De repente apareceu uma criança no palco. Chamam macacão aquela peça de roupa que havia vestido. E o que levava à cabeça, peruca. Só podia ser uma menina, e a ideia quase vincou quando os passos de dança, mesmo ao estilo feminino, começaram a fazer algum sentido rítmico. O público, como que apanhado de surpresa, meio a despertar de uma distração, apercebeu-se que não estava nenhuma menina coisa nenhuma naquele instante, no palco do Cine Scala, quando Kayane Machavane alegrou o semblante. Então, reconheceram-lhe o sorriso e, de seguida, os aplausos começaram de forma coordenada.
À sétima gala do concurso infantil, Kayane Machavane dançou ao som de Melancia de Moz. Na verdade, o pequeno dançarino inspirou-se naquela cantora, daí ter-se vestido de menina, mas com uma peruca de mulher. O sucesso também nisso teve razão de ser. No entanto, o essencial foram realmente os passos. Tendo concorrido na edição inaugural do Mozkids Talents, a certa altura desta segunda, chegou a parecer que o menino estava esgotado em termos criativos. O júri criticou-lhe muito pela repetição do estilo de dança que levava às galas. Então, a partir da quinta gala começou a ver-se um outro dançarino, que inclusive soube dançar marrabenta e variar o ritmo. Nada que se compara ao que o menino fez na sétima gala. Sem exagero, nunca se tinha visto nada parecido nesta segunda edição. Enquanto Kayane esteve no palco, o auditório aplaudiu do princípio até ao fim da actuação. E o júri não ficou indiferente. Primeiro levantou-se Dudas Aled, entre sorrisos. Depois, Maria Helena Pinto e Dadivo José fizeram o mesmo. Até aí, as palmas ensurdecedoras acompanhavam os passos do miúdo. E quando pareceu que tudo estava feito, Kayane foi buscar ao xigubo um fecho de alto nível. Pulou um metro e de lá deixou-se cair sentado. Quase todo o Scala levantou-se num ímpeto. Palmas. Gritos. E mais palmas para Kayane Machavane. Actuação incrível. 30 pontos do júri e uma senhora orgulhosa: Janina Machavane, a mãe do dançarino. Durante o espectáculo, a apoiante lá de casa disse que se sentiu como se fosse ela a actuar no palco.
Outra grande performance da sétima gala foi a de Carla Timbane. A menina declamou textos acutilantes e relevantes enquanto esteve no concurso. Há uma semana, a menina que recita seus próprios textos, os quais compõe com o irmão mais velho, levou ao palco do Mozkids Talents o drama das viúvas em verso. Nesta sábado, continuou no mesmo rigor temático, catártico, como nenhuma outra criança consegue nesta edição do concurso. Carla declamou um poema sobre as mães que depois de tanto sofrerem pela educação dos filhos, mais tarde, são acusados por estes de feitiçaria. Performance exemplar de Carla Timbane, menina que dá à poesia o seu melhor: o peso da palavra dita, a imagem e a emoção, desconstruído a ideia gasta de que declamar é gritar.
Ainda na poesia, mereceu destaque Elisa Senguele. A menina que leva muito jeito para cantar declamou “Súplica”, de Noémia de Sousa, intercalando com o canto de “Os meninos de Huambo”. Dos 30 possíveis, Elisa obteve 28 pontos do júri e garantiu a passagem para final.
No teatro, a dupla Riaz e Wanda voltaram a convencer, depois de estarem mal há uma semana. Os actores levaram ao Scala um tema sobre a pirataria à volta dos discos de música na cidade de Maputo. Inclusive não faltou a personificação de um polícia municipal incorruptível.
Quanto ao canto, Bruna Morais continua a realçar o seu talento. Sempre em inglês, a menina interpretou Tina Turner, e arrepiou. Por isso, conseguiu obter a pontuação máxima do júri.
Por fim, o grande destaque dos instrumentos musicais foi a violinista Kiyone Sigaúque, muito empolgada na recriação do cancioneiro musical moçambicano.
OS FINALISTAS
No próximo dia 7 de Setembro, a partir das 12 horas, na Arena 3D, na Katembe, realizar-se-á a final da segunda edição do Mozkids Talents. Na derradeira gala desta iniciativa da Stv, em parceria com a Dstv, Gotv e com apoio da Movitel, apresentar-se-ão 23 concorrentes. Eis a lista das crianças apuradas. Dança: Kayla Muianga e Kyara Manjate, Naima e Nazira Tuahir, Ezaly Assura, Alisha Francisco e Kayane Machavane; Poesia: Elisa Senguele, Flórida Guambe, Romena Zunguza, Shantel Maculuve e Luísa Sambo; Teatro: Charlise Khan e Yunat Dengo, Nicole Thayla e Gina Michavão, Riaz Trindade e Wanda Zango, e Tamirys e Toivo Chiluvane; Canto: Rindzela Novela, Bruna Morais, Mayda Horácio, Maria Teresa e Stefanny Mulumba; Instrumentos musicais: Shanikwa Boene, Stefanny António, Kiyone Sigaúque e Jorge Mbie.
Para os parceiros, disse Juvenal Armazia, representante da Dstv e Gotv, a segunda edição do Mozkids Talents é uma aposta acerta porque, conforme se pretende, tem contribuído para a descoberta de talentos.