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A residência e os processos de Cláudia Lucas Chéu

No início do mês, Cláudia Lucas Chéu aterrou em Maputo para uma residência literária. Entre a expectativa e a perspectiva, logo nos primeiros dias, a escritora portuguesa começou a captar os cheiros, as imagens e os movimentos de uma cidade, até há semanas, quase desconhecida.
Esta é a sua primeira vez no continente africano, e, mesmo tão longe de casa, a poeta, escritora, dramaturga e argumentista, redescobre na capital moçambicana uma forma de escrever e de pensar o texto.
Nesta entrevista, Cláudia Lucas Chéu fala-nos, portanto, das razões que a fizeram concorrer à residência literária em Maputo, dos seus processos criativos e de pelo menos um futuro livro que se está a compor, aqui… onde o Índico é uma janela para o mundo.

 

Cláudia, como é esta coisa de vir a uma residência literária, em Moçambique?
Está a ser verdadeiramente surpreendente. É a primeira vez que venho a África, e a imagem que eu tinha antes é dos livros e dos filmes. Estou cá há mais ou menos 15 dias e noto que tudo é muito diferente da realidade da qual eu vivo em Lisboa, há muitos anos. Portanto, estou a tentar absorver o máximo possível, que é para, depois, escrever sobre isso. Eu tenho um tema definido, mas, desde que cheguei, decidi que não vou escrever sobre o tema que defini. Quero e estou constantemente a ser surpreendida por tantas coisas. Será muito mais rico o material que eu produzir, estando a absorver, aqui e agora, nestes dias.

Neste contexto de residência literária, pouco importa levar à escrita coisas de outros contextos, certo?
Exactamente! Sobre as residências, algumas coisas que eu pesquisei, muito interessantes e muito peculiares, são os manicures nas ruas. Esse era o tema principal para vir cá escrever. Entretanto, já vi tantas outras coisas interessantes nas ruas, que eu pensei: não vou fechar a baliza só à questão dos manicures.

Vai deixar o projecto de lado ou vai complementar?
Acho que vou complementar. Vou manter esse tema [dos manicures], mas eu tenho estado a escrever uma coisa que não planeei, um diário, que não escrevia desde os 15 anos.

E está a escrever um Diário de Maputo, não é?
Estou a escrever um Diário de Maputo, precisamente. Só o simples facto de estar a escrever à mão, o que não acontece há muitos anos (eu escrevo tudo no computador), parece que também estou a escrever com outro tempo. E o facto de estar numa residência literária, ter saído da minha casa, deixar a minha família, estar aqui sozinha, constitui uma experiência. Não só pelas diferenças em termos sociais e culturais, mas pelo próprio espaço em que estou sozinha para escrever e aqui criar uma outra possibilidade.

Por que se candidatou a esta residência que iniciou no dia 1 de Outubro e termina no final do mês?
Eu já tinha visto informação sobre esta residência há muitos anos. Todos os anos, eu via o concurso e pensava que iria concorrer. Só que tenho uma filha, que, agora, tem 11 anos. Durante bastante tempo, eu achei que não era uma boa ideia ficar um mês inteiro fora, longe da minha filha. Lá está, as tais responsabilidades e acessibilidade maternal. Agora, ela está no sexto ano de escolaridade e pensei que, se calhar, já era possível estar numa residência literária. Ou seja, eu só demorei a concorrer por causa da minha filha.

Sente que veio numa altura certa?
Sim, sinto que estou no timming certo, com esta agitação nas ruas, até por questões políticas. Parece que se juntou uma série de elementos certos para eu estar cá agora.

Como é que reagiu quando soube que o júri seleccionara o seu projecto?
Fiquei muito contente. Depois, comecei a planear e a pesquisar imenso. Conhecia muito pouco do país e da cultura. Mas também não quis criar demasiada expectativa digital porque queria ser surpreendida. Além disso, foi a parte logística, para perceber como viria e como faria com os trabalhos que deixaria um mês em Lisboa.

Há coisas de uma cidade que só se captam quando se caminha a pé. Sei que está a caminhar muito…
Eu ando muito a pé em todas as cidades. Acho que só se consegue perceber a pulsação da cidade, os cheiros e uma data de coisas quando andamos a pé.

