Há bairros, nas cidades de Maputo e Matola, que foram obrigados a cancelar ou interromper os campeonatos recreativos devido aos protestos pós-eleitorais. Nos bairros T3, Mavalane e Mafalala, por exemplo, as provas só retomaram no fim-de-semana. Tradicionalmente, muitos bairros da cidade de Maputo e Matola têm realizado campeonatos recreativos em todos os anos.
Geralmente, o início das provas coincide com o término dos campeonatos oficiais do país, no caso Moçambola, Taca de Mocambique e campeonatos provinciais. Os campos constituem um ponto de convergência dos amantes do futebol, oportunidade que também tem servido para entreter os jovens, assim como uma oportunidade de negócio para muitas pessoas.
No ano passado as coisas foram diferentes por conta dos protestos pós-eleitorais, facto que condicionou a realização de algumas provas e as que, pelo menos arrancaram, tiveram, nalgum momento, de interromper. No bairro do Bagamoyo, por exemplo, nem sequer o campeonato local denominado Futbaga arrancou, ainda que a organização do evento tivesse agendado o início para Novembro.
“Infelizmente fomos obrigados a cancelar a realização do nosso campeonato, mas por causa da situação que o país vive não foi possível. A situação está difícil. O nosso tem andado vazio por esses dias, o que em condições normais não tem acontecido”, lamenta Judice Chemane, responsável pela organização da prova.
Por estas alturas, assegura Chemane, que o campeonato estaria na derradeira fase e já se poderia vislumbrar o campeão. Enquanto tudo continua sendo uma miragem, projecta-se a reposição dos danos causados pela acção dos protestos pós-eleitorais.
“O nosso campo sofreu bastante a acção dos protestos. Por exemplo, foram retirados todos os pneus ao redor do campo que serviam como bancadas. Temos de recomeçarmos a fazermos a reposição, de modo a garantirmos comodidade aos adeptos”, anota.
A reposição não é apenas das bancadas destruídas. Há, também, outros danos, tal é o caso da alegria que o campeonato criava nos adeptos que aos fins-de-semana tinham onde divertir-se.
“Esta é uma forma de entreter as pessoas e aglutinar as várias massas do bairro do Bagamoyo. Além dos adeptos, o nosso evento tem servido como oportunidade para algumas pessoas fazerem negócios”, explica.
No meio de muitas incertezas, ainda resta esperança de um possível retorno da prova. Ainda assim, só o tempo poderá encarregar-se de dar as melhores respostas.
“Estamos a acompanhar o andamento da situação sociopolítica do país. Infelizmente, só podemos esperar até que a situação volte à normalidade”.
Para Germano Sebastião, um dos fervorosos adeptos do Futbaga, a não realização do campeonato arrancou-lhe a alegria. Os seus fins-de-semana já não são os mesmos e resta-lhe recuar a máquina do tempo para desfrutar das doces memórias.
“Em todos os anos os meus fins-de-semana passados no campo onde assistia aos jogos. Faço isso há mais de 20 anos, ou seja, desde que essa iniciativa foi criada. Agora sou obrigado a ir aos outros bairros para poder ver futebol. Hoje (sábado), por exemplo, em condições normais estaria como os meus amigos a apoiar a minha equipa no meu respectivo bairro (Bagamoyo).
“TITANIC” QUASE AFUNDOU NO T3
No bairro T3, no município da Matola, durante um mês quase o barco afundou. O Titanic, como é designado o campeonato recreativo deste bairro, deu sinais de que resistiu à maré alta no sábado.
O jogo entre Tingaway, campeão em título da prova e Relâmpago marcou o retorno da prova mas com muitos prejuízos à mistura, tal como explica Jonas Cuna, responsável pela organização da prova.
“O término da prova estava previsto para dia 21 de Dezembro, mas por conta da situação dos protestos tivemos de parar por um mês. Fomos obrigados a redefinir as datas, pelo que o “Titanic” vai terminar no dia 25 deste mês”, lamenta.
Esse é um dos tantos revés que a paralisação da competição sofreu. Jonas Cuna explica, por exemplo, que este facto condicionou a realização de uma outra prova, por sinal tradicional, à semelhança do “Titanic”.
“Este mês estariamos a iniciar o campeonato Sub-20. Ora, com o atraso há incertezas quanto a realização dessa prova. Tudo indica que poderemos cancelar a prova, facto que seria doloroso para nós, como organização, assim como para os jovens jogadores”, explica.
Januario dos Santos é um dos que se ressentiram com a paragem do “Titanic”. A alegria de poder voltar a viver o ambiente electrizante do campo é enorme.
“Esta paragem prejudicou muito o campeonato, mas mesmo assim e porque os objectivos da prova devem ser alcançados, estou satisfeito com a retoma. Essas iniciativas são importantes, pois servem para ocupar os jovens”, anota.
Os bairros do Bagamoyo e T3 são apenas dois exemplos de tantos que desportivamente sofreram o impacto dos protestos nos últimos três meses do ano passado.