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“A sobrevivência dos actores depende da consciencialização do cidadão”

Que o teatro moçambicano clama por várias condições, fundamentais para se desenvolver, toda a gente sabe. Igualmente, toda a gente sabe que urge alterar esse quadro, de modo que a arte possa fortalecer-se como merece e como se pretende. A grande questão é: o que se deve fazer para que os actores, encenadores, dramaturgos e o público em geral orgulhem-se não apenas do teatro, mas também das condições de trabalho?

Aquela foi a pergunta que a actriz Sheila Nhachengo, da Associação Cultural Girassol, organizadora do Festival Internacional Teatro de Inverno (FITI), tentou responder no último sábado. Falando ao programa Artes e Letras, da Stv Notícias, Nhachengo, antes de se alongar no discurso, respirou fundo, reconhecendo que a luta pela sobrevivência do teatro no país é de anos, e, durante essa trajectória, não tem sido fácil alavancar o teatro como é suposto fazer porque promover a mudança nas pessoas é algo complicado.

A actriz alvitra que a robustez da arte teatral depende, mais do que nunca, da educação e sensibilização à mistura, pois só assim os actores poderão ter um público consciencializado. “Sem público educado, não há hipótese de construirmos uma sociedade suficientemente capaz de valorizar a arte ou de pagar um ingresso para ver uma peça teatral. Normalmente, deveríamos ter preparado as crianças de ontem para que hoje fossem elas a ensinar as mais novas o quão importante as artes são para o desenvolvimento do ser humano”, explicou Sheila Nhachengo, sugerindo que o país perdeu muito tempo nesse processo. Por isso, para actriz, a sensibilização atinente à importância do teatro deve ser canalizada aos pais e encarregados de educação. “Porque, se os pais não desligarem a televisão e convidarem os filhos a irem ver teatro, cinema ou dança, não temos como construir uma juventude com uma disciplina alicerçada nas artes”.

Com efeito, a responsabilidade de formar uma sociedade que saiba valorizar e acarinhar os artistas não é exclusiva da família. Na percepção da actriz do Girassol, os artistas também têm uma missão. “Passa por nós, por exemplo, convidar os nossos filhos, sobrinhos, irmãos, amigos, etc., a ir ver teatro, nem que seja por imposição, no princípio, porque depois, quem vai convida a um amigo, e esse amigo chama por outro. Quando dermos por nós, teremos cada vez mais salas cheias e os actores poderão viver exclusivamente e condignamente de teatro como sua profissão”.

Mesmo a pensar na responsabilidade que os artistas devem desempenhar para a mudança de comportamento, a Associação Cultural Girassol tem distribuído ingressos gratuitos nas escolas secundárias ao longo das edições do FITI. A esperança é que os alunos ganhem interesse por ver teatro até chegar uma altura em que não se sintam a perder por pagar por arte.

“Não compreendemos por quê o ministério da cultura não nos acarinha”

Além de todos os boicotes que se impõem no percurso dos actores, há um que magoa e muito. Sheila Nachengo exprime-se, tendo o Teatro de Inverno como exemplo: “Estamos cansados de nos queixarmos, mas não compreendemos por quê o Ministério da Cultura não nos acarinha. No princípio do FITI, até apoiavam, mas, a certa altura, o apoio foi cortado. E não queremos muito, uma carta de recomendação do Ministério da Cultura já seria alguma coisa. Por falta desse apoio, grupos teatrais perdem oportunidade de participar em festivais no estrangeiro. As nossas autoridades deveriam rever esta situação porque o teatro também contribui para a construção do nosso país”.

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