Antigo Presidente da República lembra que os ataques terroristas em Cabo Delgado são uma ameaça à soberania nacional e adverte ser difícil dialogar com o grupo sem conhecer as suas pretensões e canais de comunicação.
Um dos membros fundadores da Frelimo e do Estado moçambicano, Joaquim Chissano, esteve hoje na universidade de que é patrono para falar sobre Identidade Nacional, Ganhos e Desafios de Moçambique, 48 anos depois da Independência Nacional.
Antigo Presidente da República, Chissano fez uma radiografia dos principais desafios enfrentados na construção do país, tendo destacado que a guerra dos 16 anos foi um dos maiores factores de atraso ao desenvolvimento. Exemplificou que, na década de 80, já havia interesse de investidores norte-americanos em explorar os jazigos de gás natural da província de Inhambane, mas os mesmos foram reprimidos pela instabilidade.
Ainda na política, Joaquim Chissano destaca que, antes da introdução do multipartidarismo na década de 90, o país já vinha praticando a democracia participativa, mas não teve tempo suficiente para consolidar o sistema. “A nossa não era uma democracia representativa, mas sim participativa, pois as formas estavam a evoluir a olhos vistos, mas não teríamos tempo de levar a nossa experiência até as últimas consequências, porque já ninguém iria acompanhar os nossos passos de desenvolver a democracia participativa, dirigida por um único partido”, explicou Chissano.
Olhando para os dias que correm, Joaquim Chissano aponta que há novas ameaças à independência alcançada em Julho de 1975, com destaque para o terrorismo em Cabo Delgado. Para o antigo Estadista, contrariamente a vários estudos que indicam que o fenómeno tem origens internas, o terrorismo é resultado do aproveitamento da pobreza por agentes externos.
“Em todo o território, há pobreza. É só ir para Matutuine, ir para Mapulanguene (regiões na província de Maputo) e vão notar que não é diferente de Cabo Delgado. Há pobreza e não há terrorismo”, chamou atenção Chissano, para quem “não são eles (os nacionais) que iniciam o terrorismo com reivindicações. É preciso que tenha um agente que venha utilizá-los e é isso que está a acontecer”.
Chissano também contou sobre as propostas de diálogo com os terroristas, afirmando ser muito difícil que tal aconteça, tendo em conta os seguintes factores: “No nosso caso, a situação é ainda mais grave porque o grupo não apresenta as suas lideranças, sua agenda e pretensões. É muito complexo negociar com entidades que não apresentam as suas reinvocações”.
Vai daí que, durante a palestra proferida a diplomatas, membros do corpo docente e estudantes da Universidade Joaquim Chissano, o patrono da instituição apontou a pobreza e o analfabetismo como outra ameaça à independência que temos há 48 anos.
“No tempo colonial e logo após a independência, o nível do analfabetismo era muito alto, mas hoje falamos de cientistas moçambicanos e escritores renomados”, enalteceu Chissano, assumindo que “houve evolução, apesar de continuarmos com altos níveis de alfabetismo. Sabemos de onde viemos e para onde vamos”.
As mudanças climáticas e a caça furtiva completam a lista de Joaquim Chissano das quatro novas ameaças à Independência Nacional.