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Carta a um amigo político

Recebi a tua carta, não apenas como amigo, mas como sociólogo habituado a escutar os silêncios do poder. O que descreves não é um caso isolado nem um desvio ocasional de comportamento. É um sintoma recorrente das nossas instituições quando o medo se instala onde deveria existir liderança.

Dizes-me que o teu superior hierárquico, hoje ministro, não te deixa trabalhar. Que cria deliberadamente um ambiente de desconfiança, alimenta intrigas e, mais grave ainda, financia narrativas falsas na comunicação social para te fragilizar politicamente. Tudo isso porque acredita que carregas o capital político, técnico e simbólico suficiente para, numa eventual remodelação, ocupares o lugar que hoje ele ocupa.

Este medo não é humano apenas. É político. E, quando o medo governa, a missão é abandonada, a ética é suspensa e o Estado torna-se refém de pequenos cálculos pessoais.

A Palavra de Deus é clara e não deixa margem para relativismos: quem sabe que deve fazer o bem e não o faz comete pecado. Pecado político, pecado moral, pecado contra o povo. Porque, num Estado democrático, impedir alguém de servir por medo de concorrência não é apenas imoral — é sabotagem institucional.

O Presidente da República tem sido explícito: não se pode continuar a fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. Esta não é uma frase bonita para discursos; é uma ruptura necessária com práticas antigas. O ambiente de tensão, perseguição interna, fabrico de factos e instrumentalização da imprensa que se vive neste ministério ao longo deste ano é exactamente a continuação daquilo que o país já percebeu que não pode continuar.

Fazer diferente não começa com grandes reformas legais. Começa com atitudes. Fazer diferente é compreender que ninguém é dono de um ministério. Fazer diferente é saber que cargos são transitórios, mas a missão é permanente. Fazer diferente é ter a humildade de reconhecer que o sucesso individual só existe quando o projecto colectivo avança.

Meu amigo, escrevo-te também com franqueza: resistir em silêncio pode preservar-te, mas não transforma. A maturidade política exige outro passo. Aproxima-se o Natal, tempo simbólico de reconciliação, verdade e reencontro com a essência. Procura o teu superior hierárquico. Não para pedir favores, nem para disputar espaços, mas para afirmar grandeza.

Diz-lhe que tens plena consciência da missão que vos foi confiada pelo Presidente da República e pelo povo moçambicano. Diz-lhe que sabes que essa missão só se cumpre com confiança, cooperação e espírito de equipa. Diz-lhe, olhos nos olhos, que lhe deves lealdade institucional, porque a lealdade verdadeira é com o Estado, e não com intrigas.

Propõe-lhe unidade. Não a unidade do medo, mas a unidade do propósito. Diz-lhe que separados continuarão a reproduzir os erros do passado, mas que juntos podem instituir uma nova forma de ser e estar no ministério — uma cultura baseada na confiança, no mérito, na transparência e no serviço público.

Só assim farão diferente. Só assim alcançarão resultados diferentes.

Moçambique já sofreu demasiado com guerras internas travadas dentro das próprias instituições. O país não precisa de ministros que vêem inimigos nos seus quadros, nem de quadros que aguardam silenciosamente a queda dos seus ministros. Precisa de homens e mulheres de Estado que compreendam que o poder não é trincheira, é responsabilidade. O país precisa urgentemente de líderes que compreendam que o maior risco político não é a substituição, é a mediocridade protegida pelo medo.

Caro amigo, a história é implacável: não absolve quem teve a oportunidade de fazer o bem e escolheu o medo. Não absolve quem teve poder e escolheu a intriga em vez da missão. Mas também cobra a quem, podendo ser ponte, escolheu apenas sobreviver. 

Se este Natal servir apenas para discursos vazios, nada mudará, mas, se servir para romper com a cultura de sabotagem interna, então talvez, finalmente, comecemos a fazer diferente — e a colher resultados diferentes.

Que este Natal não seja apenas uma pausa no calendário político, mas um ponto de viragem. Porque ou mudamos a forma de exercer o poder, ou continuaremos reféns de um Estado que luta contra si próprio. 

Feliz Natal!

Feliz Dia da Família! (Provérbios 29:25)

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