O País – A verdade como notícia

Alô, senhor Presidente!

Espero que a minha saudação chegue à sua excelência como dose de brasa, para quebrar o gelo e o nervosismo que, com certeza, flui neste momento. Tens razão, presidente, o ambiente é de muita tensão após 45 dias da campanha eleitoral. As mentes não dormem e os corações não param de bater a ritmos anormais, afinal de contas, o país e o mundo estão ansiosos para saber se o senhor irá subir ao governo ou se será um dos seus oponentes.

Alô… Alô, senhor Presidente…

Ouço-lhe com alguns cortes, deixa procurar um sítio com melhor qualidade de rede, tenho muito que lhe falar antes que chegue à Ponta Vermelha. Diriam os jovens da minha idade, “são maningue cenas, presidente”. Então peço um pouco da sua atenção, excelência, creio que o “dejinha” que recareguei é suficiente para o que tenho a dizer.

Presidente…. Ouvi e li atentamente o seu manifesto como se de uma bíblia se tratasse e confesso que não há tanta diferença com o que os seus concorrentes directos foram dizendo no périplo pelo o país. As vossas promessas espelham o sonho de mudanças que os nacionais demandam desde que se conhece como independente, mas algo me inquieta, presidente.

A pobreza é moda em vários países africanos e não só, e a estratégia adotada para a sua irradiação passa por promover melhores políticas de estímulo à economia. Neste pacote, o senhor promete criar postos de emprego, dentre outras coisas. Ouvi as suas promessas por onde passou, e ficou claro que o seu plano para a melhoria da vida dos moçambicanos passa por melhorar a qualidade na educação, saúde, saneamento, ordem e tranquilidade, etc., mas nada ficou claro sobre a devolução da paz em Cabo Delgado.

Presidente, consegue me ouvir?

Sei muito sobre o senhor, mas juro não conhecer o seu partido. Talvez, seja este o momento ideal para pedir desculpas por esta minha repulsa. Mas, garanto ter ouvido atentamente as suas mensagens durante o período da campanha, talvez de forma similar que fiz com os seus opositores, afinal de contas havia necessidade de medir a qualidade nos planos de governação que espalharam pelos distritos do país.

Sobre poucas ideias que propõem, como plano para o combate ao terrorismo, em Cabo Delgado, muitas delas me soam como uma música vazia ou talvez um poema sem rimas. Dizer “caso seja eleito presidente, no dia 9 de Outubro, vou acabar com o terrorismo”, sem explicar de que forma e em quanto tempo pretende efectivar esse objetivo, é mesma coisa dizer que a criança que acaba de nascer vai crescer, sendo um facto lógico.

Alô, senhor Presidente…

Vejo que o senhor é paciente demais e obrigado por me ouvir. Espero que assim seja com o seu povo, que há anos vive desgovernado e com sinais de abandono feito filhos com pai ausente. Continua assim, quando chegar ao poder. Excelências, tem mais um minuto? creio que o meu “dejinha” ainda permite dizer mais alguma coisinha sobre o que o povo espera de si.

Excelência, vê lá o que faz assim que chegar à Ponta Vermelha. Seja executivo e que a indiferença com o sofrimento dos seus governados lhe seja incómodo. Proactividade na busca de soluções dos problemas da nação lhe faria diferente e revolucionário, excelência.

Falo de peito tremido. O povo carece de um líder. Não se viu mais nenhum desde o acidente fatídico, há um sentimento de revolta pelo abandono das políticas públicas, ninguém se responsabiliza pela má gestão das instituições públicas. O seu povo está com medo de perder a única coisa que lhe resta, a soberania, excelência.

Alô, Presidente, sei que o senhor precisa ir. Quarta-feira é dia de votação. Mas escuta aqui, excelência, tenta implementar, no mínimo, uma parcela das suas promessas, e verá com seus próprios olhos que este país lhe será um patrão e o senhor empregado de luxo.

 

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