A Black Bulls conquistou o título nacional de futebol, de forma inédita e virtual, quando falta por disputar uma jornada para o final da prova. Foi preciso o deslize do mais directo perseguidor, no confronto directo, que a proeza, que tinha sido adiada por duas vezes, se concretizou. Agora, o tempo e a hora, é de pensar no futuro, onde as competições africanas esperam pelos “touros”
Não surpreende a ninguém que a Associação Black Bulls esteja no topo do futebol moçambicano, ainda nos primeiros passos da sua participação na alta competição. A trajectória fala por si. Em 2018 entra pela primeira vez na alta competição, para disputar o Campeonato da Cidade de Maputo, prova que conquistou sem nenhuma derrota, ou seja, em 18 jogos obteve 15 vitórias e três empates, somando 48 pontos, relegando à segunda posição o Ferroviário B, que terminou com menos sete pontos.
Nesse ano, em 2018, marcou 46 golos e sofreu apenas 8, tendo tido um saldo positivo de 38 golos.
Era a promessa de um futuro para o futebol moçambicano, olhando para a formação, seu primeiro objectivo quando foi criado.
Chegou ao Campeonato da segunda divisão em representação da Cidade de Maputo, no seu segundo ano da alta competição. Ao lado de clubes renomados do futebol moçambicano, casos da Associação Desportiva de Macuácua, que acabara de descer do Moçambola 2018, Desportivo da Matola, Estrela Vermelha de Maputo, Matchedje de Maputo, Águias Espaciais, os Ferroviários de Gaza e de Inhambane, a Black Bulls não se confinou no facto de ser estreante e “miúdo”, pelo contrário, agigantou-se, e até começou com uma vitória, diante do Temusa Costa do Sol da Massinga, num jogo em que Ejaita começou a aparecer e a mostrar-se, ao apontar dois golos.
Aprendeu dos erros cometidos e os jogadores entregaram-se ao projecto e jogo a jogo foram conquistando pontos que os possibilitaram terminarem a prova em primeiro lugar, com 51 pontos, confirmando a presença no Moçambola-2020 ainda faltando três jornada para o final.
A Associação Desportiva de Macuácua e o Desportivo da Matola de tudo fizeram para contrariar os “touros”, mas debalde, porque a caminhada estava a ser feita com garra e determinação, num esforço conjunto, numa equipa onde não despontavam jogadores conhecidos.
Aliás, Ejaita terminou como melhor marcador da prova, na zona sul, com 17 golos em 22 jogos, ajundando a sua equipa a apontar 29 golos. Nessa temporada de glória, os “touros” terminaram com 16 vitórias, três empates e igual número de derrotas, marcando 29 golos e sofrendo 13.
O nigeriano foi cobiçado pelos grandes do futebol moçambicano e chegou a ser emprestado ao Costa do Sol, por uma temporada, nomeadamente a época 2020, que entretanto, não disputou o Moçambola devido à Covid-19, e acabou voltando à sua Black Bulls.
SEM GRANDES CONTRATAÇÕES PARA ENFRENTAR O MOÇAMBOLA-2021
Juneid Lalgy, dono e patrono da Black Bulls, não se deixou levar pela emoção entrar na onda de ser novato no Moçambola e, por isso, precisar dos melhores, desde a equipa técnica até aos jogadores. Embora se tenha falado da chegada de Artur Semedo para treinar a equipa, Lalgy continuou a confiar em Hélder Duarte, numa clara alusão ao ditado que diz “em equipa que ganha não se muda”.
E foi com esse pensamento que, mesmo ao nível dos jogadores, não foi buscar os melhores do país, mas continuou a apostar nos “seus miúdos”, que já vinham jogando juntos há mais de três anos e, por isso, se “conhecerem bem”.
Da equipa base que tinha conquistado a “segundona” da zona sul, os “touros” reforçaram apenas com cinco jogadores, nomeadamente Danito, vindo da ENH de Vilankulos, Xirasse, que esteve no Maxaquene, Hammed, do Desportivo Maputo, Heldinho, do Clube de Chibuto, e Kabine, da LD Maputo.
