Na esteira de quem, à luz da Lei do Desporto, não pactua com presidentes de federações ou associações desportivas com mandatos expirados, o Conselho Nacional do Desporto (CND) deu um “prazo” de três meses para que o basquetebol, natação e ténis realizassem eleições.
Ok, tudo bonitinho porque fazia-se cumprir com o artigo 48 na sua alínea 2 da Lei de Desporto que refere que os “titulares dos órgãos sociais das federações e associações desportivas provinciais e distritais só podem recandidatar-se uma vez”, sendo que o mesmo artigo na sua alínea 1 sublinha que a “duração dos mandatos deve ser de apenas 4 anos”, dando “Ko” a todos aqueles que teimam em perpetuar os seus mandatos. Para fins inconfessáveis.
Não demorou muito para que a recomendação caísse em saco roto. Para que o CND assobiasse para cima. Pelo menos no basquetebol, até porque o ténis e natação escolhem os novos presidentes este mês de Junho.
Com falso argumento de que “estamos em período de competições internacionais e é preciso prepará-las com atenções redobradas”, as autoridades desportivas estenderam o tapete vermelho ao presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol, Francisco Mabjaia, para que continue até Dezembro de 2019. Qual quê? Atropelamos a lei que criámos com falácias dispensáveis. E o resultado é a desgraça e falta de respeito para com os atletas que temos estado a assistir. Isto é “tipo” a série “Show me a Hero”, na qual David Simon narra a história de Nick Wasicsko, político de Nova Iorque considerado herói trágico.
Não podemos, e nem devemos por questões morais, ignorar a banalização da selecção nacional de basquetebol sub-19 que prepara a sua participação inédita no Campeonato do Mundo da categoria, em Bangekok, na Tailândia.
O frio das madrugadas arrasta, penosamente, as atletas para um campo aberto (Ferroviário de Maputo) onde estão expostas a doenças neste tempo de inverno.
Porque estudantes, e no artifício da defesa da pátria, treinam bem cedinho (5h00) para ganharem tempo para cumprir com os seus compromissos académicos.
Sem direito a um transporte providenciado pela Federação Moçambicana de Basquetebol, algumas atletas têm que se desenrascar fintado o perigo iminente nos becos dos bairros para chegarem ao local de treinos.
No lugar de pensar na estratégia para vencer os seus adversários, o seleccionador nacional, Leonel Manhique, faz de motorista. É isso mesmo: é forçado a transportar algumas atletas na sua viatura particular para o local de treinos. Vê se pode!
Esvaziadas de condições básicas, as atletas não tinham até quarta-feira passada lanches. Nem isso conseguimos dar a quem, muitas vezes, sai bem cedinho de casa e depois vai às aulas.
À beira do abismo. Numa modalidade em que a condição física é determinante, as meninas não têm sequer acesso a ginásio. É preciso improvisar, na base de pneus de viaturas, um trabalho de força para se manter e apurar forma física das atletas. E estamos a falar de uma selecção que irá representar Moçambique numa competição planetária. Não somos sérios.
A isto, junta-se a desorganização que assistimos no processo de preparação e participação da selecção sénior masculina nas eliminatórias da zona VI para o AfroCan.
Dando largas ao improviso, a selecção nacional teve apenas uma semana para preparar esta competição. Os dois atletas do Ferroviário da Beira (Helton Ubisse e Ayad Marques) que constavam na convocatória final apenas se juntaram ao grupo de trabalho nas vésperas da viagem.
Era, claramente, dispensável que Ubisse e Marques se deslocassem a Maputo, uma vez que a selecção nacional seguiu via-terreste ao Zimbabwe tendo passado pela cidade da Beira, onde os atletas podiam ser integrados e evitar-se desgaste maior.
Não faz sentido nenhum. A viagem foi desgastante, tendo naturalmente prejudicado os atletas no primeiro jogo em que Moçambique perdeu com o Zimbabwe fazendo “tremer” a qualificação. Já sabíamos destas eliminatórias há dois anos (2017), quando tivemos uma prestação mediana no “Afrobasket” organizado conjuntamente pelo Senegal e Tunísia.
Os atletas fizeram a sua parte, qualificando o país para o AfroCan, mesmo em meio a mediocridade gigantesca que assaltou o desporto moçambicano.