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Aldeia de Mmala, em Cabo Delgado, deserta devido a ataques terroristas

Foto: Lusa

É mais um capítulo dos ataques terroristas na província de Cabo Delgado. Uma província que vai ficando cada vez mais deserta devido a ataques e mortes que provocam medo e fuga das populações para províncias vizinhas consideradas seguras.

É o caso da aldeia de Mmala que tinha mais de 11 mil pessoas, mas que dois ataques dos terroristas levaram a população a fugir nos últimos dias com crianças ao colo, carregando à cabeça o pouco que escapou à destruição.

De acordo com o chefe da aldeia de Mmala, Lourenço Ancuara, citado pela Lusa, houve mortes protagonizadas pelos terroristas nos últimos dias. “Primeiro passaram e mataram duas pessoas, passaram em redor da aldeia, passou um dia, no dia seguinte passaram de novo e mataram seis pessoas e queimaram um cubículo do hospital e da escolinha”, disse Lourenço Ancuara.

Face a isto, a solução tem sido fugir à pressa, nomeadamente para a vila de Chiùre, hoje o último reduto de alguma segurança nas proximidades. Ainda assim, uma viagem de três dias a pé, por campos agrícolas e estradas, num movimento de milhares de pessoas em simultâneo.

Lourenço Ancuara, chefe da aldeia de Mmala, que também se refugiou em Chiúre, conta que a aldeia ficou deserta: “Não ficou ninguém, todos nós abandonámos lá (…) Tenho lá 11.014 habitantes. E não está ninguém lá, abandonaram. Ninguém trouxe nada, saímos só assim mesmo”.

Chegam a pé, de bicicleta, algumas crianças de poucos anos ainda a dormir, depois de noites de medo. Os ataques ao longo da última semana deixaram a aldeia, onde todos, nas várias comunidades, se dedicam às machambas da agricultura, vazia.

Uma situação ainda fora do controlo das autoridades locais que não conseguem ajudar as populações refugiadas. “Ainda não temos apoio, não sei se vão nos dar”, contou Lourenço citado pela Lusa.

Outro refugiado é Sousa Américo, que vivia em Mujipala, comunidade da aldeia de Mmala. Chegou a Chiúre com os seus cinco filhos depois de uma caminhada de três dias  e conta como tiveram que fugir da aldeia.

“Lá não mataram ninguém, só que queimaram as 47 casas. Está tudo vazio. Chegámos aqui sem nada, estamos a sofrer de fome e a pedir apoio”, contou Américo, que agora está num dos três campos de reassentamento provisórios em escolas que, segundo dados da autarquia, já recebem actualmente 13.000 deslocados na vila, além dos que procuram abrigo em casas de amigos e familiares.

“A população de lá está aqui sem nada. Estamos quase no alto mar”, lamenta ainda Sousa Américo.

Mas há mais: Mustafa Emílio, de 45 anos, também refugiou-se em Chiùre, numa casa de familiares. Lamenta não ter levado nada da aledeia de Mmala. “Não conseguimos trazer nada. Saímos sem nada”, desabafa.

Pelo menos, diz-se tranquilo por ter conseguido trazer, numa caminhada de mais de três dias de muitos medos, a mulher, os filhos e as irmãs.

Mmala situa-se no posto administrativo de Chiùre-Velho, o mais afectado pelos ataques terroristas na província de Cabo Delgado nos últimos dias, e dista 50 quilómetros de Pemba, capital provincial, percurso que leva mais de três horas a percorrer de carro, numa estrada em permanente ameaça de novos ataques.

O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou nas últimas semanas vários ataques e vítimas mortais, sobretudo no sul da província de Cabo Delgado.

A província enfrenta há seis anos alguns ataques reivindicados pelo EI, o que levou a uma resposta militar desde Julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos do gás.

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