O jornalista Borges Nhamire e o pesquisador Jorge Matine dizem que a resposta da polícia às manifestações é errada e pode não trazer os resultados esperados. Defendem, por isso, que o Governo assuma a responsabilidade de buscar soluções para a crise. Borges Nhamire diz ainda que o Governo está a dar uma resposta errada às manifestações, quando usa a Polícia, armada, para dissuadir as marchas.
“No caso do que nós temos em Maputo, nós não temos grupo de criminosos. Temos um grupo de cidadãos insatisfeitos com o conjunto de políticas públicas. Então não se pode responder exclusivamente com meios securitários para um problema que não é exclusivamente securitário. É preciso combinar as respostas”, disse o jornalista Borges Nhamire.
Para Nhamire é um erro colocar a polícia na linha da frente nas manifestações, quando não se trata de criminosos, mas de um grupo de pessoas insatisfeitas. “É preciso que a polícia esteja no terreno, sim. Na linha de frente, não. Se só cidadãos zangados que vão incendiar pneus na rua, talvez seja melhor colocar na linha de frente bombeiros para apagar os incêndios e não colocar militares para disparar balas, balas reais para matar pessoas”, explicou.
Além dos bombeiros, Borges Nhamire acredita que seja necessária a intervenção de médicos para prestarem pronto socorro. “Se há uma manifestação que vão mobilizar mil, duas mil pessoas, é melhor colocar lá equipa de saúde móveis, como ambulância, para, na eventualidade alguém cair, ter tensão, ser pisoteada, ser socorrida imediatamente, em vez de colocar lá a polícia para balear as pessoas ou para disparar granos de gás lacrimogêneos”.
O pesquisador Jorge Matine acrescenta que o problema é mais grave, porque as manifestações são reprimidas por uma polícia despreparada. Para Matine é de direito posicionar-se para pôr fim às manifestações, mas a polícia não é a entidade própria para o fazer.
“Isto é um problema político, não é? O governo é que organizou as eleições. É responsabilidade do governo do dia criar condições para, segund constituição e a lei moçambicana, organizar as eleições. Então, se essas eleições, desde a fase de recenseamento até a fase da eleitoral, são problemáticas, é o Governo que deve colocar todos os meios possíveis para garantir que sejam feitas dentro da lei, com a segurança e com a credibilidade necessária. Esta é a primeira responsabilidade”, explicou.
Jorge Matine atribui ainda responsabilidade aos partidos políticos. “ Então, é também responsabilidade dos partidos políticos e dos órgãos eleitorais , dentro da lei, criar condições para que essas eleições ou este processo político seja feito dentro da lei e seja o mais transparente e o menos violento possível. Então, há aqui, eu penso, ainda um espaço para que o Conselho de Ministros, neste caso o Governo, os partidos políticos que estiveram envolvidos na contenda eleitoral e os órgãos eleitorais encontrem plataformas de diálogo sobre porque é que estamos a ter essa violência”, acrescentou.