O Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Salim Valá, defende que a constituição dos clubes em Sociedades Anónimas Desportivas é o caminho certo para estes se tornarem sustentáveis e autossuficientes. Valá diz que, somente com uma gestão profissional e transparente, os clubes nacionais podem dar o salto para grandes patamares.
Sociedades Anónimas Desportivas: suas vantagens na administração e gestão do desporto foi um dos temas de grande interesse abordados na primeira sessão da Reunião Nacional de Reflexão sobre o desporto.
Como transformar os clubes, maioritariamente sem uma gestão criteriosa, contas auditadas, contabilidade organizada e boa saúde económica, em empresas que geram lucros? Esta era a questão de fundo num cenário em que os clubes estão mergulhados numa crise financeira, património degradado e sem capacidade de rentabilidade.
Falando a uma plateia de agentes desportivos, Salim Valá, presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique deixou claro que os clubes devem, acima de tudo, olhar para uma gestão transparente se quiserem dar um passo gigantesco para valorizarem os seus activos.
“Acreditamos que os clubes desportivos, transformados em SAD, possam ser empresas no futuro. Não só bons clubes que ganham nas competições em que participam, mas também bem geridos, lucrativos e que atraiam investidores. Com clubes mais fortes e empreendedores, até porque para gerir uma empresa é necessário ser empreendedor, podemos investir mais na formação. Este é um dos grandes calcanhares de Aquiles”, observou Valá.
Há perspectivas de cotar os clubes transformados em Sociedades Anónimas Desportivas na Bolsa de Valores de Moçambique, mas a realidade e sinais do mercado indicam que num horizonte de dois anos somente duas ou três colectividades poderão reunir condições para o efeito.
“Nós queremos que, num horizonte de dois anos, pelos sinais de mercado que estamos a perceber, dois ou três clubes possam movimentar-se. Vocês vão dizer que dois ou três clubes são poucos em dois anos. Mas esses são os sinais realisticamente possíveis e, talvez, depois de dois anos um é que pode ser elegível. Mas tem que ser um bom clube para ser modelo de referência para os outros que virão seguidamente”, notou Salim Valá.
Criar um mercado específico para as Sociedades Anónimas Desportivas pode ser o caminho para estimular os clubes a adoptarem este instrumento legal existente há cinco anos.
Os clubes têm uma grande responsabilidade no processo de transformação em SADS que atraiam um maior investimento por parte do empresariado.
“A BVM está capacitada para promover a dinamização de acções de financiamento das SAD no mercado de capitais. Nós estamos preparados para isto. Portanto, a bola está do lado dos clubes. A nossa equipa da BVM acompanhou todos os debates. Percebemos os problemas do desporto em Moçambique: formação, infra-estruturas e gestão”, disse Salim Valá.
Uma coisa é certa! Com a sua transformação em empresas, os clubes, repisou, ganharam maior visibilidade e abrem espaço para colocarem os seus activos em grandes montras.
“Os clubes vão atrair mais sócios e accionistas devido à melhoria na gestão, transparência e credibilidade e escrutínio público. Mas há também a destacar os melhores resultados que podem ter através da eficiência na gestão. Com clubes desportivos vigorosos, teremos federações desportivas pujantes e mais atletas a dignificar Moçambique nos Jogos Olímpicos e outras competições de prestígio internacional”, notou.
A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) e Secretaria de Estado de Desporto (SED) partilham o sentimento de encorajamento da criação das Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) pelo valor que elas têm no desenvolvimento do desporto. É neste sentido que decorrem acções de formação e divulgação do instrumento em várias províncias do país junto dos clubes e associações desportivas.
“Quando recebemos, da Secretaria de Estado de Desporto, solicitações para nos deslocarmos às províncias nós custeamos as despesas. Nós queremos fazer negócio. A Bolsa de Valores é um centro de negócios com ética. Os clubes vão ganhar, a bolsa também vai ganhar. Mas para a bolsa ganhar os clubes têm que funcionar bem. Ou seja, os clubes devem ser lucrativos e rentáveis e fazerem negócios com ética para usarem os mecanismos da bolsa”, explicou a fonte.
Podemos ter recursos através da bolsa e mercado de capitais para financiar aquilo que não conseguimos financiar com as modalidades tradicionais de gestão de clubes.
SAD: INSTRUMENTO NÃO ESTAVA A SER USADO
A Bolsa de Valores de Moçambique entende que o propósito principal deste instrumento é transformar os clubes em “empresas fortes, pujantes, bem governadas e geridas e que possam se listar”.
Para o efeito, é fundamental que cada agente desportivo esteja capacitado para desenvolver as suas capacidades, isto dentro de funcionalidade profissional.
“Estamos a falar de empresas que funcionam com transparência. O Governo criou um instrumento em Moçambique para que seja similar com o que acontece noutros quadrantes do mundo. Os clubes desportivos, hoje, são associações.”
E deixou claro: “o que viemos dizer à família de desporto é que nós, como bolsa, queremos apoiar este movimento. Mas não queremos vender uma caixa vazia. Tem que ser empresas bem geridas, transparentes e que façam negócios com ética”.
A finalizar, o presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique indicou que “a bolsa, e particularmente este instrumento das Sociedades Anónimas Desportivas, não é uma panaceia que vai resolver os problemas de financiamento de todos os clubes de Moçambique”. E completou o seu raciocínio: “Mas pode jogar o seu papel se aquelas que trabalharam para isso poderem avançar. Há três questões-chave para os clubes que se transformam em empresas: boa gestão e governação, boa saúde económica financeira, contabilidade organizada e contas auditadas. A quarta não custa muita mas é necessária: tem de ser Sociedades Anónimas para serem suficiente dispersão accionista”.