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A morte do curandeiro

Bava Mugubuzi. Assim chamavam o grande curandeiro da aldeia Gubuzi. Homem cheio de dinheiro, esposas, hortas, gados e empresas, mas tudo era diabólico.

O homem julgava ser Deus poderoso porque tratava doenças jamais vistas e impossíveis de curar nos hospitais.

A sua casa virou um parque turístico, pois recebia gente de todas as cores e com bolsos gordos. Com o seu fanático poder, dava e tirava riquezas.

Certa manhã, sentado em sua palhota, a preparar remédios e a arrumar as suas vestes no seu mutundu, cesto especial para curandeiros, chegou um jovem e, já na entrada, bateu as mãos “tokoza, tokoza, bava”. O curandeiro respondeu e permitiu que ele entrasse.

O jovem falou ao curandeiro que sentia dores estranhas e sua vida era um desastre. O xamã pediu uma moeda antiga e junto do seu tihlolo fez um movimento, apontou num objecto e disse ao desesperado: foi uma mulher que lhe causou esses males. Leva essa vela e remédio. Acenda a vela e aplica o remédio, depois, gira em torno da mesma por duas horas. O homem saiu satisfeito e fez tudo conforme fora dito.

A sua vida melhorou. Passado um mês, o servidor dos espíritos ficou muito doente, mal conseguia levantar, as suas esposas, que também eram xamãs, cuidaram-lhe e tentaram invocar espíritos para salvar o marido, mas não tiveram sucesso, pois, somente ele era poderoso. Deram-lhe ervas para aliviar a dor, mas só surtiu por apenas duas horas.

Nesse tempo, o servidor tentou entrar em contacto com as divindades, mas não lhe respondiam. Certamente, o seu poder já não existia, então, a morte começou a aproximar-se. Ele ficou muito mal, as suas mãos perderam movimentos, a sua vida tornou-se um inferno, mal dormia porque os espíritos já não viam utilidade e o melhor era levá-lo ao fogo de enxofre.

Num instante, ele perdeu o ar e o lenço preto foi estendido. Ele já não fazia parte deste mundo. A aldeia ficou surpresa com a notícia de sua morte porque também acreditava que ele era imortal.

Uma multidão de curandeiros chegou e começaram com os rituais, um espírito saiu e disse que precisaria de um substituto, então saiu outro que exigiu que se fizesse uma bebida espirituosa e mais outros surgiram fazendo pedidos extremamente infernais. Aquela noite foi marcada por batuques e danças dos xamãs.

Dia seguinte, ao nascer do sol, em sua casa, realizou-se o velório ao som do tingoma. Depois de meia hora, direcionaram-se ao embondeiro onde se realizaria a cerimónia fúnebre.

Os grandes curandeiros colocaram o cadáver do curandeiro no xigaru, cadeira especial de xamãs, posteriormente colocaram-no sentado na mesma dentro de uma cova e em sua mão amarraram o xitlihu com a crença de que serve para se proteger, picar e afugentar os que lhe fizeram e fizessem mal.

Após tampar a cova, fizeram uma casinha por cima, enquanto isso o som do macomani não paravam.

Três horas depois, regressaram a casa do falecido, onde continuaram com a cerimónia até à madrugada. O que ninguém sabia é que o funeral ainda estava no início.

Dia seguinte, os que ali estavam, acordaram pelo grito das cinco viúvas que não paravam de manifestar, kuhumeliwa. Nessa manifestação, correram até à grande árvore do sepúlcro, todos que as seguiram não acreditaram no que viram. Era o curandeiro morto fora da casinha e consequentemente fora da cova. Este estava ainda no xigaru e com a azagaia na mão. Daí invocaram espíritos. Estes disseram que uma das esposas, a mais nova, devia levar refeições e deixar no embondeiro todas as madrugadas, o filho mais velho devia lhe substituir e todas as suas esposas deviam fazer o seu trabalho de nyanga em sua palhota.

Depois da invocação, procedeu-se o último funeral e tudo correu conforme disse o espírito.

 

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