O País – A verdade como notícia

Moçambique vai beneficiar de um pacote de 160 milhões de euros destinado a financiar projetos de agronegócio, inclusão das mulheres, desenvolvimento rural e cadeias de valor ao longo do Corredor da Beira. 

O anúncio foi feito esta segunda-feira, em Maputo, durante o Fórum de Negócios Moçambique–Itália, que juntou representantes governamentais e do sector privado dos dois países.

Segundo o ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas, Roberto Albino, o valor vai para projectos virados para a promoção do agronegócio e para o fortalecimento do sector privado moçambicano. Alguns dos projectos já estão em curso e outros ainda em fase de discussão. 

É um fórum no qual queremos, de facto, dizer aos nossos empresários moçambicanos e italianos que o governo moçambicano e da Itália estará junto com eles para que, de facto, possam aproveitar essas oportunidades e fazer negócios para o benefício do sector privado moçambicano, para a geração de emprego  e, sobretudo, para a promoção da substituição de importações de produtos que nós podemos 

Já o ministro da Agricultura, Soberania Alimentar e Florestas da Itália, Francesco Lollobrigida, reafirmou a amizade histórica entre os dois países e garantiu disponibilidade para trabalhar lado a lado com Moçambique. 

A presença das empresas italianas neste fórum é a garantia da nossa vontade de nos confrontar com Moçambique, sobre quais podem ser as exigências, os problemas e as soluções. Confirmo a disponibilidade italiana para trabalharmos juntos para fortalecer o Moçambique e fazer dele um país mais rico e mais forte”, declarou. 

Na ocasião, o presidente do Pelouro do Desenvolvimento do Agronegócio da CTA, Yacub Latif, destacou que o sector privado nacional está pronto para absorver os financiamentos, embora ainda aguarde a definição dos critérios de acesso por parte da Itália. 

“Temos empresas que já exportam e muitos empreendedores que querem começar a exportar. Moçambique tem terras disponíveis, apenas 20% da terra arável está em uso e há enorme potencial para crescer. Agora dependemos das regras que a Itália estabelecer”, disse.

Organizado pela Embaixada da Itália e pela Câmara de Comércio e Investimentos Moçambique-Itália, o fórum pretende reforçar a cooperação bilateral e aproximar os sectores privados dos dois países, criando espaço para novas parcerias em agronegócio.

A dívida pública de Moçambique voltou a aumentar no segundo trimestre deste ano, ao atingir 17,4 mil milhões de dólares, o equivalente a 79,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Os números constam do mais recente Boletim Trimestral sobre a Dívida Pública, divulgado pelo Ministério da Economia e Finanças.

Segundo o mais recente Boletim Trimestral sobre a Dívida Pública, entre Abril e Junho deste ano, o stock total da dívida de nível central, a dívida pública, cresceu 0,1%, impulsionado pelas emissões internas, enquanto a componente externa registou uma ligeira contracção. No total, o volume de endividamento subiu de 1,071 biliões para 1,072 biliões de meticais.

“O crescimento da dívida do Governo central foi influenciado maioritariamente pela dívida interna, justificado pelas novas emissões no âmbito da Facilidade de Crédito do Banco Central”, refere o boletim trimestral.

No fim do segundo trimestre, em Junho, a dívida interna atingiu 444,9 mil milhões de meticais, uma subida de 0,4% face ao trimestre anterior. As Obrigações do Tesouro representaram 38,8% do total, seguidas dos Bilhetes do Tesouro (33,6%). A componente “outros”, que inclui financiamentos do banco central, passou a representar 27,6% da carteira.

O serviço da dívida interna somou 78,7 milhões de meticais, um aumento de 9% face ao primeiro trimestre, explicado pela maior concentração de vencimentos de títulos.

Em sentido contrário, a dívida externa recuou 0,1%, para 9,8 mil milhões de dólares. O boletim aponta como razões o pagamento regular do serviço da dívida e o compromisso do Governo em “privilegiar a contratação de financiamentos em condições altamente concessionais e donativos”.