Está a ter a oportunidade de conhecer/reencontrar autores moçambicanos nesta residência. No outro dia, foram Mélio Tinga e Mia Couto. O que significa para si este tipo de intercâmbio e o que espera que isso acrescente ao seu processo criativo ou à forma como pensa o espaço comum da língua portuguesa?
É muito interessante esta troca. Conheci o Mia Couto no outro dia, uma figura que admiro bastante. O facto de estar numa sala com ele, em Moçambique (não teria sido a mesma coisa se tivesse sido em Lisboa), é outra coisa. Acho que é algo do nível inefável, que não dá bem para explicar ainda. Acho que estou a ter umas experiências que ainda não consigo explicar muito bem o que estou a receber. Tenho a ideia que isso pode reflectir não só neste livro que vou escrever depois de ter estado aqui, mas também noutros textos que irei produzir mais tarde. Há coisas que ficam na nossa cabeça e que, em determinado momento da escrita, se podem revelar.

Há espaços que considera importantes e que eventualmente estão mencionados no seu projecto de residência literária em Maputo?
Um dos sítios que queria muito conhecer e que já lá estive é o Bairro da Mafalala, porque já tinha ouvido falar da mistura étnica, cultural e religiosa. Há muita mistura que me interessava ver. Uma série de figuras incontornáveis da cultura moçambicana viveu na Mafalala. Eusébio, Noémia de Sousa e tanta gente passou por ali. Eu queria ter essa experiência e sabia que lá havia muitos manicures, que vi numas casinhas pequeninas, a trabalhar. Aquilo que eu acho interessante é que, apesar da distância geográfica, a sensação que tive, quando estive no Bairro da Mafalala, é que é muito diferente da minha realidade, mas há ali um lado de pobreza extrema que eu conheço das histórias da minha família.

O que espera deixar e levar de Maputo quando a residência literária terminar?
Sinceramente, eu não sei. Não tenho uma resposta definitiva sobre isso. Estou completamente disponível, tanto ao nível da produção literária, como ao nível pessoal. O que acontecer será bem-vindo. Eu quero estar disponível para esse momento presente. Não quero já estar a processar informação que vou levar para casa.

Quer deixar-se surpreender pela sua própria criatividade?
Exactamente. Quando comecei a escrever à mão, agora, pensei que é bom estar num sítio em que estou a ter tempo de explorar o material que é novo, mas também a forma de escrever que pode ser diferente. Isso, para mim, está a ser estimulante.

Acredita, portanto, que irá voltar a Portugal com um projecto de livro diferente do que já publicou até aqui?
Tenho quase a certeza que sim. Até pela questão do tema. Tenho estado a escrever sobre temas que não escrevo habitualmente. Nos meus últimos livros, tenho questões feministas, identidades de género e identidade da mulher. E eu aqui não tenho escrito nada sobre esses temas.

ENTRE A CONFISSÃO E A MULHER SAPIENS

A propósito dos seus livros, o primeiro que li é Confissão, um exercício poético que revela a sua capacidade de escrever sobre famílias humildes e sobre situações difíceis. Acho que há uma espécie de revisitação da condição humana no que escreve. Por exemplo, neste livro, temos um sujeito que vai exprimindo os seus sentimentos, mas a partir de um contexto apertado da residência onde vive. Logo no princípio da leitura, notamos que não se trata de um apartamento num bairro nobre, antes pelo contrário. Aqui temos condições difíceis. É o seu passado familiar, no caso ligado às dificuldades por que passaram os seus avós, que a fez escrever desta maneira?
Para já, agradeço-te pela análise que acabaste de fazer. Esse comentário é quase uma análise do livro e, se queres que diga, das melhores que já ouvi. É muito interessante esse comentário. Sim, eu acho que há essa relação directa neste livro [Confissão], que é assumidamente autobiográfico e que vem na sequência de muitos outros livros que escrevi. Acho que esse podia ter sido o primeiro livro. A questão desse contexto apertado deu-me uma capacidade, desde muito cedo, de observar o contexto familiar que era mau, delicado, frágil, mas que, em criança, me permitiu ser uma cuidadora. Eu fui uma cuidadora e isso me permitiu ter um olhar exterior. Esse espaço de observação, que ganhei sem querer, na infância, porque tinha de estar atenta, reflecte-se, depois, em tudo o que eu tenho escrito. Acho que é uma característica fundamental de qualquer escritor, esse lado de observação. É triste para os autores porque não podem, no momento, estar a viver aquilo, porque estamos sempre de fora a analisar para, depois, escrever. Mas acho que essa característica, que está no livro, é minha, como pessoa e como autora.

