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“A importância do conhecimento está no facto de dar liberdade a mulheres e homens”

É Doutorada em Antropologia Social pela Universidade da Witwatersrand, Joanesburgo, na África do Sul e ocupa actualmente o posto de vice-Reitora Académica na Universidade UniZambeze.  Entre outras acções, elaborou o Programa Quinquenal de Género da Universidade Zambeze sob o título:Termos do Empoderamento: As Mulheres e a Universidade em Moçambique.

Docente de carreira, de 2015 a 2016 leccionou as cadeiras de “Introdução  à Antropologia” e “Metodologias de Investigação”. Ainda em 2015, foi a Construtora e Supervisora do 1o. Congresso da UniZambeze com o tema: “Género e Segurança Alimentar pela Sustentabilidade de África Austral”. Em 2016, leccionou a disciplina de “Antropologia de Projecto” na Universidade Piaget aos doutorandos em Ciências de Educação. No corrente ano, é docente do módulo sobre “Comunicação Intercultural” aos mestrandos em Línguas, Literatura e Culturas.

Vai ser oradora no Mozefo 2017 no painel que vai discutir “Conhecimento como Acelerador da Igualdade do Género”.

 

Que importância tem para um país em vias de desenvolvimento como Moçambique um Fórum como o MOZEFO?

O MOZEFO, de acordo com o nome, constitui uma plataforma, um pensar conjunto, que conduz a uma clareza sobre tudo o que pensamos ser inalcançável. Significa caminhar com mais leveza, porque somos muitos a carregar o mesmo desafio de alcançar o desenvolvimento sustentável através de um diálogo  participativo. Hoje, tudo está  ao nosso alcance, não  mais se descobre a pólvora, e isto acontece porque somos muitos a pensar o mesmo em épocas e momentos diferentes. Um país em vias de desenvolvimento como Moçambique terá a possibilidade de queimar as etapas, ou seja, em muito pouco tempo ser capaz de realizar o que levaria muito tempo se tivesse que pensar e fazer sozinho. O mais importante em tudo isto é o facto de cada um entender que tem responsabilidades no processo de desenvolvimento, que cada um saiba que o seu pensar é bastante significativo para completar o que o outro pensa e quer pôr em prática pratica. Não existe os que têm a responsabilidade de pensar e fazer o desenvolvimento e os outros cuja responsabilidade é usufruir do resultado do trabalho árduo dos outros. Todos os cidadãos, mulheres e homens, ao seu nível, têm as mesmas responsabilidades.

 

A Doutora Ana Piedade Monteiro será oradora no painel com o tema: “O Conhecimento como Acelerador da Igualdade de Género”. Que expectativas tem deste tema e que mensagem a UniZambeze pretende passar?

A expectativa seria de perceber que os moçambicanos, representados pelos  participantes directos do evento, estão conectados sobre questões de igualdade e equidade de género. Estarão mais conectados, se todos tiverem a visão de que género não quer dizer mulher ou homem, que género reflecte formas de relacionamento entre homens e mulheres com impacto egoísta de tudo para mim, pois o fundamental sou eu e mais ninguém. O eu que me refiro aqui tem que ver com o facto de nestas relações somente um grupo social se sentir no direito de se beneficiar e ser detentor de todos os poderes e recursos e uma maioria significativa ser reconhecida como  grupo marginal, como é o caso das mulheres. Nós as mulheres moçambicanas e as do mundo inteiro estamos cientes de que cada uma de nós tem o seu tempo determinado neste mundo, ou seja,  que todos estamos de passagem e que cada um ou uma tem a responsabilidade de usar de forma correcta o tempo que tem neste mundo. E por isso, as mulheres não devem ser vistas como as que somente têm obrigações. Mais do que isso, elas têm direitos inalienáveis como parte integrante da sociedade e que ninguém tem o direito de os usurpar. A frustração de não poder colocar o prato de comida para família é igual, não importa se homem ou mulher, o sentir-se infeliz por ser pobre não tem sexo, assim como não tem sexo o dormir debaixo da ponte e muito mais.

Contudo, marca diferença se sou descriminada porque sou mulher e infelizmente esta descriminação muitas vezes não é necessário ser se analfabeto para que a sintas, e nem tão pouco pelo facto de ser subalterna. Trata-se de questões complexas que precisam de uma desconstrução permanente e por isso dou os meus parabéns à SOICO por ter construído esta plataforma com o objectivo de criar debates tão ricos sobre temas que ajudam os cidadãos a libertar-se da penúria intelectual a que estão sujeitos e sugiro ao MOZEFO para que não se canse de trazer estas temáticas para um debate contínuo.  As questões culturais, sendo parte de homens e mulheres, mesmo elevando cada vez mais as assimetrias e hierarquias sociais com base no sexo pondo a descoberto o factor historicidade, assim como a possibilidade de sua transformação e transcendência, não se pode esperar que possam ser removidas de um dia para o outro, porque são intrínsecas do ser humano.

A nosso ver, é aí onde reside o papel das instituições de ensino, sejam do nível primário, secundário ou terciário de que a Universidade Zambeze é parte, que é o de garantir que o conhecimento seja transmitido de forma igual e equitativa para mulheres e homens.

 

O Conhecimento é o grande tema de debate desta edição do Fórum. Qual a importância que o Conhecimento pode ter no processo de desenvolvimento das nações?

Para falar da importância do conhecimento, começaria por dizer que as dimensões económica, política, social e cultural falam por si e são o motor do desenvolvimento das nações. O ser humano, indivíduo em crescimento constante, precisa de auxílio do mundo externo para seu desenvolvimento interno. E, nesse processo, ser colaborador activo  na construção da sociedade. E ninguém pode ser excluído de participar nesse processo. Não existe nação sem sociedade. A humanidade, como se observa até hoje, se vê sempre cercada de processos de dominação, fruto de intervenções  equivocadas de alguns, em detrimento da ignorância de muitos, e esses equívocos sempre de uma maneira ou de outra puseram em causa o desenvolvimento da sociedade no contexto das dimensões que aqui fiz referencia. Nos países em vias de desenvolvimento e Moçambique não é excepção, o conhecimento ainda é um produto a que poucos têm acesso, em particular as mulheres, impedindo que o ser humano construa a sua liberdade intelectual, participando de forma construtiva em todos os processos à sua volta e permitindo que tenha autonomia de agir em sua vida. A importância do conhecimento reside nessa possibilidade de mulheres e homens adquirem a sua liberdade intelectual através do grande exercício de aprendizagem.

 

 

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