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Acordo das “dívidas ocultas” vai melhorar indicadores, diz Rogério Zandamela

O governador do Banco de Moçambique, Rogério Lucas Zandamela, afirmou, esta quarta-feira, que o acordo extrajudicial em torno das “dívidas ocultas” vai “melhorar indicadores macroeconómicos” e tirar pressão à gestão das reservas internacionais.

“A anulação das dívidas contribui para melhorar a sustentabilidade dos indicadores macroeconómicos, com realce para o perfil da dívida comercial que, consequentemente, exercerá uma menor pressão sobre as Reservas Internacionais”, reconheceu Zandamela, na abertura do 48.º conselho consultivo do banco central, esta quinta-feira, na cidade de Inhambane.

“Além de abrir espaço para a restauração da confiança dos investidores estrangeiros em relação ao país e o reforço da estabilidade do sector bancário nacional”, apontou ainda Zandamela, citado pela agência Lusa.

A Lusa noticiou anteriormente que Moçambique pagou 130 milhões de dólares a instituições financeiras no âmbito do acordo extrajudicial com o Credit Suisse para terminar uma disputa judicial no Tribunal Comercial de Londres sobre o caso das “dívidas ocultas”.
De acordo com documentos apresentados a 20 de Outubro em tribunal, Moçambique pagou valores entre um milhão de dólares e 38,2 milhões de dólares a oito instituições.

Estas instituições incluem o Banco Internacional de Moçambique (BIM), Banco Comercial e de Investimentos (BCI), Moza Banco, United Bank for Africa, Atlantic Forfaitierungs e os fundos de investimento VR Global Partners, Farallon Capital e ICE Canyon.

Tornado público no dia 01 de Outubro, véspera do início do julgamento a decorrer na justiça britânica, o acordo tem como principais subscritores o Governo moçambicano e o grupo UBS, dono do banco Credit Suisse, principal financiador da empresa estatal Proindicus para comprar navios e equipamento de vigilância marítima em 2013.

O chamado Acordo de Transação celebrado entre a República de Moçambique, a empresa estatal Proindicus, o Credit Suisse e outros litigantes foi aprovado por resolução do Conselho de Ministros em 06 de Junho, mas só oficializado no Suplemento do Boletim da República datado de 14 de Setembro.

“O Acordo de Transação tem como objecto a resolução global e definitiva do litígio entre as partes referidas no artigo anterior e a renúncia total e recíproca das suas reivindicações, no litígio, para o caso das partes litigantes, e fora dele, para o caso das partes não litigantes, quanto às responsabilidades no financiamento à Proindicus”, refere a publicação.

Na terça-feira, o advogado que representa a Procuradoria-Geral da República (PGR) moçambicana, Joe Smouha, indicou que o Credit Suisse renunciou a uma dívida pendente de cerca de 450 milhões de dólares (526 milhões de euros), mas que não pagaria qualquer compensação a Moçambique.

Os pagamentos previstos pelo acordo extrajudicial às restantes instituições financeiras que entraram no empréstimo sindicado da Prodindicus ou tinham interesses no negócio variaram em termos de proporção conforme o estatuto de litigantes ou não.
Por exemplo, o BIM participou com 61,2 milhões de dólares, mas recebeu 38 188 800 de dólares, enquanto o UBA contribuiu com 35 milhões de dólares, mas recebeu 21,84 milhões de dólares.

Ambos eram parte em acções interpostas contra Moçambique por falta de pagamento das dívidas e receberam com um desconto de 37,6% ao investimento inicial.

De fora do acordo extrajudicial ficaram o banco VTB, que esteve envolvido no financiamento à Proindicus, e o banco português BCP, que só participou no empréstimo à empresa MAM.

O julgamento em curso é o culminar de quase quatro anos de litígio na justiça britânica, à qual o país africano recorreu alegando corrupção, conspiração para lesar por meios ilícitos e assistência desonesta para anular dívidas e reclamar compensação financeira no valor de milhões de dólares.

Moçambique exige 3,1 mil milhões de dólares por danos, compensação e indemnização ao grupo naval Privinvest e ao proprietário, Iskandar Safa, os quais acusa de pagar subornos a funcionários públicos, incluindo o antigo ministro das Finanças Manuel Chang, que assinou as garantias soberanas sobre os empréstimos.

O processo no Tribunal Comercial de Londres, parte do Tribunal Superior [High Court], está previsto durar até Dezembro.

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