A maior fatia do endividamento externo continua nas mãos de credores multilaterais (56,1%), com destaque para a Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA), que detém 30,3% do total, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), com 10,1%. Entre os bilaterais, a China é o principal credor (13,7%), seguida pelo Japão (4,1%) e Portugal (3,9%).

No trimestre em análise, o serviço da dívida externa caiu 53,1%, para 98,6 milhões de dólares, aliviando temporariamente as pressões sobre as contas públicas.

Um dos pontos de maior preocupação vem do sector empresarial do Estado (SEE), cuja dívida directa subiu 7,2% no trimestre para 39,5 mil milhões de meticais (619 milhões de dólares).

A pressão veio sobretudo da dívida externa, que cresceu 14,5%, impulsionada por novos financiamentos contraídos pelos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) no valor de 36 milhões de dólares, destinados à expansão do terminal de combustíveis em Pemba. Também a EDM, os Aeroportos de Moçambique e a Tmcel registaram aumentos no stock de dívida.

Internamente, os CFM destacaram-se novamente, com um acréscimo de 504 milhões de meticais, seguidos pela HCB, que aumentou a sua dívida em 53 milhões.

O relatório alerta que 90% da dívida das empresas estatais está indexada a taxas de juro variáveis, o que aumenta a vulnerabilidade em cenários de instabilidade financeira internacional.

O crescimento da dívida pública não é apenas uma estatística macroeconómica: ele tem reflexos directos no dia-a-dia das famílias e das empresas. Quanto maior é a necessidade do Estado de financiar-se internamente através de Bilhetes e Obrigações do Tesouro, maior é a concorrência com o sector privado pelo crédito disponível, encarecendo as taxas de juro e limitando a capacidade de investimento das pequenas e médias empresas, que são as grandes geradoras de emprego. Para as famílias, o efeito traduz-se na redução do poder de compra, pois o Governo, pressionado pelo serviço da dívida, se vê obrigado a cortar despesas sociais ou a aumentar impostos indirectos, que atingem sobretudo os mais pobres. Além disso, quando grande parte do orçamento do Estado é destinada ao pagamento de juros e amortizações, sobra menos espaço para investir em saúde, educação, transportes e infra-estruturas, serviços de que dependem directamente os cidadãos.

O stock agregado da dívida pública e garantida, que inclui Governo central e sector empresarial, cresceu de 17,35 mil milhões de dólares, no primeiro trimestre, para 17,41 mil milhões, no segundo trimestre, equivalente a 1,112 biliões de meticais.

O boletim lembra que, apesar da inflação controlada – 4,0% em Abril e Maio, e 4,2% em Junho –, e da redução da taxa de juro de política monetária para 11%, persistem riscos internos significativos, como “o agravamento do risco fiscal, as incertezas quanto à reposição da capacidade produtiva e os impactos de choques climáticos”.

Especialistas têm alertado que a trajectória da dívida mantém pressões sérias sobre as finanças públicas, afirmando que Moçambique não tem margem para relaxar. Com 79% do PIB comprometido, a sustentabilidade da dívida só será possível com disciplina fiscal, crescimento económico robusto e diversificação das fontes de receita.

O próprio relatório oficial reconhece que será necessário “um reforço da gestão orçamental, maior transparência e mobilização de recursos internos” para evitar desequilíbrios maiores.

Enquanto o Governo procura espaço para financiar programas sociais e infra-estrutura, a crescente factura da dívida interna e o peso das empresas públicas funcionam como um travão adicional. O risco, segundo analistas, é que o Estado continue a depender de emissões internas, o que pode agravar a pressão sobre o sistema financeiro.

Restrições na disponibilidade de água no rio Zambeze, fonte de produção da Hidoeléctrica de Cahora Bassa (HCB), e os trabalhos de manutenção na empresa fornecedora de energia eléctrica estão a afectar a arrecadação de receitas externas para o Estado moçambicano.

De acordo com o relatório do Banco de Moçambique intitulado Balança de Pagamentos, a energia eléctrica de Moçambique vendida para outros países rendeu cerca de 104 milhões de dólares entre Janeiro e Março deste ano, o equivalente a um decréscimo de 34%.

