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Aik “manda passear” basquetebol, modalidade que tanto projectou

Carlos Ibrahimo Aik abandonou o basquetebol após ter sido suspenso pelo Conselho de Disciplina da Liga Moçambicana de Basquetebol por um período de nove meses, alegadamente por se ter concluído que “não ficou provado o conteúdo das declarações do treinador do Clube Ferroviário de Maputo” no processo em que acusava árbitros de corrupção. Parece mentira, mas é verdade!

Colocou o dedo na ferida, num assunto polémico quanto sensível, que é abordado em voz “baixa”. Denunciou, em Abril último, um suposto esquema de corrupção no basquetebol moçambicano. Disse, a plenos pulmões, após o duelo em que o Ferroviário de Maputo perdeu com o seu homónimo da Beira (56-43), que havia corrupção no basquetebol moçambicano, particularmente, na arbitragem. “Existem dois grupos de árbitros: o primeiro aspecto é que aqueles que são corruptos e recebem por apitar, estou a falar com conhecimento de causa; o segundo é que há, aqui, aqueles que são ignorantes. Não é possível que, num jogo de basquetebol e numa final, o protagonista seja o árbitro”, disparou o titulado e experimentado “coach”.

De imediato, e a uma velocidade de cruzeiro, a Liga Moçambicacana de Basquetebol (LMB) suspendeu o reconhecido “coach” por um período de 30 dias e, causa-efeito, anunciou a criação de uma Comissão de Inquérito para “investigar” o caso.

Aik foi ouvido pela Comissão de Inquérito da Liga Moçambicana de Basquetebol que, em comunicado datado de 8 de Julho, refere que, quando instado a apresentar provas sobre as suas acusações, este não as mostrou, “tendo-se limitado a reiterar que já não as tinha”.

É, segundo a nota a que “ O País” teve acesso, a partir desta constatação e socorrendo-se da análise feita pelo Conselho de Disciplina e pelo Conselho de Direcção da LMB ao Relatório da Comissão de Inquérito, que se concluiu que  “não ficou provado o conteúdo das declarações do Treinador do Clube Ferroviário de Maputo”.

Consultado o seu Regulamento de Disciplina de 2009, actualizado dez anos depois, ou seja, em 2019, o Conselho de Disciplina da Liga Moçambicana de Basquetebol puniu por “injúrias e difamação” o treinador do Ferroviário de Maputo por nove meses, a contar de 9 de Abril.

Após a decisão da LMB, Aik, que fazia parte do Conselho Técnico da Federação Moçambicana de Basquetebol no actual elenco, disse um basta. Dito de outro modo: abandonou a modalidade da bola ao cesto que tanto serviu e alegrou os seus amantes.

“Caros amigos, como podem ver, o corrupto no basquetebol sou seu. O meu percurso no basquetebol termina aqui. Já informei à Federação Moçambicana de Basquetebol sobre a minha decisão. Um abraço a todos”, escreveu, em jeito de despedida, Carlos Ibrahimo Aik, no grupo “Turma do Basquetebol”.

Ponto final de uma longilínea carreira de “coach”, de cerca de 40 anos, tendo como pontos altos os dois títulos africanos de clubes conquistados em 1991 e 2019.

Na “catedral” do basquetebol moçambicano, Carlos Ibrahimo Aik conduziu, em 1991, a geração de ouro – Aurélia Manave, Esperança Sambo, Telma Manjate, Marta Monjane, Amélia Gune, entre outras craques que jogaram muito. Muito mesmo.

E esta conquista foi, e não é curioso devido à qualidade dos seus actores, no mesmo ano em que Cairo, Egipto, esteve aos pés de Moçambique, que açambarcou a medalha de ouro nos então Jogos Panafricanos (hoje com a designação de Jogos Africanos).

Vinte e oito anos depois (2019), Carlos Aik levou o Ferroviário de Maputo à conquista do Campeonato Africano de clubes, após vencer o Interclube de Angola, por 91-90, numa finalíssima dramática realizada no “Indoor Cairo Stadium”.

Com o barco com mastro desfeito, após a saída intempestiva de Leonel “Mabê” Manhique para o Costa do Sol, Carlos Aik “pegou” na equipa e marchou para o bicampeonato africano de clubes.

Carlos Ibrahimo Aik, primeiro treinador campeão africano de clubes, teve, também, a sua “mão” na conquista do título pelo Ferroviário de Maputo, em 2018, na capital do país. Pois é: Aik desempenhou a função de assessor técnico, tendo sido presença constante atrás do banco, dando  “dicas” ao então “coach” da equipa Leonel “Mabê” Manhique.

Curiosamente, Carlos Ibrahimo Aik foi a figura que lançou Leonel Manhique, actual treinador do Costa do Sol, para este clube, em 2011, tendo ambos conquistado a Liga Nacional de Basquetebol.

Em ano de crise, após a saída (in)esperada  do “coach” Horácio Joaquim Martins, Carlos Ibrahimo Aik, qual “bombeiro”, aceitou o desafio de treinar a equipa. Até saiu bem na fotografia.

Aik foi o homem que desenhou o projecto africano do Ferroviário de Maputo que, sob o seu comando, foi vice-campeão africano de clubes em 2006, em Libreville, Gabão. Mau grado o 1º de Agosto de Ângela Cardoso (actual treinadora-adjunto da equipa feminina), Domitila Ventura (a veloz base considerada MVP da prova), Sónia Guadalupe, Bárbara Guimarães e outras terem sido superiores na final em que venceram ao Ferroviário de Maputo, por 86-74.

No ano seguinte, Carlos Ibrahimo Aik e o “seu” Ferroviário de Maputo quedaram-se na 3ª posição, no “africano” de clubes disputado em Maputo. Uma vitória apertada sobre a então formação do ISPU (63-56) alimentou ainda mais o sonho africano.

Folha de serviço assinalável no basquetebol moçambicano, vários títulos nacionais conquistados, serviu, ainda, o país com passagens pela selecção nacional de basquetebol sénior feminino.

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