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“FDC projecta país de miséria para mobilizar recursos”

Nem mais! A apresentação do relatório sobre a segurança alimentar, hoje, foi ocasião para Celso Correia “descarregar” críticas, em jeito de resposta, sobre a que foi feita a si pela Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC). Diz que esta Fundação usou dados errados e desactualizados para contrariá-lo sobre os 90% dos moçambicanos que têm três refeições por dia.

O ministro da Agricultura e Segurança Alimentar foi à apresentação do relatório sobre segurança alimentar já com pretensão de rebater a crítica da FDC, porquanto já tinha a reacção daquela Fundação impressa.

“Era preciso ter cautela sempre que fizessem este tipo de análise. Nós temos equipas que podem ajudar os parceiros”, dizia reiteradamente Celso Correia durante a sua alocução, aludindo que a FDC precisa de ajuda para compreender indicadores sobre segurança alimentar.

“O IOF (Inquérito sobre Orçamento Familiar) já indica os avanços que Moçambique está a ter em termos de desnutrição crónica. Não é 42,3%, é 38%. Está errado se for esse o indicador. Depois, diz (a FDC) que 70% da população vive em situação de vulnerabilidade… é muito difícil comparar e não aconselhamos a comparar dados de pobreza com dados alimentares. Não quero dizer que não tenha ligação”. O ministro socorre-se do facto de em 2013 ter havido estudos que apontavam para 23% da população que estava em insegurança alimentar crónica, mas, na mesma altura, apontava-se para 53% a 54% de pobreza.

“E depois não descreve (a FDC) de que tipo de pobreza está a falar. Porque existe pobreza alimentar, que é a que estamos a falar dela, existe pobreza de rendimento e existe pobreza multidimensional.”

A reacção de Correia surge 12 dias depois de a FDC ter emitido o comunicado no qual afirma que os pronunciamentos do ministro da Agricultura, segundo os quais 90% dos moçambicanos têm acesso a três refeições por dia, contrastam com a realidade.

Uma vez que, no documento, a FDC diz que a maioria das famílias moçambicanas dedica 60% do rendimento para conseguir comida, Celso Correia rebate, dizendo que boa parte dos moçambicanos produz alimentos e não compra.

“Portanto, tecnicamente, eu acho que a FDC tem que trabalhar. Pedi aos parceiros para criarmos um programa. Vamos fazer um programa para capacitar as ONG (organizações não-governamentais)”, afirma Celso Correia e vai mais longe. Diz que a FDC está a projectar um país de miséria para mobilizar recursos de apoio às populações, com parte do valor a ficar no gabinete e a custear seminários que não beneficiam os que precisam.

“A FDC, quando diz ‘em Moçambique morrem pessoas’, então estamos a projectar um país de miséria para mobilizarmos recursos e, depois, o custo da administração, 30% fica no gabinete e tem workshops que não chegam às tais pessoas. ‘Em Moçambique morrem’, somos um país miserável, é assim que estamos a funcionar. Biliões de dólares para ciclos de apoio que depois não têm sustento.”

Bom, os argumentos do ministro da Agricultura rebatendo a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade foram presenciados pela própria FDC e, no fim, esta admitiu haver incongruências na sua crítica sobre as três refeições por dia.

“A carta da FDC enferma de algumas incongruências”, assume Joaquim Oliveira, director-executivo da FDC, afirmando que o relatório sobre a segurança alimentar, o mesmo que sustenta a tese de haver 90% da população moçambicana com três refeições por dia, tem mérito, dado o facto de se referir ao período pós-colheita.

O ministro da Agricultura terminou a discussão dizendo que as pessoas não estão acostumadas a boas notícias sobre o país.

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