Enquanto lemos Confissão, vamos notando uma espécie de inventário de imóveis e de sentimentos que nos conduzem a um contexto que parece amargurado.
Mas eu não senti que seja um ambiente amargurado. Pelo menos também não tem sido esse o feedback sobre o livro. Não é amargurado, não é angustiado. Eu acho que há aí um olhar lúcido sobre o que estava a acontecer. Pelo menos foi isso que eu tentei escrever.

Se calhar, a amargura passa para o leitor como consequência de alguma coisa com a qual se identifica.
Talvez seja. Mas essa é a questão da leitura. Metade de quem escreveu e metade de quem leu. Esse encontro é que é interessante. É muito engraçado isso que acabas de dizer. Uma vez, o Gonçalo M. Tavares disse-me que o livro era muito pesado, que passou mal quando estava a ler. Mas eu disse-lhe que o livro era aquilo que eu escrevi, mas a bagagem que ele traz para ler. Isso é engraçado porque algumas pessoas falam de uma espécie de catarse, porque o livro mexe com elas e expurga um bocado a sua própria angústia. Mas eu não senti nenhuma angústia quando escrevi o livro, porque isso é uma fotografia muito ficcionada. Vou fazer 46 anos e o sujeito do livro, supostamente eu, tem por aí 8 ou 9 anos. Entre as duas idades, vai uma camada muito grande. Portanto, já houve um processamento da memória.

Teve de fazer um exercício para a sua infância?
Não tive. Foi tudo muito fluido. Eu escrevi esse livro muito rápido porque tinha imagens muito claras, quando comecei a escrever. Portanto, gosto da escrita como um exercício de linguagem, de descoberta e de exploração. Às vezes, passamos por uma curva mais apertada ou por uma descida mais profunda, mas, para mim, a escrita não serve como terapia.

Confirma que é uma autora preocupada com a densidade do texto?
Sim, a densidade interessa-me. Para mim, a escrita só funciona com essa possibilidade de submersão em que não sabemos muito bem para onde é que nos vai levar. Eu sempre tenho confiança que me vai levar para um sítio escuro, mas que estou a iluminar naquele momento, com a escrita.

E vê-se como leitora dos seus livros?
Não, não quero nada ler os meus livros. O primeiro livro de teatro que publiquei, por aí em 2011, passado uns dois ou três anos, eu voltei a ler, que era para perceber… E conclui que eu não quero reler os meus livros, porque depois já gosto ou penso que poderia ter feito melhor, diferente. Seria estranho olhar para um texto que tem uns anos e achar que está bom. Eu já não sou a mesma pessoa que há 10 anos. Passaram-se tantas coisas, vi e vivi tantas coisas. Se eu estivesse a escrever igual, alguma coisa estava errada. Estaria a usar uma fórmula, seria um truque. Eu prefiro não ler.

O crítico francês, Gerard Genette, considera que a noite é muito mais fértil para os poetas do que a luz do dia. A Cláudia tem sempre esta necessidade de segurar numa lanterna para iluminar a escuridão. Sente que é uma autora da noite?
Em termos práticos e até ao nível de execução. É muito engraçado, eu sou uma autora da noite nos temas. Sem dúvidas. O tema da noite é aquilo que ocupa a minha obra. Mas, na prática, isso também mudou quando fui mãe. Antes de ser mãe, eu escrevia à noite e até pela noite dentro. Mas, desde que a minha filha nasceu, há 11 anos, os meus horários mudaram, porque é necessário outra logística. Portanto, comecei a escrever de manhã e a escrever à tarde também. E descobri um outro texto também por causa disso. O nosso cérebro é diferente de manhã ou à tarde ou à noite. Eu escrevo em vários registos literários: poesia, crónicas, dramaturgia, para televisão e várias outras coisas diferentes. Sei qual é o timming certo para cada coisa. Se calhar, daqui a alguns anos, a coisa muda. Mas, neste momento da minha vida, sei que, para escrever para televisão, tem que ser de manhã, que é quando o cérebro está mais rápido e tudo está mais claro na cabeça. Poesia? Eu acho que nunca escrevi um poema de manhã. Há um estado de espírito, uma melancolia, um silêncio que a manhã não me permite de todo. É quase tudo à noite. A prosa narrativa é no período da manhã e da tarde também. A noite eu tenho mesmo usado para a poesia.

Escrevendo todos os dias?
Todos os dias. Nem que seja um parágrafo. Eu encaro a escrita como uma actividade muito próxima do atletismo. Se eu quero correr uma maratona, tenho de correr todos os dias: um quilómetro ou dois quilómetros, senão não vou chegar a lado nenhum.

