Gestores bancários defendem a necessidade de criação de almofadas de riscos para que haja maior financiamento às empresas industriais. Já o ministro da Indústria e Comércio fala da necessidade da banca criar soluções de crédito mais criativas direccionadas ao sector.
Indústria tem grandes responsabilidades, entre elas, impulsionar a economia nacional. É o segundo sector que mais contribui na subida do Produto Interno Bruto, mas recebe apenas 7,9 por cento do crédito bancário, segundo a Política e Estratégia Industrial 2016-2025.
Entre os principais entraves do financiamento ao sector industrial estão a falta de linhas de crédito específicas para empresas industriais, assim como as elevadas taxas de juro praticadas pela banca e o desafio de elaboração de planos de negócios bancáveis ou sustentáveis.
No entender do ministro da Indústria e Comércio, Carlos Mesquita, a banca tem o desafio de introduzir linhas de crédito específicas e soluções inovadoras, para de facto, financiar as empresas do sector industrial.
Falando esta quinta-feira, na abertura da 4ª edição do MOZINDUS, que abordou o “Papel do sistema financeiro na indústria”, Carlos Mesquita disse ser crucial a disponibilização de crédito com taxas de juro motivadoras e que ajudem as empresas a enfrentar os efeitos negativos da COVID-19.
“Para que as empresas possam expandir as suas actividades, quer seja para a investigação, aquisição de matérias-primas, ou ainda para a produção, é fundamental que os custos, em particular as taxas de juro praticadas, contribuam para capacitar as indústrias nacionais de recursos para a sua instalação e funcionamento”, disse.
O ministro acredita que a disponibilização de liquidez para as empresas nacionais vai ajudar o país na diversificação da economia e da capacidade produtiva, criação de emprego com vista a reduzir a pobreza e promover um crescimento mais sustentável, reduzindo o impacto das externalidades, fundamentos que orientam a liderança da presidência da SADC, assumida por Moçambique para o período 2020/21.
Mesquita reconhece, entretanto, o aumento do risco nos momentos de crise e exorta, por isso, as instituições financeiras a pautarem pela criatividade e inovação dos seus produtos financeiras, com vista a aumentar a segurança dos negócios.
“Com o efeito da pandemia e outros desastres, todos somos chamados à maior resiliência e ao dever de contribuir para dar capacidade de liquidez e rápida reactivação económica”, ressaltou.
Por seu turno, o presidente do conselho de administração da Bolsa de Valores, Salimo Valá, disse que aquela entidade realiza, neste momento, um trabalho de divulgação do seu programa de financiamento às PME´s, visando dar resposta ao sector industrial e posicionar-se como alternativa para a atribuição de crédito.
“Nos últimos quatro anos concedemos 179 milhões de dólares em financiamento, dos quais 124 milhões de dólares destinaram-se ao financiamento às Cervejas de Moçambique e 55 milhões à Hidroeléctrica de Cahora-Bassa, significando um crescimento na ordem dos 330 por cento”.
Sara Fakir, co-fundadora e catalisadora executiva da Idealab, apontou, por sua vez, a necessidade de alternativas de financiamento que aliviem a pressão sobre a banca comercial ao mesmo tempo que ajudem as empresas, sobretudo nas fases iniciais do negócio.
“Todos nós não queremos que a banca comercial arrisque as nossas poupanças e nem é da sua natureza fazer isso, mas é preciso, efectivamente, olharmos para este grupo, sobretudo de empresas que são muito novas mas que têm um enorme potencial para crescerem e criar novos empregos, pensar em atribuir algum tipo de dinheiro gratuito para que possam afirmar-se no mercado e desenvolver os seus produtos”, sugeriu.
O presidente da Comissão Executiva do Banco Nacional de Investimentos (BNI), Tomás Matola, falou dos serviços prestados por aquela instituição do Estado para diferentes áreas, incluído a área da indústria.
Para Tomás Matola, “os recursos do balaço” do BNI estão “exclusivamente disponíveis” para financiar o sector produtivo, com destaque para a indústria. “Nós olhamos a indústria com especial atenção, exactamente porque por ser um banco do Estado temos que promover a substituição de importações, através de produtos acabados e manufacturados localmente”.
Segundo Matola, a prova desse envolvimento com a indústria, “é que da nossa carteira global, a indústria representa 56%”, o que significa “1.5 mil milhões de meticais. Deste montante 76% são para a indústria alimentar e 24% para as outras indústrias”.