.

“No início da carreira, leio a revista Tempo, para a qual já mandava algumas histórias, e vejo uma história bonita e bem-feita sobre Niassa, com uma assinatura estranhíssima: Nelson Capure. O texto falava sobre agricultura em Niassa, campanhas agrícolas, beleza da província e das montanhas, e eu indagava-me: quem é este Nelson Capure, que chega a um meio tão pequeno e escreve coisas extraordinárias?”, contou Tomás Vieira Mário.

Da pergunta que tanto o inquietava, Tomás Vieira Mário não descansou, até descobrir quem é o homem que escrevia histórias “extraordinárias num meio tão pequeno”. Tomás descobriu que, afinal, Nelson Capure era Albino Magaia, que “estava em Niassa a cumprir uma missão do partido – a reintegração social dos presos políticos coloniais, que deviam ser reintegrados nas aldeias comunais”.

Tomás descobriu quem era Nelson Capure, conheceu-o pessoalmente e, a partir desse momento, ganhou uma referência profissional para toda a sua carreira. “Ele é o meu modelo de jornalista; a minha referência intelectual, fortemente patriótico, engajado, mas com pensamento independente. Foi esta pessoa que segui durante todos estes anos. Aprendi dele sobre como é que se pode estar nesta profissão”, elogiou Tomás Vieira Mário.

E não faltaram exemplos concretos das características de Albino Magaia supracitadas, que o consolidaram, ainda mais, como referência para o jornalista Tomás Vieira Mário.

“Em 1983, no contexto da operação-produção, chegaram relatos de pessoas abandonadas, e até devoradas por ferras, histórias medonhas. Magaia mandou uma equipa de reportagem para investigar a história, que era quase um tabu. A história voltou e foi veiculada na Tempo. Foi uma bomba incrível. Como é que isto sai na Tempo? Histórias de dramas humanos. Fomos chamados para o sindicato, de modo a abordar o assunto, porque era politicamente complicado”, contou Tomás Vieira Mário.

Já no sindicato, continua a contar Tomás, Albino Magaia confirmou que mandou um repórter para investigar e publicar a história. Não se fez de covarde e disse “sou eu o autor final da história”, num contexto em que podia ser exonerado, “mas não foi”, e o “jovem que fez a reportagem foi, depois, encontrado morto nas Mahotas”.

O outro episódio marcante foi quando albino Muianga, sendo membro sénior da Frelimo, acolheu, em sua casa, um debate em 1990. Os jornalistas queriam que da Constituição da República constasse a Liberdade de imprensa. “No fim, o Presidente Chissano foi ter connosco e disse que tinham ouvido o nosso debate e que iam acolher a nossa ideia, e, de facto, foi acolhida”, concluiu Tomás Vieira Mário.

Com isso tudo, Tomás Vieira Mário reivindica ser discípulo de Albino Magaia e diz ter tido referência na profissão. Aliás, Magaia deixou algumas palavras que ainda iluminam o trajecto de Tomás – trechos do seu livro intitulado “Informação: a força da palavra”.

“Até ao fim do mundo, os jornalistas de todo o lado, de todas as tendências, interessar-se-ão pelo homem que mordeu um cão e não pelo cão que mordeu um homem”, continuamos a citar: “interessar-se-ão sempre pela forma como um partido no poder cumpre o programa que prometeu ao eleitorado e não apenas pela beleza do enunciado desse programa; interessar-se-ão pelo número de vítimas civis de uma guerra e não pela propaganda que sustenta essa guerra; interessar-se-ão pelo anúncio de um ciclone iminente e não pelo anúncio antecipado de um céu azul e um mar bonançoso”, fim da citação.

Na STV, Tomás Vieira Mário partilhou o espaço de comentário com Salomão Moiane e, segundo o jornalista, ambos colocaram as suas opiniões de forma livre e imparcial. “Alguns dos nossos comentários foram bem recebidos e outros nem tanto, mas, pronto, fizemos o nosso papel. O mais importante é que fizemos isso com a mais ampla liberdade de palavra, de expressão e informação e isso tem caracterizado Tomás Vieira Mário”, disse o jornalista Salomão Moiane.

