Ferroviário de Maputo terminou na 5ª posição a sua participação na Liga Africana de Basquetebol (BAL), prova cujo pano caiu domingo com a consagração do Zamalek do Egipto como grande vencedor. Os campeões nacionais tiveram uma honrosa participação na prova organizada pela FIBA e NBA.
Partiram no anonimato (queixando-se, de resto, de falta de apoio e atenção) para uma “bolha” que dignifica (va) toda uma Nação até pela dimensão internacional que a mesma representa (va).
Patrocinada pela gigantesca e extraordinária NBA, a embrionária Liga Africana de Basquetebol é nada mais nada menos que uma janela de valorização e promoção da modalidade da bola ao cesto em África.
Na majestosa Arena de Kigali, que faz inveja a muitos pavilhões pelo mundo fora, o Ferroviário de Maputo assumia uma relação entre a responsabilidade e honra de fazer parte de uma restrita lista de 12 equipas qualificadas, meritoriamente, para a prova.
Mais: os campeões nacionais tinham, também, a particularidade de serem uma das duas equipas de expressão portuguesa, a par do gigante Angolano Petro de Luanda.
Órfão de parte da estrutura que, em Dezembro de 2019, assegurou a qualificação para a prova e permitiu o encaixe de 4.3 milhões de meticais (70 mil dólares norte americanos) nas eliminatórias havidas em Kigali, Ruanda, Macome precisava operar milagres para que o Ferroviário de Maputo representasse condignamente o país.
Sem Elton Ubisse (reforço cedido pelo Ferroviário da Beira), gémeos Orlando e Ermelindo Novela (transferidos para o Ferroviário da Beira), Pio “Lingras” Matos, David “Mano” Canivete e Octávio Gregório Moliço, havia que encontrar soluções interna e exteriormente para montar uma estrutura equilibrada.
Internamente, os bicampeões nacionais “roubaram” a joia e pérola d’ Politécnica Yuran Biosse, melhor marcador do Campeonato da Cidade, em 2019.
O polivalente foi uma das figuras determinantes, aliás, para que a Politécnica ficasse em terceiro lugar na Liga Moçambicana de Basquetebol, em 2016, e conquista do Campeonato da Cidade (2019) e Taça Maputo (2018).
Lá fora, porque familiarizado com os processos de Milagre “Mila” Macome, o espanhol Alvaro Maso foi uma das quatro escolhas para reforçar a equipa. Maso destacara-se nos “nacionais” de 2017, 2018 e 2019, tendo sido indicado MVP nos dois últimos.
Mais evoluídos, mais experientes, Demarcus Holland (poste alemão-americano), Adejhi Baru (extremo-poste da Costa do Marfim ) e Miky Kabongo (base internacional pela República Democrática do Congo) completavam o “esquadrão estrangeiro” no ataque a Kigali.
REDENÇÃO ENTRE AS CINZAS
Diante do campeão africano de clubes de 1985, Zamalek do Egipto, o Ferroviário de Maputo estava avisado das dificuldades na luta nas tabelas e no “post up”, até porque os egípcios apresentam uma equipa com peso e altura.
Aliás, dominadores, os campeões da primeira edição da Liga Africana de Basquetebol contabilizaram 55 ressaltos contra 34 do Ferroviário de Maputo.
Com muitas trocas defensivas, o conjunto de Milagre “Mila” Macome forçou o Zamalek a cometer muitas perdas de bola (foram 28 “turnovers” no total).
O Ferroviário de Maputo apresentou-se melhor na linha de lances livres com média de 72.7% (oito em 11) contra 61.9% (13 em 21) do seu adversário.
A “boxe score” indica ainda um fraco aproveitamento de 20.1% nos tiros exteriores (cinco tiros certeiros em 24 tentados), sendo que os egípcios ficaram na média de 38.1% (oito concretizados em 21 tentados).
Nos dados estatísticos, há ainda a destacar 28 perdas de bola dos egípcios contra 16 do conjunto moçambicano.
Com um duplo-duplo (24 pontos e 11 ressaltos dos quais nove defensivos e dois ofensivos) Alvaro Maso destacou-se individualmente nos 37:42 minutos na quadra.