Os restantes 19 jogadores eram todos da prata da casa, muitos deles da formação e outros que chegaram um ou dois anos antes, vindos do Clube de Chibuto, no âmbito da parceria entre as duas colectividades, não fosse o proprietário da Black Bulls natural daquele distrito da província de Gaza, para além de ter sido vice-presidente daquela colectividade durante quase cinco anos.
Entretanto, ao longo do Moçambola-2021 foi perdendo alguns jogadores, por empréstimo e venda, casos de Cleyd, Dércio e Celton, que foram ao Leixões de Portugal, Danito, que foi à LD Maputo, Valdimiro, que seguiu para Leixões e agora está no Ribeirão FC de Portugal, Cabine, que regressou à LD Maputo, e Bana Soares, que representa agora o Ferroviário de Nacala.
No mercado de transferência de inverno, em Junho, não houve nenhuma entrada nos “touros”.
APOSTA DOS JOGADORES ERA CONQUISTAR O TÍTULO
No dia da consagração do título nacional pela Black Bulls, houve uma revelação do presidente da colectividade. “No primeiro dia da reunião com os atletas para preparação da época, eu perguntei ‘qual é o objectivo da nossa participação no Moçambola’, e os atletas disseram ‘olha presidente, queremos atacar o título’. Eu disse ‘bem, se querem atacar o título tem o meu apoio’ e graças a Deus conseguimos”, revelou Juneid Lalgy.
Não porque estavam convictos que assim seria, até porque estavam numa prova com crónicos candidatos, casos dos Ferroviários de Maputo e da Beira, Costa do Sol e União Desportiva do Songo, mas também onde disputavam outras colectividades que já conquistaram a prova, ainda que não fossem candidatas, casos da Liga Desportiva de Maputo e Ferroviário de Nampula.
Mas o arranque promissor, com uma vitória fora de portas (diante do Ferroviário de Nampula por 0-1), mais outra na segunda jornada, em casa (frente a Associação Desportiva de Vilankulo, por 2-0), e mais uma terceira consecutiva, fora de portas (no terreno do Matchedje de Mocuba, por 1-2), que colocaram a equipa na liderança isolada da prova, terão feito desta Black Bulls uma equipa que começasse a pensar que os seus objectivos podem ser alcançados.
Nem mesmo o empate a um golo, em casa, na recepçao ao Ferroviário de Maputo, abalou a equipa, até porque os outros não chegaram a igualar os seus pontos, voltando a alcançar outras vitórias, cinco consecutivas, para começar a ficar tranquilo na tabela classificativa.
Só à 10ª jornada voltou a perder pontos, no empate caseiro a dois golos com o Costa do Sol, mas mesmo assim tinha uma vantagem de quatro pontos em relação ao Ferroviário da Beira, e cinco em relação ao Ferroviário de Maputo, seus directos perseguidores.
Fechou a primeira volta com mais duas vitórias e um empate, sem abertura de contagem, na deslocação a Chiveve, diante dos “locomotivas” locais, totalizando 33 pontos, mais seis que o directo perseguidor.
Já nessa altura a grandeza deste novato começava a evidenciar-se e estremecia os chamados grandes do futebol moçambicano.
SEGUNDA VOLTA MAIS COMPETITIVA E COM ALGUNS DESLIZES
O arranque da segunda volta, porém, terá deixado uma “pulga atrás da orelha” quando perdeu em casa, diante do Ferroviário de Nampula. Mas o Ferroviário da Beira não fez melhor e também perdeu, deixando tudo igual em relação a diferença de pontos. Quem chegou a estremecer o plano foi a Uniao Desportiva de Songo, que ficou a cinco pontos dos “touros”.
Mas na segunda jornada da segunda volta a Black Bulls e o Ferroviário da Beira venceram e a UD Songo perdeu, voltando a abrir caminho para o sucesso da turma de Tchumene, que ainda assim chegou a ficar beliscada quando teve dois empates consecutivos, com o Ferroviário de Maputo e UD Songo. Nessas duas jornadas o Ferroviário da Beira venceu e ficou a dois pontos.