O apresentador do livro e então moderador do programa Pontos de Vista, no qual Tomás participou como comentador, Jeremias Langa, disse que a obra é uma contribuição de cidadania e cívica, pois as suas aparições na STV, mais do que meros comentários, são uma chamada de atenção do nosso comportamento ético enquanto sociedade, perante áreas públicas, o crucial papel das instituições como pilares da construção da democracia, dos cidadãos e da cidadania perante o nosso próprio dever.

“Sim, com esta obra, Tomás lembra-nos de que mais do que um mero membro de um Estado e de uma comunidade política, ser cidadão é uma responsabilidade física, porque, enquanto tal, somos detentores de direitos e deveres perante o Estado e a comunidade de que somos parte”, afirmou Jeremias Langa, apresentador do livro de Tomás Vieira Mário.

Assim, na obra Comentário na STV, de acordo com Langa, “Tomás Vieira Mário alia a inteligência crítica com a sensualidade verbal. No lugar do silencia cúmplice, por que envereda a maioria dos moçambicanos, perante esta tendência quase autofágica, o bem comum ou a ominosa realidade da corrupção, corrosão da máquina do Estado, no enfraquecimento deliberado das instituições, o desprezo pela Constituição da República e demais leis, da apologia do ódio e da desqualificação do outro perante as diferenças, Tomás assumiu o compromisso de intervir no espaço público, descortinando, ferozmente, os poderes instituídos”.

Tomás Vieira Mário chega à STV a convite de Daniel David, PCA do Grupo SOICO, mas a sua relação de amizade vem desde quando trabalhavam juntos na Televisão de Moçambique, onde ambos ocuparam cargos de administração.

“Mesmo com alguma resistência inicial de Tomás, ele acabou por assumir o cargo de comentador da STV. Hoje, Tomás é um colaborador e uma referência do nosso Grupo em várias áreas e eventos de grande dimensão e com grande realce e impacto, como é o caso do Mozefo”, revelou Daniel David, PCA do Grupo SOICO.

Para Daniel David, “o lançamento do livro ‘Comentários de Tomás Vieira Mário na STV’ mostra que o Grupo SOICO é mais do que uma televisão e que a relevância da STV não se mede só por audiências. Somos uma empresa global de comunicação social, um grupo que presta muitos serviços, muitos deles públicos e cada vez mais diversificados. Fazemos televisão, promovendo a arte e a cultura, informamos, contribuímos para educação e apoiamos várias iniciativas na nossa sociedade. Olhamos para o país como um todo e assumimos o papel fundamental para a consolidação da nossa democracia”.

E a ligação entre o jornalista Tomás Vieira Mário e a STV, de acordo com Daniel David, traduz a forma de ser e estar da televisão que também dá o seu contributo para a consolidação da jovem democracia em Moçambique.

“Este novo olhar, agora em livro, que reúne o conjunto dos comentários e temas que foram debatidos na antena da STV, remete-nos à importância pedagógica da STV e permite-nos, com grande satisfação, assistir a esta evolução e transformação do comentário televisivo para uma análise diferenciadora, sabendo que fomos a base para esta extraordinária obra do jornalista Tomás Vieira Mário. Enche-nos de orgulho perceber que, de alguma forma, contribuímos para o nascimento de uma obra que nos chama atenção para muitos temas e desafios da construção de um Estado de Direito Democrático em Moçambique”, avançou Daniel David.

A STV vai continuar a trilhar o mesmo caminho para nunca perder de vista o seu foco na rota do crescimento, até porque, como aponta o PCA do Grupo SOICO, “ela (a STV) está cada vez mais presente na vida dos moçambicanos e no seu dia-a-dia. Inovamos, tentamos ser um operador de qualidade, de referência que faz algumas coisas que os outros não fazem ou que não estão dispostos a fazer. A nossa vontade de prestar um serviço público diferenciador também se mede pelo apoio às diferentes áreas do nosso país”.

O livro de Tomás Vieira Mário foi editado pela Alcance Editores e, no seu lançamento, foi feita uma homenagem a título póstumo a Albino Magaia, o mestre de Tomás Vieira Mário.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos