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A vida da poesia; um espectáculo para aplaudir em pé

Por: David Almeida F. Houana

 

 

Montagem: Cartas de amor para meninas mal comportadas II

Montagem teatral: Centro Cultural Franco-Moçambicano

 

Na cultura bantu Moçambicana, as mulheres recém-viúvas carregam um luto que desagua nos trajes pretos cheios de simbolismos e drama em uma porção de ritual. Neste processo, elas são submetidas ao ritual de purificação (kutxinga) através do falo purificador, às vezes do cunhado, a fim de anular toda a sua pretitude “ar de morte que orbita o corpo e a alma”. E quando a viúva perderá uma esposa que habitavam juntas as ilhas de Lesbos, que procedimentos seguir?

Para responder a essa pergunta fomos convidados por Eliana N’Zualo, no dia 06 de Abril de 2022, pelas 20h, a ter a  resposta em  Cartas de amor para meninas mal comportadas II. Houve que controlar a ansiedade porque só teríamos a resposta às 20h10, ao comando de Yuck Miranda.

O episódio aconteceu depois que a poesia decidiu se personificar para narrar a própria história em palavras que convertiam a lírica em acção. Ela revelava as memórias que  vivera no pico do século XX, porém, só agora ela decidiu quebrar o silêncio e falar da sua esposa que virou morte, a destruidora de mundos, “o mundo da poesia”.

O livro narrado revelava uma melodia boa de se ouvir*, uma mulher a dançar com a leveza duma bailarina,  mas com a força dos rugidos dum leão, dramaturgia que servia as leis da estética da arte, tais preceitos perdiam espaços nos trajes de capulanas pouco expressionistas.

A casa da poesia era um espaço de encontro vazio, porém, cheio de Alma. Naquele lugar n artes poéticas  se cruzavam numa espécie de performance erótica híbrida, que trazia elementos do teatro, percussão sonora, poesia e dança. Não obstante, a obra de arte era um espaço intercultural entre as técnicas tradicionais de Moçambique  e  Suazilândia.

O cenário do livro da poesia era “ópera”, fusão de muitas coisas, o local de encontro entre teatro imagem elucidado pelo pensamento contemporâneo performativo simbólico de Bob Wilson. Aristóteles e seu discípulo  Stanislavisk se revirariam no túmulo pelo golpe do surrealismo simbólico da vida da poesia.

Os adereços eram feitos de elementos  musicais e outros recicláveis, como garrafas e bacias metálicas que emitiam ondas sonoras e  recebiam outros significados. Na metade, o livro  denunciou uma simbiose linear perigosa que nos fazia navegar em marés indesejadas, o que nos colocava na órbita certa de navegação. Eram as músicas de mudanças das cenas.

A casa da poesia era iluminada  por paleta de cores psicadélicas de luz primária, verde, vermelho, azul, lilás e luz quente que criavam atmosfera em tempos certos e outros de devaneios.

“Permita-me sentir o gosto do seu sangue vaginal só mais uma última vez”

Disse a poesia, ao revelar perto do fim  da leitura  do livro que se chama sua história, que estaríamos diante do funeral da sua amada Mal Comportada, tal como ela e várias outras meninas da sociedade, que, na verdade,  só querem viver as suas espiritualidades patrocinadas por aquilo que é da alma e que ninguém poderia intervir  e nem criticar (ponto de viragem).

A poesia sacrificou o amor da sua vida para que os poetas possam nos fazer voar e sonhar pássaros. Após 40 min de espectáculo, descobrimos que é preciso ir para ter o prazer de voltar, agora voltamos do acto catártico após viver vários orgasmos cénicos vividos em massa dignos de Aplaudir em Pé. A sala continua a sala e o livro continua aberto para que outras meninas mal comportadas possam ir se purificar.

09.04.2022

 

Ficha Técnica

Direcção-artística

Yuck Miranda

Texto e performance

Eliana D’Zualo

Voz

Thobile Makhoiane

Percussão

Carol Matosse

Baixo

Márcia Pascoal

Fotografia e visualidade

Mariano Silva

 

 

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