Mas a campanha irregular dos seus directos perseguidores e a sua boa reacção ao momento, voltaram a abrir espaço para cinco pontos entre “touros” e “locomotivas” de Chiveve, que não mais se reduziu, porque o Ferroviário da Beira imitava o mesmo resultado da Black Bulls em todas jornadas subsequentes.
A derrota diante do Ferroviário de Lichinga só abriu caminho para que o jogo do título fosse em sua casa, diante do directo perseguidor, o Ferroviário da Beira. 3-1 que não deixaram margens para dúvidas em relação ao alcance do objectivo projectado pela colectividade de Tchumene na prova.
Conquistou o seu primeiro título (sim, primeiro, porque com este andar vem muitos mais títulos pela frente) inédito e de forma virtual, a uma jornada do fim do Moçambola-2021.
Por isso mesmo há que dizer “ode aos vencedores regulares da prova”!
Dirigentes rendidos à campanha da Black Bulls
A Liga Moçambicana de Futebol não quis perder a oportunidade de entrar na história da festa do título da Black Bulls e levou as medalhas e a taça para Tchumene, até mesmo para moralizar os “touros”, que não queriam ver o troféu regressar com Ananias Couana e seus colegas.
Foi entregue a taça e as medalhas, tanto para o campeão nacional, Black Bulls, bem como para o vice-campeão nacional, Ferroviário da Beira, que mesmo com a derrota não mais perde a vice-liderança.
No final, Gilberto Mendes, Calisto Cossa e Ananias Couana mostraram-se rendidos à campanha da Black Bulls, que consideram um justo vencedor, olhando para o projecto, campanha e regularidade ao longo do ano. Estes dirigentes falaram do facto de uma equipa com tamanha infra-estrutura como a que a Black Bulls tem, ser uma equipa que facilmente vai conquistar títulos, porque “tem tudo para dar certo”. E está a dar.
Por ora, à Black Bulls resta começar a pensar na próxima época, não só para revalidar o título, mas para atacar outras provas, casos da Taça de Moçambique (que este ano não se disputou) e as afrotaças, onde vai representar o país na Liga dos Campeões.
Até porque disputar as competições africanas é uma montra para os jogadores se mostrarem ao continente e ao mundo, a espreita de possíveis contratações para o estrangeiro. Uma vantagem não só para os jogadores, mas também para o patrono da colectividade.
EJAITA A TRÊS GOLOS DO PRÉMIO DE MELHOR MARCADOR
Com a jornada 25 do Moçambola a produzir 13 golos, com maior número de golos apontados na partida entre Black Bulls e Ferroviário da Beira, que saiu a sorrir é o “touro” avançado nigeriano, Ejaita, que apontou dois golos e contabiliza já 17, os mesmos números marcados em 2019, na segunda divisão, zona sul.
Uma boa marca para um avançado, que tem uma média de quase um golo por jogo, tendo conta que fez 19 dos 25 jogos da Black Bulls.
Os dois golos apontados diante dos “locomotivas” de Chiveve aproximam o jogador da meta aprovada pela Liga Moçambicana de Futebol para os melhores marcadores, que é de 20 golos por temporada, para ser coroado, com direito a premiação, como artilheiro da prova.
Ejaita afasta-se, também, do directo perseguidor, Dje, do Ferroviário de Lichinga, que nesta jornada ficou em branco e continua com 13 golos, e também de Dayo, que também não marcou e mantém-se com 11 golos apontados.
Nesta jornada, Dilson, que apontou o golo que deu a vitória à Liga Desportiva de Maputo diante do Costa do Sol, fez o seu quinto golo na presente temporada. James, do Matchedje de Mocuba, estreou-se a marcar no empate da sua equipa diante do Ferroviário de Maputo, enquanto Celso, que apontou o golo de empate, fez o seu terceiro golo da competição.
Já Kwali e Maxel, que marcaram no triunfo da União Desportiva de Songo diante da Associação Desportiva de Vilankulo, apontaram o terceiro golo, para cada um, esta temporada, enquanto Betão, que marcou o golo de honra da Associação Desportiva de Vilankulo, fez o seu segundo golo.
Na última jornada, no embate entre Incomáti de Xinavane e Black Bulls, Ejaita precisa marcar três golos para terminar com 20, e vencer o prémio dos artilheiros do Moçambola-2021.