O antigo presidente da República, Joaquim Chissano, diz que é importante Moçambique estar ligado à francofonia porque é ponte entre os países africanos da região austral falantes do francês e do inglês. Chissano, que falava numa mesa redonda alusiva ao mês da francofonia, diz que a decisão do país de ser membro pleno da organização dos países francófonos é da responsabilidade do governo.
Dinâmica da Francofonia em Moçambique: política, economia e cultura, foi o tema de uma mesa redonda organizada pelo Centro Cultural Franco-Moçambicano, no âmbito das celebrações do mês da francofonia. Joaquim Chissano, antigo presidente da República, foi um dos painelistas que abordou a cooperação entre Moçambique e os países francófonos da região, do continente e do mundo.
“Neste diálogo, vemos que a francofonia passou de ser apenas o grupo daqueles que falam francês para ser o grupo daqueles que, em francês, cooperam para o desenvolvimento harmonioso do mundo. Como é baseado nos objectivos para os próximos 30 e tal anos, incluindo as condições do clima e depois a cooperação para a educação em todos os países, para os progressos da tecnologia actual, deixou de ser, portanto, a questão de orgulho de muita gente falar francês. Mas é trazer algo que traga benefício a todas as nações”, começou por dizer Joaquim Chissano.
Neste trazer benefícios a todas nações, Moçambique, que é membro observador da Organização Internacional da Francofonia, aparece como a ponte entre os países francófonos e anglófonos da região, por isso elegível para ser membro de pleno direito.
“Este grande papel de ser a charneira entre os países francófonos que estão no Oceano Índico, que são separados dos outros francófonos africanos, que estão lá longe, no Ocidente, e aqui no meio temos os anglófonos de Tanzânia, África do Sul, Zimbabwe, Malawi, Quênia e Namíbia, Moçambique tem estado a fazer muito bem”, garante Joaquim Chissano, destacando as dificuldades em chegar a esses países.
Aliás, Chissano lembrou que já houve acordos na área de transporte aéreo, onde “tínhamos também umas ligações aéreas aqui com UTA e com Airfrance e era muito útil”. Por isso, Joaquim Chissano recomenda que “é preciso pensar como revitalizar essas comunicações, porque para visitar países francófonos, às vezes, temos de dar muitas voltas”.
Apesar da cooperação que Moçambique tem com os países francófonos, quer da região e do continente, bem como de outros continentes, nas várias áreas, a decisão de ser membro integral só depende do governo, segundo defende Joaquim Chissano.
Socorrendo-se do pronunciamento do embaixador do Congo durante a Mesa Redonda, que citava o Presidente da República, Daniel Chapo, como estando interessado em fazer parte da Organização Internacional da Francofonia, Joaquim Chissano diz que prefere deixar que seja o governo a dar avanços nessa pretensão.
“Porque no caso da Commonwealth, Moçambique não pediu para ser membro da Commonwealth, foi convidado por causa da actividade que estávamos a desenvolver, que era do interesse de todos os membros da Commonwealth”, esclareceu Chissano dando como exemplo o apoio que o país dava à luta de libertação do Zimbabwe e a luta contra o apartheid.
“Isto foi apreciado por muitos países da Commonwealth e fomos convidados a ser membros da Commonwealth. Assim também a francofonia pode ver a utilidade de Moçambique”, esclareceu.
O antigo estadista revelou ainda que já houve sugestão para integrar Moçambique na organização francófona, até porque serve de ponte entre os países francófonos do Oceano Índico e os países anglófonos, que são vizinhos. “E nós falamos mais ou menos as duas línguas, inglês e francês, através do português. De maneira que já começamos a desempenhar o nosso papel. Se eles acharem que devemos ser membros da parte inteira, estamos maduros para isso, certamente que vão convidar. Mas eu deixo isso para o governo tratar do assunto”, concluiu Joaquim Chissano.
Os outros painelistas da Mesa Redonda, nomeadamente Constant-Serge Bounda, embaixador do Congo e presidente dos Embaixadores dos países francófonos radicados em Moçambique, Beatriz Ferreira, directora do Instituto do Coração, e Crystelle Coury, da Embaixada da França, abordaram a cooperação entre Moçambique e os países francófonos em várias áreas, com destaque para educação, saúde, transportes, investimentos económicos e cultura.
Participaram da mesa redonda embaixadores de vários países francófonos radicados em Moçambique, académicos e estudantes.