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África deve tornar-se líder e posicionar-se em questões relativas à agricultura

O painel “A modernização da agricultura em África” contou com a participação de dois oradores, nomeadamente, Ghil Harly, CEO da Impact Food em Israel, e Clement Adjorlolo, da Agência de Desenvolvimento da União Africana.

 

No derradeiro dia da MOZGROW, sendo primeiro a intervir, Ghil Harly defendeu que o continente africano deve tornar-se líder e posicionar-se em questões relativas à agricultura. O orador defendeu esta posição porque, disse, África tem terra, recursos humanos e força de trabalho. Para Harly, muitos países no continente estão a caminhar nesse sentido de desenvolvimento. Entretanto, na sua percepção, tornar o continente destino sério para o cultivo massivo dos ingredientes irá contribuir não só na redução dos custos, mas também fará com que África se torne o mercado a partir do qual todos quererão adquirir produtos, o que constitui uma grande oportunidade.

Para Clement Adjorlolo, existem muitos desafios que afectam a agricultura no continente. “Historicamente, e durante muitos anos, a agricultura ressentiu-se dos impactos das condições políticas que perturbaram a agricultura. Mas, em geral, também diríamos que a agricultura, em África, é afectada pelas condições económicas”. Segundo considerou Adjorlolo, a agricultura africana tem muitos desafios em termos de impacto ambiental e mudanças climáticas, onde nota a degradação dos recursos naturais que limitam o acesso à água, por exemplo.

Ghil Harly entende que a contribuição do continente africano pode ser de ajudar a cultivar os ingredientes, na verdade, a sua contribuição deve ser em duas vertentes: uma é na produção massiva dos ingredientes para os grandes mercados, e isto vai reduzir os custos e deve ser feito de forma eficiente: “vocês têm capacidade e know-how. Na segunda vertente, África pode tornar-se o destino destes produtos para alimentar a sua população; não só para aquela população com capacidade de obter nutrição decente, mas também para todas as esferas da sociedade que queiram abraçar as novas formas alimentares”.

No debate, Clement Adjorlolo reforçou que “temos de olhar a agricultura não como um sector que depende de outros sectores para se transformar. O investimento dos países no sector agrícola não tem sido ao nível esperado, e estes são alguns dos aspectos que transpareceram no relatório bienal, no qual temos mais de 49 indicadores a serem usados para avaliar o desempenho dos países. Nem todos os países estão ao mesmo nível, o seu desempenho varia. Em geral, diríamos que o continente não está no caminho certo, o cenário tem de mudar e poderemos discutir algumas das considerações que devem ser tomadas para devolver o continente ao caminho certo no sentido de alcançar a Declaração de Malabo”.

Na óptica de Clement Adjorlolo, a modernização da Agricultura em África não é uma opção negociável, não é uma opção; “a África precisa modernizar e de adoptar a inovação, uma inovação que vai para além da tecnologia, tem que ser uma inovação que olha para o cenário institucional, o cenário político, para a estrutura dos sistema sociais indígenas capazes de promover a agricultura. Quando falamos da agricultura em África, falamos da produção em pequena escala que constitui quase 80 % da agricultura praticada, e a pergunta é como tornarmos esta agricultura mais produtiva e não nos centrarmos apenas na expansão das áreas de cultivo, pelo que o factor da produtividade total deve ser um dos enfoques na transformação da nossa agricultura através das tecnologias modernas”.

Neste percurso rumo ao desenvolvimento, Ghil Harly disse o uso de tecnologias de irrigação, o uso da informática hoje em dia, pode ajudar os agricultores a produzirem mais, com menos pessoas e a tornarem-se mais eficientes e mais competitivos, acho que é isso. Mesmo tendo que dizer que também, como tudo no mundo actual, há uma tendência crescente de se retomar à agricultura familiar, agricultura orgânica e o uso cada vez menos… isso é uma opção de querer fazer as coisas de uma forma mais natural, isso depende, caso a pessoa não queira engrenar tanto na modernidade, mas acho que a tecnologia não veio para apagar e eliminar a agricultura familiar, a tecnologia existe para ajudar a agricultura familiar a se ligar cada vez mais à demanda, localmente e externamente. A ideia não é de abolir a agricultura familiar, mas sim levá-la ao outro nível, para que possa competir”.

Concordando com Ghil Harly, Clement Adjorlolo defendeu que os agricultores familiares africanos precisam de ter uma agricultura moderna, precisam de muitos apoio, “nós temos que ajudar os agricultores familiares africanos a estarem ligados à cadeia de fornecimento de produtos agrícolas, também precisamos da comunidade internacional para ajudar no aumento da produção e também ajudar a assegurar que a agricultura de África, no seu todo, tenha um papel significativo a desempenhar, primeiro, em alimentar os próprios africanos e precisamos de salvaguardar a agricultura africana, primeiramente das contradições políticas.

Adjorlolo disse ainda que a agricultura africana, na situação em que se encontra, não poderá abertamente competir com agricultura europeia, que possui 400 anos de desenvolvimento, que está bem estabelecida. “Por exemplo, a cebola pode crescer bem em África, temos condições para tal, mas deparamos com situações em que a cebola é importada do Atlântico para os mercados africanos e é barata; esses são os passos práticos que devemos tomar, dizendo que se quisermos com que um pequeno agricultor familiar tenha meio de subsistência e viva honestamente, ele não pode competir com a produção massiva que chega através dos portos, essas são algumas das coisas que precisamos de salvaguardar”.

A União Africana colocou vários quadros e instrumentos com vista a ajudar na transformação da agricultura em África, dando exemplo, existem iniciativas tais como Grow Africa, que traz a parceria pública privada para o financiamento de iniciativas de agricultura. Existe também a plataforma de parceria de agricultura ao nível dos países, que faz parte do processo actual, que consiste em trazer actores do governo e do sector privado. “A nossa abordagem sobre a modernização da agricultura não focaliza apenas na tecnologia, para que possamos ser inovadores, temos que olhar para além da tecnologia e tomarmos em consideração outros processos que fazem com que seja possível o ambiente adequado para a agricultura, esses são alguns dos aspectos que queria destacar”, disse Adjorlolo.

Harly e Adjorlolo consideram que deve haver políticas governamentais no contexto de África. “Será difícil para que vocês possam concorrer, será difícil de criar lobby, precisam de criar influências políticas para fazer com que o vosso governo vos dê incentivos, não me refiro à retirada de impostos, ou impostos de importação dos insumos agrícolas, mas definitivamente pode se dar incentivos às pessoas que compram localmente, nos agricultores locais, portanto, o primeiro aspecto são as políticas, o segundo os incentivos, o terceiro são as associações ou órgãos de aquisições, que dizem aos agricultores familiares, faça melhor o que fazes e nós tomaremos conta da cadeia de fornecimento de produtos, da fixação de preços, do debate, das negociações, da colecta do dinheiro e de tudo isso, a não ser que sigam a educação”.

 

 

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