“A queda na receita deste produto deveu-se à interrupção na oferta de energia, causada pelas restrições na disponibilidade de água no rio Zambeze, bem como aos trabalhos de manutenção realizados num dos principais fornecedores”, lê-se no documento.

Importa sublinhar que a África do Sul é o principal país de origem das importações moçambicanas, com um peso de 29,4% do total das importações, destacando-se a energia eléctrica, óxido de alumínio, automóveis para transporte de mercadorias, entre outros.

Em destaque está também a África do Sul como um dos principais destinos das exportações de Moçambique, com 13,4% do total, estando a ocupar a segunda posição, na qualidade do principal consumidor de energia eléctrica, gás natural, carvão, bananas, entre outros.

No mesmo período, as receitas de exportação de gás natural, alumínio e areias pesadas aumentaram em 124,7 milhões de dólares, 178,5 milhões e 12,1 milhões, respectivamente.

O aumento nas receitas do gás natural é explicado pelo aumento do volume exportado na área 4 da Bacia do Rovuma e pela subida do preço médio no mercado internacional em 12,8%.

Enquanto isso, no primeiro trimestre deste ano, diminuíram as receitas de exportação dos produtos tradicionais, devido à queda registada nos produtos agrícolas na ordem de 29,3 milhões de dólares, com destaque para o tabaco (47%) e os legumes e hortícolas (42%).

“No detalhe, os factores que concorreram para as variações negativas destes produtos foram os seguintes: tabaco – a redução anual nas receitas desta mercadoria, no valor de USD 28,3 milhões, resulta basicamente da queda no volume exportado em cerca de 60%; legumes e hortícolas – as vendas destes produtos diminuíram em USD 15,7 milhões, devido às (…) manifestações pós-eleitorais”, avança o Relatório da Balança de Pagamentos.

A Índia, com 515 milhões de dólares, mantém-se na primeira posição como principal destino das exportações de Moçambique, com um peso de 18,2% no total, sendo de destacar o gás natural, carvão mineral, legumes secos ou em grão, castanha de caju, entre outros.

No que respeita ao Investimento Directo Estrangeiro (IDE), a indústria extractiva foi o maior beneficiária, ao absorver 1568 milhões de dólares, o que corresponde a 96,5% do total, com destaque para a exploração de gás no valor de 1234 milhões de dólares (78,7% do IDE do sector).

“Relativamente aos outros sectores, destacam-se as actividades imobiliárias, alugueres e serviços às empresas, com um encaixe de USD 15 milhões, equivalente a 0,9% do total do IDE, o mesmo que um acréscimo anual de 92,4%”, avança o Banco de Moçambique.

No que se refere aos principais parceiros do IDE em Moçambique, o destaque vai para os investimentos realizados pela África do Sul, Países Baixos, Maurícias, Itália e Estados Unidos da América, com um peso de 29,0%, 27,8%, 21,0%, 12,7% e 2,2% cada.

De Janeiro a Março deste ano, o Estado moçambicano pagou 350,2 milhões de dólares em dívida, reflectindo o aumento nos reembolsos de capital e juros de empréstimos, tanto por parte do Governo como de outros sectores, em 195,3 milhões dólares e 154,9 milhões, respectivamente.

No período em análise, o total de desembolsos de empréstimos externos para a economia nacional foi de 27,5 milhões de dólares, o que significa um decréscimo anual de 78,5%, determinado pela diminuição da contratação da dívida externa pública.

“Os desembolsos de empréstimos externos para o sector público reduziram-se em 82,2% para o montante de USD 15,1 milhões, devido ao decréscimo registado nos acordos multilaterais em 94,4% (USD 75 milhões)”, pode-se ler no documento do banco central.

O presidente do Conselho de Administração da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, Tomás Matola, defende investimento em soluções inovadoras para garantir o sucesso do sector energético no país. Matola fez esses pronunciamentos no quadro das II Jornadas Técnico-Científicas da HCB, sob o lema “Energias Renováveis – O Futuro da Matriz Energética”.

Organizado pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), o evento reúne especialistas, estudantes e inovadores, para discutir o futuro do sector energético no país, no que respeita às energias renováveis.