O MVP dos “nacionais” de 2018 e 2019 contabilizou ainda sete em três tiros exteriores (42.9% de aproveitamento), sete em cinco na linha de lances livres (71.4%), um roubo de bola e dois “turnovers”.
A segunda e terceira jornadas trouxeram a afirmação. Mais do que isso, trouxeram-nos um Ferroviário de Maputo mais agressivo e consistente defensivamente.
Comecemos do duelo do dia 19 de Maio. Para não variar, Alvaro Maso foi o melhor cestinha da equipa verde-e-branca na vitória diante do Association Sportives des Douanes do Senegal, por 88-74.
O extremo esteve perto de um duplo-duplo com 26 pontos e sete ressaltos durante os 37: 36 minutos em que esteve na quadra.
Os “targets” do Ferroviário de Maputo melhoraram comparativamente ao primeiro jogo, tendo a destacar o domínio na tabela com 46 ressaltos contra 41 dos senegaleses.
Mais: nos lançamentos de campo, o Ferroviário de Maputo apresentou-se, neste jogo, com 40.3% de aproveitamento (27 tiros concretizados em 67 tentados) contra a média de 38.2% (29 tiros concretizados em 79 tentados) do conjunto senegalês.
Mais certeiro na zona dos 6.75 metros, o Ferroviário de Maputo concretizou 13 em 32 tiros exteriores tentados (40.1%).
A Association Sportives des Douanes, essa, teve o seguinte registo: 10 em 32 tiros exteriores, perfazendo um aproveitamento de 31.3%. Cometeu mais “turnovers” (17) contra 14 do campeão senegalês.
A jornada 3 confirmou a presença na elite 8 da Liga Africana de Basquetebol. Orgulhosamente moçambicano, o Ferroviário de Maputo bateu o Groupement Sportif des Pétroliers da Argélia por 86-73.
Basquetebol moçambicano valorizado, colocado entre as oito melhores equipas de África. A diferença esteve na agressividade defensiva e clarividência ofensiva.
Na tabela, “mandou” a equipa moçambicana com 56 ressaltos, mais 17 que os argelinos: 39. 29 lançamentos em 41 tentados conferem, ao campeão moçambicano, uma boa percentagem de 70.7%. Neste quesito, estiveram muito abaixo dos argelinos com seis tiros convertidos em 14 tentados (42.9%).
Fraquinha, a percentagem de tiros exteriores situou-se nos 15.0 % (três tiros concretizados em 20 tentativas), notando-se, aqui, que o Groupement Sportif des Pétroliers esteve melhor: 29.2% (sete em 24 tentados).
Os quartos-de-final colocaram o Patriots Basketball Club (Ruanda) no trilho do Ferroviário de Maputo. O céu sempre foi o limite, pelo que havia claramente expectativas de se atingir as meias-finais na história participação na BAL.
Numa excelente propaganda para o basquetebol, o Ferroviário de Maputo foi eliminado, com honra, ao perder frente ao Patriots Basketball Club, por 71-73.
Sob o olhar atento de Paul Kagame, Presidente do Ruanda, e Emmanuel Macron, estadista francês, os campeões nacionais levaram a decisão do jogo até ao limite.
De resto, este foi um jogo impróprio para cardíacos com algumas decisões polémicas por parte da equipa de arbitragem. A marcha do marcador teve algumas alternâncias, com o campeão moçambicano a ter tudo para vencer com 13 segundos por se jogar, mas um tiro exterior não concretizado fez cair o sonho.
No global, o Ferroviário de Maputo apresentou-se neste duelo com uma excelente média de 85.0% na linha de lances livres (17 lançamentos concretizados em 20 tentados) contra um aproveitamento de 48.0% (13 tiros concretizados em 30 tentados) dos ruandeses.
Muita baixa. É assim como se descreve a prestação ao nível dos tiros exteriores com 20.7% (seis lançamentos convertidos em 29 tentados).
Patriots Basketball Club fez o melhor. Com 13 tiros exteriores certeiros em 30 concretizados, o conjunto ruandês apresentou-se com média de 43.3%.
Há outros elementos de análise na prestação do Ferroviário de Maputo: 22 perdas de bola (mesmos números que o Patriots).
O Ferroviário de Maputo teve domínio na tabela com 51 ressaltos contra 42 do Patriots, 21 assistências e nove roubos de bola.