Aumenta cada vez mais o número de enterros de pessoas que perderam a vida por COVID-19. No cemitério de Michafutene, província de Maputo, algumas famílias têm que esperar mais de 30 minutos para sepultar os seus ente-queridos.
Mas ainda em meio às crescentes mortes, há quem ainda não acreditava na letalidade desse vírus. Jorge Joaquim é disso um exemplo. O jovem de 24 anos não acreditava na existência da COVID-19, até o fatídico dia 19 de Julho de 2021. Uma data que ficará para sempre na memória de Jorge porque foi nesse dia que perdeu o seu pai, vítima de COVID-19.
Jorge não tem palavras para descrever a dor e o vazio deixado com a morte de seu pai, que sequer sabia que estava infectado.
“Dói, dói muito, não tenho palavras para descrever o tamanho da minha dor. Queria que meu pai ainda estivesse aqui, que conhecesse os meus filhos, a minha esposa, ainda que para isso ele ficasse muito velho”, contou.
Jorge podia apostar tudo. Para ele, a COVID-19 simplesmente não existia e, se existia, não atacava as pessoas da classe média a baixa. A aposta foi feita e Jorge perdeu, teve de pagar muito caro, com a morte de seu pai.
O pai de Jorge foi internado com sintomas sugestivos à COVID-19, fez o teste e enquanto aguardava pelo resultado, perdeu a batalha contra um inimigo que sequer conhecia. Mal sabia que estava infectado, afinal, o resultado só foi divulgado no dia da sua morte.
Foi então que a ficha finalmente caiu e o Coronavírus passou a ser uma realidade no mundo de Jorge, pois aprendeu a lição da forma mais difícil!
O peso não sai da consciência de Jorge e muito menos das mãos dos coveiros, que nesta terceira vaga não largam a pá. É que o número de mortes aumentou drasticamente e por dia mais de 20 corpos são enterrados no cemitério de Michafutene. É luto que não acaba.
O barulho da pá, dava espaço a choros e lamentações de quem sequer pode receber um abraço de conforto num momento tão difícil.
Se na primeira e segunda vagas a situação da COVID-19 já era difícil, nesta, as coisas estão quase a ficar descontroladas. No início da primeira vaga da COVID-19 foi aberto, no referido cemitério, apenas um campo para enterrar vítimas do vírus. Mas de lá até esta parte, mais dois foram abertos e estão todos cheios.
Nesta vaga, as urnas chegam e, apesar de ser proibido permanecer por muito tempo no cemitério para evitar propagação do vírus, têm de aguardar. É que são muitos corpos por ser enterrados de uma só vez e a pressão aumenta!
Na velocidade em que aumenta a quantidade de funerais, aumenta, também o risco de contaminação destes profissionais que diariamente batem de frente com a morte, causada por este vírus pandémico.
“Não posso dizer que me sinto seguro, nunca estamos seguros, apesar de termos luvas e botas. Precisamos de batas para aumentar a protecção, apelou Anselmo Alexandre, um dos “coveiros” que trabalham naquele cemitério.
As urnas não param de chegar no cemitério de Michafutene, a pressão aumenta e com ela a necessidade de se reforçar o efectivo para evitar sobrecarga. De acordo com Alice de Abreu, Vereadora da Saúde e Acção Social, o aumento do pessoal foi feito não apenas no Michafutene, como também em outros da cidade de Maputo, local com maior número de mortes e infecções por COVID-19 em todo o país.