Falando na abertura do evento, o presidente do Conselho de Administração da HCB, Tomás Matola, destacou as oportunidades que os recursos naturais em Moçambique representam para o desenvolvimento de soluções energéticas sustentáveis. 

“Moçambique está dotado de abundantes recursos naturais, incluindo luz solar, vento, água e biomassa. Este facto posiciona-nos de forma única para capitalizar os benefícios das energias renováveis”, afirmou Matola, instando as partes interessadas a aproveitarem as oportunidades apresentadas pelas energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.

Tomás Matola destacou ainda a responsabilidade partilhada de se investir em soluções inovadoras para garantir o sucesso do sector energético. 

“A colaboração é fundamental. A HCB está empenhada em trabalhar com diversos parceiros para partilhar conhecimentos e experiências que abrirão caminho para um futuro energético sustentável”, observou.

Na cerimónia, foram apresentados dois temas. O economista e antigo ministro da Energia, actual PCA do Banco BIG, Salvador Namburete, debruçou-se sobre “As potencialidades energéticas de Moçambique: o caso das energias renováveis”, e Bernardo Mariano Júnior, assistente do secretário-geral das Nações Unidas para a área de Tecnologia da Informação e Comunicações falou sobre “A energia eléctrica na era de inteligência artificial”.

Ainda no decorrer da cerimónia, foram lançadas as primeiras revistas técnico-científicas, uma publicação científica cujos autores dos artigos são, por um lado, os colaboradores da HCB, que escrevem sobre as suas diferentes experiências de vida no que respeita à resolução de problemas técnicos encontrados no dia-a-dia da empresa e, por outro lado, académicos que pesquisam e produzem conhecimento, e que a HCB convidou para publicarem na revistas.

Este encontro reúne especialistas, estudantes e inovadores de vários sectores e instituições como o Instituto Superior Politécnico do Songo, o Instituto Superior Politécnico de Tete, a Universidade Púnguè, a Universidade Zambeze, a Universidade Save, Universidade Eduardo Mondlane, o Instituto Superior de Transportes e Comunicações, a Associação Lusófona de Energias Renováveis, a Electricidade de Moçambique, o Gabinete de Implementação do Projecto Hidroeléctrico de Mhpanda Nkuwa, o Fundo de Energia, a United Nation University para debater sobre as energias renováveis e estratégias de diversificação da matriz energética moçambicana. 

Num ano em que a HCB celebra os seus 50 anos de existência como empresa geradora de energia hidroeléctrica, estas II Jornadas Técnico-Científicas reafirmam o compromisso da empresa em fomentar iniciativas de desenvolvimento sustentável e em promover a investigação científica.

O evento serve também como uma plataforma vital para a troca de ideias e a construção de parcerias que irão impulsionar o progresso nas energias renováveis, bem como estabelecer um sector energético resiliente e sustentável que beneficie todos os moçambicanos, ao mesmo tempo que salvaguarda o ambiente para as gerações futuras.

O Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) será responsável pela gestão de uma nova empresa com o mandato específico de negociar a dívida da companhia aérea Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), que atravessa uma grave crise financeira. 

A informação foi revelada esta sexta-feira, durante uma visita da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) à sede do IGEPE, em Maputo.

Segundo a Presidente do Conselho de Administração do IGEPE, Ana Coanai, a medida surge na sequência de uma decisão do Conselho de Ministros, que autoriza a criação de uma entidade dedicada exclusivamente à reestruturação da dívida da transportadora aérea nacional. A futura empresa terá, entre outras funções, a missão de negociar com os bancos credores da LAM.

“O processo de reestruturação, gestão e pagamento da dívida será conduzido por uma empresa a ser criada pelo IGEPE, com participação da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB, S.A.), Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM, E.P.), Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE, S.A.), em conjunto com os accionistas da própria LAM, como resultado da decisão do governo e entidade vai negociar directamente com os bancos”, afirmou Ana Coanai.

Durante o encontro, a dirigente reconheceu as fragilidades existentes no Sector Empresarial do Estado, mas destacou que, apesar disso, o conjunto de empresas públicas sob tutela do IGEPE contribuiu com 200 milhões de dólares em dividendos para o Estado.