Ungulani ba ka Khosa, muitas vezes, diz que a escrita literária não se trata de uma corrida de sprint, mas de resistência.
De resistência, sem dúvida. Acho que todos os autores sentem uma progressão na escrita, precisamente, pela prática. Embora haja alguns autores que contrariam isto e só escrevem quando estão mais iluminados, no sentido de se sentirem inspirados. Eu digo aquilo que o Picasso dizia. A inspiração, para aparecer, tem de te encontrar a trabalhar. A frase não é exactamente assim, mas temos de estar sempre a trabalhar. De tal modo que nem sempre notamos a inspiração. Claro, há dias que não são tão fáceis. Há dias que dão uma página e há dias que dão 10 páginas. Quando escrevo para televisão, não há hipótese nenhuma de não estar iluminada. Tenho de escrever. Muitas vezes, depois fica aquém do que seria se tivéssemos mais tempo com outra possibilidade de escrever.

A fluição é mais na escrita literária do que na televisiva?
Acho que tem de fluir mais na escrita para televisão, porque há questões económicas que se levantam, há um prazo. Eu também escrevo para o teatro porque tenho uma companhia de teatro, em Lisboa. Nesse caso, sou sempre eu quem define os prazos. Tenho tempo para pensar no que vou escrever e reescrever durante os ensaios. Quando é um projecto em que sou convidada, por exemplo, para escrever uma telenovela, como já aconteceu, uma série de televisão, o que acontece é que aquilo tem um prazo que eu não defini. Eu tenho de estar ao ritmo e, às vezes, é muito difícil, porque nem sempre há uma boa ideia, o texto não está a correr bem. Mas há uma pressão enorme porque o texto tem de ficar feito. Então, há sempre uma frustração na escrita de televisão porque aquilo nunca ficará como poderia ficar…

Gosto muito do título O prazer do texto, de Roland Barthes. Há casos em que escreve e não sente esse prazer do texto?
Já me aconteceu imensas vezes, mas nunca num projecto literário. Nos projectos televisivos, isso já me aconteceu imensas vezes. O texto tem de ser fechado, o texto está comprado e, portanto, tenho de fazer esse trabalho. Mas não estou satisfeita com o produto final, embora, muitas vezes, as pessoas estejam satisfeitas com o produto.

É autora de Beber pela garrafa. Este livro possui uma afinidade temática com Confissão. Por exemplo, a família. É também nesse registo temático que gosta de trabalhar?
O tema da família é o que tenho explorado muito. Gosto desse tema e acho que a família é a coisa mais complicada que nós inventamos. É o primeiro modelo social e, depois, todos os outros foram reprodução desse modelo. Mas as ligações existentes em modelos familiares são laços muito complexos. Do ponto de vista da literatura, é muito interessante explorar e é um tema inesgotável. Há aí todo um leque que, depois, pode traduzir em questões económicas e sociais. A família, para mim, é a essência de tudo o resto.

A que se deve a oscilação entre textos mais densos e estrofes mais curtas, neste livro?
Aqui temos poemas à dose e acho que os últimos poemas que escrevo são cada vez mais curtos. Provavelmente, é a minha capacidade de síntese, com a idade. Estou a ficar mais sintética.

Entrega-se tanto ao poema que, quando está a terminar, tem de ficar mesmo assim…
Fica mesmo assim. Porque muitos desses poemas, tal como acontece nos meus outros livros, a forma já aparece exactamente como vou escrever. Há uma imagem e um verso. Portanto, o poema já vem um pouco fechado. Ao acordar, por exemplo, há uma imagem que tenho de registar. Depois, tentamos fazer com as palavras aquilo que queremos.

Podemos dizer que, no seu caso, a imagem é anterior ao verbo?
É anterior ao verbo, sem dúvida. Essa pergunta é muito interessante! Sei que nem todos os autores funcionam da mesma forma. Quando estou a escrever prosa narrativa, sinto que tenho um espaço, como se estivesse a entrar num quarto ou numa sala. Esse espaço mental é que me permite escrever o texto. Cada livro corresponde a um espaço onde eu escrevi, um espaço mental.

A literatura pode servir para chorar uma ausência?
Para chorar, não. Para pensar, digerir uma data de coisas que, se calhar, fomos obrigados a engolir. Acho que a literatura pode ajudar a fazer essa digestão. Não é obrigatório que o faça, mas pode ajudar.

