Foram, hoje, a enterrar os restos mortais de Elvino Dias. A família descreve o advogado como alguém que, em vida, buscou por justiça de forma incessante. Já os colegas de profissão e juízes exigem responsabilização dos autores morais e materiais do assassinato de Dias.
Hoje foi o último adeus a Elvino que nunca mais verá os próximos dias. Vestida de preto e nos bancos de frente, a família directa do mandatário de Venâncio Mondlane estava aos prantos, desolada e inconsolável no velório com corpo presente, que decorreu na paróquia Nossa Senhora do Rosário, no bairro de Laulane, Cidade de Maputo.
À família do advogado, juntaram-se presentes figuras políticas, personalidades, amigos e colegas. A cerimónia foi orientada pelo arcebispo de Maputo, Dom João Carlos, e a capela esteve completamente cheia.
“A morte de um justo não é um castigo, mas um sinal de que Deus o escolheu para uma vida plena junto dEle. O nosso ente querido, Elvino Dias, mesmo com a sua partida precoce, viveu uma vida cheia de significados. Ganha significado em todos os que convivemos com ele”, referiu na pregação, Dom João Carlos, arcebispo de Maputo.
E várias dessas pessoas que marcaram presença no último adeus choram a morte de Elvino Dias e exaltam o legado que deixou, na sua breve passagem pelo mundo.
A família do advogado descreve-o como alguém que sempre buscou a justiça de forma incessante.
“Em nome desse ideal, muitas vezes relegou até o conforto e a segurança familiar, sempre pensando num bem maior. Ele sempre esteve comprometido com causas maiores, ocupando o centro das suas atenções e decisões, mostrando-nos o valor de lutar por uma sociedade mais justa”, descreveu o representante da família de Elvino Dias.
E esta luta foi para além de um meio restrito, tal como deu a conhecer Venâncio Mondlane, através do seu representante. “A admiração mútua levou a que os nossos caminhos se cruzassem e convergissem num ponto nobre: lutar por Moçambique e pelos moçambicanos, sobretudo os mais pobres, desfavorecidos, excluídos. Os seres humanos mais nobres aos olhos de Deus”, disse Dinis Tivane, em representação de Venâncio Mondlane, que esteve ausente, por se encontrar em parte incerta.
Entretanto, parece que nem todos gostaram do caminho e da luta que Elvino Dias escolheu abraçar.
“Nunca, nesse exercício, se pode compadecer com vinganças decorrentes de caprichos, rancores, vaidades dessa autodestruição das liberdades que compromete, apenas, os espíritos mesquinhos. Calaram a voz de um advogado íntegro, que lutava pelos seus ideais, fosse com a sua caneta em tantos momentos difíceis e exigentes das causas que abraçou, fosse com a voz que dava corpo às suas defesas”, afirmou Carlos Martins, bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique.
A Associação Moçambicana de Juízes diz ser inaceitável que mais cidadãos morram por defender a justiça e exige a responsabilização dos assassinos do advogado.
“Quantas mais vidas devem ser bárbara e covardemente exterminadas para que se dê um basta neste mal que corrói o nosso Estado? Por isso, a Associação Moçambicana de Juízes exorta todas as forças vivas, sobretudo os órgãos de investigação e de instrução, que levem os autores morais e materiais deste assassinato à barra do tribunal”, avançou Jafete Fremo, vice-presidente da Associação Moçambicana de Juízes.
Depois do velório, o lado exterior da capela estava totalmente cheio. Milhares de pessoas cantavam e exaltavam os feitos de Elvino Dias.
Posto isto, em cortejo fúnebre, seguiu-se viagem rumo ao cemitério de Michafutene.
Durante o percurso, muita gente estava ao longo da estrada, aos aplausos, em homenagem à vida e obra do advogado. Isto aconteceu durante todo o caminho até ao cemitério.
Já na sua última moradia, havia muita gente que queria ver e despedir de perto Elvino Dias. Até às árvores as pessoas subiram para ter uma visão privilegiada do último adeus ao “advogado do povo”.
Eis o retrato do ponto final do percurso de um homem pelo mundo, que deixa dois filhos menores e viúva.