“Este resultado é fruto da contribuição das próprias empresas, e esses valores são reinvestidos para gerar mais lucros e investimento”, acrescentou Coanai.

A visita dos deputados do MDM ao IGEPE acontece num contexto económico delicado no país, marcado por casos de corrupção, escassez de recursos para investimento público e um clima generalizado de desconfiança sobre a gestão de empresas públicas.

O chefe da bancada do MDM, Fernando Bismarque, criticou a má gestão em várias empresas do Estado e defendeu que a auditoria forense em curso na LAM deve ter efeitos práticos para além da companhia aérea.

“Esperamos que a auditoria forense na LAM não sirva apenas para encontrar culpados, mas também deve contribuir para o combate à corrupção nas outras instituições do Estado, desvio de recursos como sabem. O grande problema deste país, o grande cancro é a transparência na gestão dos recursos públicos”, defendeu Bismarque. 

A delegação do MDM recebeu garantias por parte do IGEPE de que estão a ser reforçados os mecanismos de transparência na gestão e que está em curso um plano de redução das dívidas das empresas públicas.

A economia moçambicana perdeu algum fôlego em Agosto, com o Índice dos Gestores de Compras  do Standard Bank a recuar para 49,9 pontos, sinalizando uma ligeira contracção do sector privado. No entanto, o abrandamento não travou as empresas: o emprego subiu pelo terceiro mês consecutivo, e os salários atingiram o nível mais alto em mais de um ano, revelando confiança na retoma.

O estudo, feito pela S&P Global, com base em respostas de cerca de 400 empresas, aponta que a queda do índice global se deveu, principalmente, à redução dos stocks e à maior facilidade em obter matérias-primas. Porém, ao mesmo tempo, houve melhorias em áreas como a produção, as novas encomendas, o emprego e os prazos de entrega dos fornecedores.

O mercado de trabalho foi o grande destaque. Em Agosto, o número de pessoas empregadas subiu pela terceira vez seguida, atingindo o nível mais alto em mais de um ano. Quatro dos cinco sectores acompanhados registaram aumento de trabalhadores. Apenas a construção recuou, devido a atrasos em projectos e dificuldades financeiras. O reforço de quadros está ligado ao crescimento das vendas, ainda que modesto, e à necessidade de acelerar entregas pendentes.

Por outro lado, os custos com pessoal chamaram a atenção. As despesas salariais aumentaram e atingiram o nível mais elevado desde Maio de 2024. Apesar de continuarem abaixo da média histórica, os aumentos mostram que as empresas estão a sentir maior pressão para pagar melhores salários. A razão passa pela necessidade de reter mão-de-obra qualificada e acompanhar o aumento do custo de vida. Além disso, os preços de matérias-primas e insumos também subiram, registando, em Agosto, a inflação mais forte do último ano. Este cenário tem levado algumas empresas a subir ligeiramente os preços dos seus produtos para compensar os gastos.

No geral, a produção cresceu pelo segundo mês consecutivo, embora a um ritmo mais lento do que em Julho, quando tinha alcançado o melhor resultado em dois anos. A agricultura e a construção deram o maior contributo para esta recuperação, mas os ganhos foram compensados por quedas no sector secundário, no comércio e nos serviços. As novas encomendas também aumentaram, mas a um ritmo inferior ao do mês anterior.

Apesar da descida do PMI, as empresas continuam optimistas em relação ao futuro. Cerca de 42% dos inquiridos acreditam que a actividade vai crescer nos próximos doze meses. As razões mais apontadas são o aumento esperado nas vendas, a conquista de novos clientes, mais contratações e a maior disponibilidade de matérias-primas. O sentimento positivo também é apoiado pela perspectiva de novos investimentos, incluindo o acordo entre o Governo moçambicano e a Al Mansur Holdings, do Qatar, que prevê 20 mil milhões de dólares para sectores como agricultura, infra-estruturas, turismo, petróleo e gás.