No poema “As ideias são contagiososas”, neste Beber pela garrafa, temos os seguintes versos: “Nunca subestimar o mal que se propaga/ face ao bem que raramente contamina”. O bem está cada vez mais distante?
Essa é a minha própria ideia, que é um pouco pessimista sobre a questão da bondade e do bem entre os homens. Acho que o ser humano tem uma capacidade muito reduzida de ser bondoso naturalmente. O nosso instinto basilar não é o bem. O bem, eu acho, é uma coisa que temos de treinar, exercitar. Rapidamente fazemos coisas más, fazemos coisas más uns com os outros, somos invejosos. Há muitas coisas que eu acho que, naturalmente, o ser humano não tem. Esse poema está relacionado com isso, com a minha própria visão de nós não sermos naturalmente bons. Acho que nenhum de nós é naturalmente bom. Quando aparece alguém que é muito bondoso, ficamos surpreendidos e perguntamo-nos se não há nele algum interesse. Portanto, se nós fôssemos naturalmente bons, não estranhávamos. E quando aparece alguém que é mau, é uma coisa normalíssima. Não sentimos nenhuma estranheza com isso.

Pus-me a sorrir quando tive este seu livro, A mulher sapiens. É uma provocação?
É uma provocação, claro. Inclusive já tive críticas a esse livro, por causa do título. Obviamente que o Homem sapiens é o homem e a mulher. Esse título é uma provocação, e eu continuo a escrever muito sobre os temas da mulher no contexto no qual eu vivo. Este livro é uma reunião dos vários textos que escrevi para o jornal Público. Em Janeiro, sai um novo livro que também é uma compilação dos textos que escrevi nos últimos dois, três anos.

A primeira frase, quando se trata de narrativa, é determinante para si?
A primeira frase, para mim, é o trampolim para, depois, começar a escrever o texto. Às vezes, desisto depois de escrever quatro linhas porque a primeira frase não é esse catalisador suficiente para, depois, escrever o texto inteiro.

E o que significa a última palavra de um texto?
Essa pergunta é muito complicada. Pode significar várias coisas. Pode significar que já não tenho mais nada a dizer sobre aquele assunto; pode significar que eu queria dizer mais, mas não sei ou não consigo ou pode significar que, de facto, eu quero encerrar aquele assunto. É uma pergunta muito interessante! Nunca tinha pensado sobre isso.

Sugestões artísticas para os leitores do jornal O País?
Sugiro Um cão no meio do caminho, de Isabel Figueiredo, e Niketche, de Paulina Chiziane.

Perfil
Cláudia Lucas Chéu é escritora, poeta, dramaturga, argumentista e professora portuguesa na Universidade de Évora e na Escola Superior de Comunicação Social. Tem publicados textos para teatro: Glória ou como Penélope morreu de tédio (2011) e Violência — fetiche do homem bom (2013), nas edições Bicho-do-Mato/Teatro Nacional D. Maria II; A cabeça muda (2014), na Cama de Gato edições; e Veneno (2015, Colecção Curtas da Nova Dramaturgia – Memória), edições Guilhotina.
Em prosa poética, publicou o livro Nojo (2014), na (não) edições. Em poesia, publicou Trespasse (2014), Edições Guilhotina e Pornographia (2016), Editora Labirinto. Em 2017, foi publicado o seu livro Ratazanas (poesia), pela Selo Demónio Negro, em São Paulo (Brasil). Publicou, em 2018, o seu primeiro romance Aqueles que vão morrer, Editora Labirinto, e Beber pela garrafa (poesia), pela Companhia das Ilhas.
Também é autora de A mulher-bala e outros contos, Editora Labirinto, 2019; Confissão (poesia), Companhia das Ilhas, 2020; A mulher sapiens (contos e ensaios), Jornal Público e Companhia das Ilhas, 2021; A vida mentirosa das crianças, Nova Mymosa, 2021; Ode triumphal à cona (poesia), Companhia das Ilhas, 2022; e Orlando — tratado sobre a dignidade humana (dramaturgia), Teatro Nacional D. Maria II, 2022.
Acaba de ser editado, em 2023, o ensaio A angústia da rapariga antes da faca, Nova Mymosa. O livro Confissão encontra-se publicado no Brasil (editora Reformatório) e foi semifinalista do Prémio Oceanos, em 2021.
Vencedora da residência literária em Maputo, 2023, em televisão escreveu em equipa várias telenovelas e séries para a RTP1 e SIC. Fez parte da equipa de argumentista que ganhou um Emmy Award com a telenovela Laços de sangue.

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