Em Março do ano passado, efeitos combinados de ventos fortíssimos e chuvas intensas, mataram mais de 600 pessoas e destruíram milhares de infra-estruturas, na região centro do país, sobretudo na cidade da Beira e nos distritos de Búzi, Nhamatanda e Gorongosa. Era o ciclone Idai.
Um ano e nove meses depois, os rastos da destruição causados pelo ciclone Idai ainda são bem visíveis na cidade da Beira. Há famílias e instituições públicas e privadas que até hoje não conseguiram consertar o que foi danificado, devido a dificuldades financeiras. E parte considerável dos que conseguiram reabilitar as suas infra-estruturas não o fez de forma resiliente.
Com a tempestade tropical denominada “Chalane”, anunciada pelo INAM, o pior pode estar à espreita na Beira. Informações oficiais indicam que o fenómeno já está na costa moçambicana e esta terça-feira afectará várias regiões do país, incluindo a cidade da Beira, que poderá ser um dos epicentros, com ventos a variarem entre 90 e 110 km/h, cerca de metade atingido pelo ciclone Idai, em Março de 2019.
É uma previsão que deixa os beirenses apreensivos e desesperados, tendo em conta o que viveram aquando da passagem do ciclone Idai e pelo facto de muitos deles estarem ainda a refazerem as suas vidas, reconstruindo também infra-estruturas destruídas.
“O Idai destruiu o tecto da minha casa e durante dias eu e a minha família pernoitámos debaixo da chuva. Depois, graças ao apoio do governo, consegui uma lona, cobri a casa e comecei a juntar dinheiro. Foi precisamente há seis meses que repus a cobertura da minha casa. Infelizmente vêm aí ventos fortes que poderão de novo destruir o tecto e deixar-nos expostos ao sol e à chuva. É uma realidade difícil de aceitar… enfim, entregamos tudo a Deus”, lamentou Olímpio Francisco, residente no bairro da Munhava, cidade da Beira.
Tal como Olímpio Francisco, há centenas de beirenses que não conseguiram reconstruir as casas de forma resiliente. Aliás há beirenses que perderam tudo o que construíram durante uma vida inteira e já não têm capacidade para repor. Vivem hoje em casas de parentes, como é o caso de Belmiro Lopes.
“O ciclone Idai destruiu a minha casa. Duas árvores tombaram sobre a mesma e ão resistiu. Tenho hoje 64 anos e sou reformado. O que ganho não é suficiente para reconstruir a minha casa e a solução foi passar a residir com um dos meus filhos. Quando soube que depois de amanhã (amanhã) seremos afectados por mais uma tempestade, chorei pois recordei, com tristeza, como um vizinho, os seus dois filhos e a esposa morreram quando uma das paredes da casa deles caiu sobre os mesmos. Aproveito apelar a todos os beirenses a acatarem as orientações das autoridades e seguirem para as zonas seguras”, apelou Belmiro José.
A edilidade convocou a imprensa esta segunda-feira para apelar aos munícipes a manterem-se calmos a abandonarem as zonas consideradas de risco. Anunciou ainda algumas medidas para minimizar o impacto da tempestade tropical “Chalane”.
“Iremos podar todas as árvores” que representem “risco e apelamos aos munícipes a não socorrerem-se da sua força física para segurarem os seus tectos ou paredes durante a passagem do ciclone”, em caso de perceberem que os mesmos podem desabar. “Exortamos para reforçarem as suas coberturas”, se forem “frágeis, com sacos de areia ou outros meios, por forma a evitar o pior. Que sigam todas as orientações das autoridades para juntos minimizarmos o impacto da tempestade”, exortou Albano Cariz, vereador para a Área de Construção e Urbanização no Conselho Autárquico da Beira.
“CHALANE” PODERÁ AFECTAR 70 MIL FAMÍLIAS EM SOFALA
O INGC garantiu ontem na cidade da Beira que já tem pré-posicionado, em toda a província de Sofala, várias equipas multissectoriais para assistir a mais de 350 mil pessoas que poderão ser afectadas pela tempestade tropical “Chalane” e iniciou a sensibilização da população no sentido de procurar lugares seguros nas próximas horas.
De acordo com Luísa Meque, directora-geral do INGC, em Sofala há equipas de comités de gestão de risco em todos os distritos, dada a precipitação que vem sendo registada desde o início deste mês, para socorrer eventuais vítimas. A tempestade tropical “Chalane”, que será caracterizada por chuvas e ventos fortes, pode contribuir para os caudais dos principais rios transbordarem.
Face a isso, a directora-geral do INGC, que chegou na Beira na tarde desta segunda-feira, está a liderar uma vasta equipa de comités de gestão de risco, em todos os bairros da urbe e distritos de Sofala, sensibilizando as potenciais vítimas a movimentarem-se para locais seguros.
“Análises científicas mostram que a tempestade tropical “Chalane” devera atingir a província de Sofala com uma velocidade entre 90 e 110 km/h. Mas este facto não pode nos acomodar por serem projecções muito abaixo em relação ao ciclone. Vamos todos procurar locais seguros para preservarmos as nossas vidas. Já existem 810 locais identificados, nomeadamente escolas e igrejas. Sigam as orientações dos vossos comités de risco e estejam atentos a toda informação oficial sobre a movimentação” da tempestade, apelou Luísa Meque.
Na Beira decorrem vários encontros para actualizar as previsões meteorológicas e hidrológicas. Fazem parte dos grupos parceiros do governo. Até ao fecho desta reportagem, cerca das 19h00 desta segunda-feira, decorria a última reunião técnica, antes de diferentes equipas se deslocarem ao terreno.