Mesmo assim, os analistas alertam que o aumento dos salários e dos custos de produção pode pressionar os preços, nos próximos meses, criando riscos de maior inflação. Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank, explicou que “o PMI abaixo de 50 mostra contrações mensais consecutivas no sector privado, mas a confiança das empresas aponta para uma recuperação ligada ao progresso dos projectos de gás natural liquefeito, que devem impulsionar a produção”.

Em súmula, o mês de Agosto trouxe sinais de cautela, mas também motivos para confiança. O emprego cresceu pelo terceiro mês seguido e registou o ritmo mais forte em mais de um ano. Os salários também subiram e atingiram o nível mais elevado desde 2024. Ao mesmo tempo, as empresas enfrentam maiores custos de produção e riscos de inflação. A economia privada moçambicana mostra-se, assim, entre desafios e oportunidades: perde algum fôlego no curto prazo, mas prepara-se para um futuro que pode ser mais positivo, se os investimentos estrangeiros e a procura interna avançarem como esperado.

Os preços do petróleo voltaram a registar quedas esta quinta-feira, 4 de Setembro, marcando o segundo dia consecutivo de desvalorização nos mercados internacionais. A tendência em baixa está associada sobretudo à expectativa de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) decida aumentar a produção já no encontro agendado para este fim-de-semana.

No mercado londrino, o Brent caiu cerca de 0,7% e está a ser negociado em torno dos 67 dólares o barril (cerca de 871 meticais), enquanto o crude norte-americano WTI recuou para os 63,5 dólares (aproximadamente 826 meticais). Estes níveis representam uma descida de mais de 2% face às cotações da véspera.

Além da expectativa em torno da OPEP+, os preços também foram pressionados por novos dados vindos dos Estados Unidos. O Instituto Americano de Petróleo revelou que os estoques de crude aumentaram em mais de 600 mil barris na última semana, contrariando previsões de queda. A notícia reforçou a percepção de excesso de oferta e contribuiu para o sentimento negativo entre investidores.

Analistas ouvidos pela imprensa internacional notam que a OPEP+ parece confortável em manter os preços na faixa de 60 a 65 dólares o barril, valor considerado suficiente para sustentar as economias dos grandes exportadores, mas que pode colocar em risco a viabilidade da produção de petróleo de xisto nos Estados Unidos.

A recente queda acontece num contexto de incertezas sobre a procura mundial de energia, marcada por sinais de desaceleração económica em várias regiões, o que poderá agravar a pressão sobre os preços caso a oferta realmente seja ampliada nas próximas semanas.

Moçambique reduziu em 7,5% os encargos com o serviço da dívida pública no primeiro semestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. No total, o Estado gastou 27,1 mil milhões de meticais (cerca de 364 milhões de euros), valor que representa já 42,6% do orçamento anual previsto para este ano.

A queda foi impulsionada pela redução dos encargos com a dívida externa, que desceram 6,2%, para 5,8 mil milhões de meticais (78 milhões de euros). Ainda assim, a dívida interna continua a pesar mais: os juros atingiram 21,3 mil milhões de meticais (286 milhões de euros), um ligeiro aumento de 0,2% em termos homólogos, equivalente a 41,9% do orçamento anual para esta rubrica.

O governo alerta para os riscos da dependência crescente da dívida interna, sujeita a taxas de juro elevadas, e para a concentração dos pagamentos, destacando setembro como o mês mais crítico, com previsão de desembolso de 20 mil milhões de meticais (267 milhões de euros).

Apesar do recuo, os encargos com a dívida continuam a limitar a capacidade de investimento público. A redução é vista como sinal positivo, mas insuficiente para resolver o problema estrutural da elevada dependência do endividamento interno e da vulnerabilidade às flutuações financeiras.

O governo também chama atenção para os riscos associados às taxas de juro, especialmente num contexto em que a dívida interna representa a maior fatia dos compromissos. Uma eventual subida das taxas pode encarecer ainda mais o serviço da dívida e reduzir a margem de manobra orçamental para financiar outras prioridades, como investimentos em infraestruturas, saúde ou educação.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) adverte Moçambique para que adopte, urgentemente, medidas que consolidem o orçamento e restaurem a estabilidade macroeconómica do país.

