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Ataque à sede da Frelimo em Inharrime resulta na morte de um membro do partido

Violência política e vandalismo assolam a província de Inhambane, com impacto devastador na EN1 e em infraestruturas públicas e privadas.

A noite de quarta-feira ficará marcada como um dos episódios mais violentos na história política de Inharrime, província de Inhambane. Manifestantes invadiram e incendiaram a sede distrital da Frelimo, culminando na morte de um jovem membro do partido, além de uma destruição generalizada, que abalou toda a comunidade.

A sede, que acolhia uma reunião interna com membros locais do partido, foi cercada por um grupo numeroso de manifestantes. De acordo com o primeiro secretário da Frelimo em Inharrime, Arlindo Macuácua, o ataque foi premeditado e teve como objectivo causar dano físico aos membros da organização.

“Estávamos em reunião, quando fomos surpreendidos por um grupo de manifestantes, que invadiu o espaço de forma violenta. Lançaram pedras, incendiaram o edifício e agrediram fisicamente alguns dos nossos membros. Foi um ataque coordenado para intimidar o partido e semear o medo na comunidade. Infelizmente, perdemos um dos nossos jovens, um companheiro que dava tudo pela causa do partido”, relatou Macuácua, visivelmente emocionado.

O líder partidário em Inharrime destacou ainda que, apesar do luto e da destruição, a Frelimo não se deixará abalar por actos de violência. “Estamos de luto, mas continuamos moralizados. Estes actos só reforçam a nossa determinação em servir o povo moçambicano e lutar pela estabilidade e pelo progresso. A violência nunca será a resposta para resolvermos os nossos problemas enquanto nação.”

Além dos danos à sede da Frelimo, o rasto de vandalismo alastrou-se por outros pontos da província, especialmente nos distritos ao longo da Estrada Nacional Número 1 (EN1). Lojas foram saqueadas, camiões de transporte de carga atacados, e várias infraestruturas públicas destruídas, aprofundando o clima de tensão na região.

Entretanto, o coordenador provincial do grupo de apoio ao antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane, Ilídio Cumbe, repudiou os actos de violência e distanciou-se das acções atribuídas aos manifestantes.

“Queremos deixar claro que o nosso grupo defende exclusivamente acções políticas pacíficas e dentro do quadro legal. Não temos qualquer envolvimento com manifestações violentas ou com os actos de vandalismo que ocorreram. Estas acções não representam a nossa forma de fazer política”, afirmou Cumbe.

Contudo, o coordenador foi mais além ao condenar o oportunismo de indivíduos que, segundo ele, se aproveitam do ambiente de instabilidade para cometer crimes. “Infelizmente, sempre que há situações tensas como estas, surgem grupos de malfeitores que nada têm a ver com a política e que apenas aproveitam para saquear, destruir e espalhar o caos. O que vimos em Inharrime e nos distritos vizinhos é inaceitável e deve ser tratado como crime, não como manifestação política.”

O ataque à sede da Frelimo e a morte do jovem membro do partido geraram uma onda de indignação e tristeza entre os moradores de Inharrime. Algumas testemunhas relatam o medo vivido durante os momentos mais críticos do ataque, com muitos a refugiar-se em casa para evitar confrontos.

“Foi assustador. As pessoas gritavam, e o fogo tomou conta do edifício. Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer aqui. Estamos todos muito abalados”, disse um residente local que preferiu não ser identificado.

Por outro lado, as autoridades locais reforçaram a presença policial na região e prometeram investigar a fundo os acontecimentos. Até ao momento, não foram feitas detenções relacionadas com o ataque, mas fontes ligadas às forças de segurança indicam que há suspeitas de envolvimento de grupos organizados por detrás das manifestações.

Enquanto isso, ao longo da EN1, os impactos económicos e sociais começam a fazer-se sentir. Camionistas enfrentam dificuldades para circular, com receio de novos ataques, e os comerciantes contabilizam prejuízos significativos após os saques registados nos últimos dias.

A tragédia de Inharrime lança luz sobre um contexto mais amplo de tensões políticas e sociais que parecem estar a ganhar proporções alarmantes em várias regiões do país. Entre o luto e a destruição, fica a expectativa de que as autoridades e líderes políticos consigam trazer calma e segurança a uma população profundamente afectada.

 

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