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Até sempre, “brincalhão”

“Conhecemos um homem pelo seu riso; se na primeira vez que o encontramos ele ri de maneira agradável, o íntimo é excelente”, Fiódor Dostoiévski

À terra, Mauro Vembane, somente irás entregar hoje o teu corpo. Porque, em meio a rostos carregados e lágrimas que escorrem nos olhos, ficará para sempre um retrato de um basquetebolista fiel ao seu “métier”.

Ficará, e porque fizeste disso uma das tuas marcas, a imagem de uma pessoa que espalhava alegria por onde passava! Brincalhão. Um gajo, pah, porreiro! Frontal.

Sempre, e nunca confundiste as estações, disposto a discutir ideias e não pessoas. Imberbe, e ainda à procura de (a)firmação com gravador, bloco e caneta ao punho, cruzámos caminho pela primeira vez. Trocámos ideias, trocámos números e lá marcámos uma sentada.

Falámos, com a paixão que sempre carregaste pela modalidade da bola ao cesto, das tuas expectativas e visão sobre aquilo que devia e deve ser o basquetebol moçambicano. Com um olhar clínico, aliás, diagnosticaste e apontaste o caminho a seguir!

E, pelo meio, nunca deixaste de criticar, de forma aberta e sem cobardia, o papel que os media (não) desempenhavam! Sobretudo, mano, no que diz respeito ao basquetebol. Dizias, lembro-me: “Aristides, melhorem neste e aquele aspecto”.

E, causa- consequência, desenvolvemos uma relação profissional de quase treze anos na qual aprendi muito contigo, Mauro Vembane.

Mesmo depois de te retirares do basquetebol, após passagens pelo Costa do Sol, onde deste os primeiros passos, Desportivo de Maputo, Maxaquene, Ferroviário de Maputo e selecção nacional, continuamos a falar sobre a modalidade.

E um pouco do FC Porto, clube ao qual eras aficcionado. Afinal, o desporto não tem fronteiras!

Ao lusco-fusco, e com brindes à mistura, abordámos o basquetebol. Fizeste, como sempre, observações sobre alguns aspectos em termos de abordagem.

Sem protagonismo e outros “ismos” que fazem escola nos “iluminados” cá da aldeia, deste várias sugestões. E sempre repisaste a necessidade de sermos humildes!

Porque, hoje por hoje, há muitos “corta-matos” que vão dar a Hollywood. Com queima de etapas e qualidade que deixa a desejar, pelo meio.

Não mais nos vimos! Infelizmente, terça-feira, espreitava eu o Facebook quando me deparo com um post de Helmano Nhatitima, teu eterno amigo. E meu amigo também, reivindico. Fiquei estarrecido! Gelei. Esqueci as tiradas do Milton Matsinhe. Caí na real. Não queria acreditar. Tirei lágrimas.

Os homens que choram também são homens. Questionei-me, tal como a Lena d’ Água num dos versos da música Sempre que o amor me quiser: “Porque é que os grandes homens caem e a vida é tão curta? Porque é que a morte arranca lágrimas dos olhos meus? Porque é que não disseste adeus?”.

 

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