Uma equipa daquela instituição mundial, liderada pelo membro sénior Pablo López Murphy, manteve discussões com o Governo de Moçambique entre os dias 21 e 29 de Agosto, a fim de aferir a situação económica do país, os principais desafios económicos e financeiros e as políticas necessárias para apoiar a estabilidade macroeconómica.

No fim da segunda visita de uma missão do FMI no país, o representante máximo classificou o encontro como produtivo, não obstante a necessidade de consolidação orçamental imediata, tendo em conta os desafios macroeconómicos.

“A equipa do FMI manteve discussões construtivas com as autoridades moçambicanas sobre as políticas fiscais, financeiras e estruturais necessárias para sustentar a estabilidade macroeconómica e financeira, gerar empregos e impulsionar o crescimento de médio prazo”, referiu Lopez Murphy.

De acordo com a avaliação do órgão, a actividade económica está a recuperar-se gradualmente, após uma forte desaceleração entre Outubro de 2024 e Março de 2025. A receita fiscal aumentou 2,6% em relação ao ano anterior, no segundo trimestre de 2025, recuperando-se de uma queda de 4,2% no primeiro trimestre.

Contudo, para 2025, projecta-se um crescimento do PIB de 2,5%, com a retoma da actividade económica, especialmente no segundo semestre, impulsionada pela recuperação do sector dos serviços.

“O défice orçamental atingiu 2,4% do PIB anual no primeiro semestre de 2025, em comparação com 2,8% no mesmo período de 2024. As pressões orçamentais persistiram, não apenas devido às receitas fiscais limitadas — afectadas pela desaceleração da actividade económica —, mas também porque a despesa do Governo continuou a crescer a um ritmo mais rápido, agravando ainda mais a lacuna”, explicou.

Entretanto, a inflação mantém-se contida no meio de condições financeiras restritivas. Em Julho, situava-se em 4% face ao mesmo período do ano anterior, abaixo da meta implícita de 5%. O Banco de Moçambique iniciou um ciclo de flexibilização em Janeiro de 2024, reduzindo a taxa básica de juro em 700 pontos base até ao momento (para 10,25%). 

O défice da conta corrente no primeiro semestre de 2025 manteve-se em 1,3 mil milhões de dólares, reflectindo as condições financeiras restritivas e a escassez de divisas, que pesam sobre as importações. O diferencial entre as taxas de câmbio oficial e paralela foi maior no primeiro semestre de 2025, em comparação com 2024.

Perante os desequilíbrios externos e orçamentais, a equipa do FMI recomendou que “as autoridades tomem medidas decisivas para restaurar a estabilidade macroeconómica, melhorar as perspectivas de crescimento, facilitar a criação de empregos e reduzir a pobreza.”

O representante do FMI adianta ainda que “uma consolidação fiscal antecipada é necessária para restaurar a sustentabilidade orçamental, reduzir as necessidades de financiamento e colocar a dívida numa trajectória claramente descendente, a fim de reduzir vulnerabilidades, criando, ao mesmo tempo, espaço fiscal para apoiar o desenvolvimento e proteger os mais vulneráveis.” 

A equipa do FMI reuniu-se com a ministra das Finanças, Carla Louveira, com o membro do Conselho do Banco de Moçambique, Jamal Omar, e com outros altos responsáveis, para além de outros órgãos do sector privado, onde advertiu para mais flexibilidade cambial, a fim de aliviar as pressões sobre a moeda e facilitar a redução dos desequilíbrios externos.

O Fundo Monetário Internacional assegura que “há sinais de interesse crescente por parte de investidores estrangeiros numa ampla gama de sectores. Nesse contexto, abordar os desequilíbrios macroeconómicos é essencial para libertar todo o potencial de investimento directo estrangeiro e manter a confiança dos investidores.”

O Governo de Moçambique e o FMI estão numa conversação para o alcance do novo acordo de financiamento, depois de, em Abril do presente ano, a instituição ter informado a parte moçambicana de que não iria renovar o acordo que prevalecia desde 2022.

Em Abril de 2025, o FMI anunciou que não avançaria com as revisões restantes deste acordo, por solicitação das autoridades moçambicanas.

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