Arrancou hoje, na Beira, o julgamento do homem que espancou a esposa e depois a queimou com um ferro de engomar. A vítima, que veio a falecer três meses depois, deixou uma menor que, na altura dos factos, tinha apenas cinco meses de vida.
Em meados de Fevereiro deste ano, uma jovem que, em vida, respondia pelo nome de Fátima Ndacuo, que tinha apenas 23 anos de idade, morreu no Hospital Central da Beira, depois de ter ficado três meses internada em estado de coma, na sequência de agressões físicas supostamente protagonizadas pelo marido. Além de a espancar com recurso a um pau, recorreu a um ferro de engomar para queimar a vítima, segundo acusação do Ministério Público (MP).
O marido que estava em liberdade foi detido dias depois de a vítima perder a vida e o MP iniciou os procedimentos para o julgamento do caso. O julgamento iniciou-se esta quinta-feira, na 3ª sessão do Tribunal Judicial da cidade da Beira, e o suposto autor do crime, Marcílio Guta, é acusado de homicídio agravado.
Perante o Juiz, Iaquine Zingo, Marcílio Guta afirmou que não agrediu a esposa tal como acusa o MP. Ele referiu que, na noite do dia 4 de Novembro do ano passado, chegou à casa cerca das 23 horas e minutos depois iniciou uma discussão com a esposa, em torno da sua chegada tarde à residência.
Guta explicou que, quando se dirigia à casa de banho, a esposa seguiu-o e terá agarrado a gola da sua camisa e puxado-o, estando nas suas costas.
Reagindo a este gesto, Guta indicou que virou bruscamente com os braços levantados e a sua mão direita acertou a face da esposa. Esta terá supostamente escorregado e caído, tendo, durante a queda, batido com a parte traseira da cabeça numa mesa feita de cimento.
O acusado acrescentou que concluiu que era algo espiritual e decidiu fazer uma oração que não resultou. Chamou os vizinhos e estes socorreram a vítima de txopela, cerca de duas horas depois, para o hospital local, onde depois foram transferidos na manhã do dia seguinte, cerca das seis horas para o Hospital Central da Beira, donde nunca mais saiu.
O acusado disse que, durante os três meses que a esposa ficou internada, nunca visitou a mesma, nem falou com ela, porque foi impedido pelos familiares da mesma.
O Juiz da causa mostrou duas fotos da vítima a Guta, tiradas ainda com vida. Na primeira, ela aparece com a face muito inchada e, na segunda, com sinais de queimaduras. O Juiz leu, depois, as declarações da vítima que referem que fora espancada pelo marido com recurso a um pau e este depois o queimou com um ferro de engomar.
Guta disse apenas que a esposa ficou inchada durante o percurso para o hospital e que não a violentou nem queimou.
Chamada uma testemunha, Mário Vitorino, que foi ajudar a socorrer a esposa para o hospital, este confirmou tudo o que Guta tinha contado, contudo divergem no local onde ele encontrou a vítima. Vitorino afirmou que encontrou Fátima Ndacuo na porta do quarto principal da casa, deitada de cabeça e desmaiada, enquanto Guta disse que a mesma estava na porta que dá acesso à casa de banho.
Depois de ouvir a testemunha, o julgamento foi interrompido, será retomada no próximo dia 7 de Novembro e contará com a presença de técnicos de saúde que assistiram à vítima, para ajudarem a clarificar alguns termos técnicos. Neste período, o tribunal deslocar-se-á até ao local onde ocorreram os factos para melhor produção de provas.