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Alegado cárcere privado: O drama de 50 motoristas moçambicanos na Zâmbia

Foto: O País

É um caso que vai fazer correr muita tinta! Um grupo de 50 motoristas moçambicanos, ligados à “Lake Trans”, estão há cerca de três meses a viver um verdadeiro drama na Zâmbia. Os respectivos passaportes e livretes das viaturas com as quais desenvolvem as suas actividades foram confiscados pelo patronato por motivos dúbios!

Desespero. Grito de alerta às autoridades moçambicanas e não só, até pelas condições deploráveis a que estão sujeitos. Este é o cenário em que se encontram 50 motoristas moçambicanos que fazem o transporte de carga diversa do Porto da Beira para o Interland, que estão retidos na Zâmbia e, alegadamente, a viverem em situação de cárcere privado. A denúncia foi feita há dias por alguns colegas que, depois de deixarem a cidade da Beira no passado dia 16 de Junho e seguirem viagem com respectiva mercadoria para o Congo, não chegaram a regressar ao país num espaço de sete dias, conforme estava previsto!

“No Congo, tínhamos carga. Tínhamos carga para poder descarregar e regressar, mas a empresa disse não. Venham carregar na Zâmbia. A empresa começou a contar histórias. Não se vai trocar matrícula, tem que sair da Zâmbia carregado directo para Moçambique”, denunciou os dos camionistas.

Os motoristas estão desesperados pelo facto de os seus passaportes terem sido confiscados, em princípios de Julho passado, pelo representante da empresa naquele país, uma situação inaceitável.

Tal atitude faz com que tenham limitações e condicionalismos para se movimentarem fora do parque, sendo que, nesta altura, a solução passa por usar os camiões como pontos de abrigo.

Os motoristas moçambicanos receberam, durante o tempo em que estão retidos na Zâmbia, 50 dólares para poderem alimentar-se.

“Quando chegámos, levaram os passaportes e livretes das viaturas. (…) A empresa tem novos contratos com clientes. Eles disseram para fazermos uma lista com as matrículas e enviarmo-la para eles, mas este assunto dos camiões já foi falado”, disse um motorista que preferiu falar em anonimato.

Os denunciantes entendem que o plano do patronato é deixá-los numa situação de desespero para, voluntariamente, regressarem a Moçambique, sem poderem reivindicar os seus direitos.

Aliás, três dos motoristas que não aceitaram entregar os passaportes foram forçados a abandonar o parque, no sábado, e a rumar para a cidade da Beira.

De resto, numa clara pressão do patronato, os motoristas, tal como o fez Lucas Remo, são obrigados a escrever uma declaração para não abandonarem o parque e regressarem à Beira para tratar de questões particulares e proceder à entrega do camião e os respectivos documentos ao patronato.

E, na tarde de sábado, os gestores da empresa na Zâmbia, acompanhados pela polícia local, dirigiram-se ao Parque para, segundo os motoristas, sensibilizá-los a regressarem à cidade da Beira.

Não havendo consenso, segundo apurou o “O País”, as partes decidiram acordar a retoma do diálogo esta segunda-feira.

Os motoristas dizem, ainda, que já denunciaram este caso às autoridades moçambicanas e que a situação que vivem já foi reportada à Embaixada de Moçambique na Zâmbia.

Dos mais de 100 camiões pertencentes a Lake Trans, segundo os motoristas, apenas seis permanecem em Moçambique, sendo que devem partir para Zâmbia, onde deverá ocorrer a alegada troca de matrículas.

Os motoristas denunciam, por outro lado, a tentativa de retirar os camiões para a Zâmbia de forma ilegal.

“Partiram daqui na segunda-feira às 20h00. Consoante a informação das autoridades, tinham que buscar informações do lado do Inchope para poderem recuar. Não está 100% legal a mudança da empresa. Praticamente, estavam a tirar a empresa clandestinamente sem nenhuma informação. É preocupante, sim, porque praticamente estão a deixar famílias desempregadas”, lamentou a fonte.

Outra das queixas tem que ver com a falta de diálogo com o patronato. “Nós estamos a fazer uma pergunta. Eles não dizem que estão a retirar-se. Alegam apenas que a empresa maior será na Zâmbia e, aqui em Moçambique, teremos apenas uma firma de manutenção. Praticamente, não há satisfação. Estamos sentados sem fazer nada”, desabafou.

O “O País” sabe que pelo menos três motoristas, que se recusaram a entregar os seus passaportes, saíram da Zâmbia na manhã deste sábado, por meios próprios, rumo à cidade da Beira.

Durante a semana passada, a nossa equipa de reportagem contactou telefonicamente os gestores da empresa, de nacionalidades tanzaniana e Indiana, para ouvir as suas versões dos factos, mas recusaram-se a prestar declarações.

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