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A saga, 40 anos depois

Não sou muito dado a efemérides, especialmente de âmbito privado, mas por um motivo que espero seja justificável, decidi, desta vez, abrir uma excepção.

No dia 11 de Abril de 1983, faz hoje exactamente 40 anos, iniciava esta saga olímpica, que foi, e continua a ser, a de ajudar a iluminar mentes e abrir caminhos a milhares de pessoas, a maior parte delas jovens, dentro e fora de Moçambique. Ser professor é ser, acima de tudo, um educador. Facto que, em si próprio, encerra um significado e um alcance incomensuráveis.

Não tenho dúvidas de que muitas das perversões e dos equívocos que vamos presenciando um pouco por todo o lado, a diferentes níveis, e sobretudo entre aqueles que deveriam dar o exemplo, derivam do desconhecimento dessa verdade tão simples e tão dificilmente contornável. Não foi uma profissão que escolhi, para aí fui empurrado, sem apelo nem agravo. Afinal, tal como aconteceu a muitos outros que, entretanto, foram, e muito legitimamente, partindo para outras opções profissionais, em certa medida, muito mais aliciantes. Eu decidi ficar. Talvez por tibieza. Talvez por me ter acomodado. Talvez por ter percebido que ser professor não é uma profissão, mas um sacerdócio. Isto é, algo que funciona como um chamamento e que de forma transcendente vem de dentro. E porque convictamente, mas também romanticamente, e porque sempre me assumi como um homem de causas, decidi ficar. Isto, apesar dos inúmeros apelos e acenos para trilhar por outros caminhos, muito mais promissores em termos de dividendos materiais. Sobretudo, quando vou assistindo, com amargura, como alegre e impunemente se esvazia e se destrói um ofício, valioso património das nações que se prezam, e que é o principal  responsável pela edificação da humanidade e das civilizações ao longo dos tempos. Mas cá continuo. Como muitos outros, afinal.

Pois, há o outro lado da moeda, mais auspicioso, mais luminoso e mais gratificante que é o de testemunhar que há um legado imaterial que muitos da minha geração ajudaram a construir e a espalhar como sementes jogadas nas veredas da vida. E que, por pouco que ele seja, resiste bravamente às intempéries e aos tentáculos da ignorância, da inépcia, da imoralidade, do situacionismo, do exibicionismo rasca e da barbárie, que vão por aí imperando, instituindo-se para nosso infortúnio colectivo, como modelo de vida para muitos espíritos incautos e desavisados. Até um dia.

Há uma outra virtude neste ofício, quando te está entranhado no tutano da alma: que é fazer de ti um fabricante de utopias. Mesmo daquelas que irremediavelmente não vão acontecer tão rapidamente, tão plenamente. Mas que acontecem e se materializam nos múltiplos e valorosos exemplos, naquelas e naqueles que germinaram das sementes disseminadas, e que, de forma digna, competente e conscienciosa vão fazendo do mundo, ainda, um lugar melhor para se estar. Daí que esteja aqui, celebrando silenciosa e intimamente este momento, que representa os muitos momentos que ficaram para trás, mas que valem e valerão sempre a pena.

 

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